Revoltados com o resultado das eleições do último domingo (30), grupos bolsonaristas de Resende, cidade de 133 mil habitantes (estimativa/IBGE), criaram uma lista de boicote a empresas, microempresários, e profissionais liberais que teriam declarado apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito presidente do Brasil pela terceira vez.
A lista, com mais de 30 nomes de empresas e estabelecimentos, está sendo divulgada nas redes sociais, principalmente em grupos do WhatsApp. O pedido é que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) não comprem nestes locais. Foi na cidade que o presidente se formou na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Em Resende, no segundo turno, Bolsonaro foi escolhido por 44.732 eleitores (61,86%), enquanto Lula por 27.584 (38,14%).
O advogado Davi Farizel, que teve o seu escritório incluído na lista, explica que, quem compartilha lista de boicote está cometendo crime e pode ser responsabilizado na justiça civil e penalmente, sendo obrigado a indenizar as empresas prejudicadas. "O caso pode ser enquadrado como crimes contra a honra e contra as relações de consumo, difamação e indenização por danos morais".
Segundo ele, as empresas prejudicadas se reuniram para tomar as providências cabíveis como o registro na Polícia Civil, a fim de identificar e punir quem está praticando o crime. "O voto no Brasil é obrigatório. É inadmissível que alguém seja penalizado em qualquer esfera, mesmo social, por exercer um direito sagrado na nossa democracia. Quem faz isso expõe a risco não só empresas, mas famílias, patrimônio e integridade física de alguém que passa a ser alvejado e perseguido por fanatismo político", reforça.
A Câmara de Dirigentes Lojistas de Resende e Itatiaia (CDL) e a Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e Serviços de Resende (ACIAR) manifestaram repúdio contra a prática. "As entidades são apartidárias e têm como objetivo estatutário a proteção e desenvolvimento do comércio e indústrias locais. Estas atitudes violam direitos fundamentais e constituem crimes contra a honra e as relações de consumo", diz a nota assinada pelo presidente da CDL Resende e Itatiaia, Victor Gonçalves, e pelo presidente da ACIAR, Raed Jawdat Ezzat Ali.
O Sindicato do Comércio Varejista de Resende e Itatiaia (Sicomércio) também reforçou o repúdio às atitudes de segregação e boicote a estabelecimento comerciais por motivos políticos e partidários. "Deve-se lembrar que a democracia é um valor que, para ser materializado, precisa ser praticado, e não apenas enunciado e debatido abstratamente. Não basta proclamar-se democrático. É preciso demostrar, com ações, o respeito da comunidade, principalmente acatar o que dispõe nosso constituição".
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