Centro de Formação Artística tem o formato de Onda
Centro de Formação Artística tem o formato de OndaDivulgação
Por Bruno Pirozi
Rio das Ostras - Por que Dorival Caymmi se inspirou quando olhou pela primeira vez o mar de Rio das Ostras? Alguns relatos contam que sentiu saudade da Bahia e por isso compôs canções populares imortalizadas pelo cancioneiro brasileiro. Não à toa, um dos mais importantes músicos do Brasil ganhou em 2020 uma estátua de bronze instalada na praia do Bosque. Seria Caymmi um visionário? Teria ele sentido que a Vila de Pescadores se tornaria uma respeitosa cidade da Música?
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco viria reconhecer este título em 2019, quando selecionou Rio das Ostras para concorrer ao título de Cidade Criativa da Música. Não foi por um acaso, já que o Município exporta uma leva de bons músicos, incentiva a formação técnica e abre espaço para o mercado de trabalho deste setor, que não acontece, apenas, por músicos, mas por toda uma cadeia de profissionais que vai desde iluminadores, até roaldies, camareiros, maquiadores, luthier, entre outros.
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FORMAÇÃO - Prova disso é o Centro de Formação Artística de Música, Dança e Teatro. Carinhosamente chamada de “Onda”, por ter ser na fachada a “silhueta” da água em movimento de onda, a escola técnica foi inaugurada em 2002. A unidade, mantida pela Fundação Rio das Ostras de Cultura, forma cerca de 30 alunos todos os anos em instrumentistas de sopro, cordas, percussão, piano, teclado e também canto. São quatro anos de ininterruptos estudos que garantem profissionais de nível para atuarem como professores, compositores e arranjadores. De lá saem músicos que podem atuar em diversas frentes.
“O músico não é só aquele que vai tocar na noite. Esta boa formação é que vai mandar profissionais para arranjar músicas para cinema, teatro, publicidade, orquestras, trilhas e por aí vai. O campo musical é muito mais amplo. Este setor precisa ser olhado de forma mais ampla, considerando que um eletricista vai dar suporte a um iluminador de palco, um carpinteiro pode trabalhar com um cenógrafo, um maquiador pode ajudar o fotógrafo. Todos podem viver da arte. Então, formar tecnicamente um músico é fortalecer toda a cadeia produtiva deste setor”, contou Cristiane Régis, presidente da Fundação Rio das Ostras de Cultura.
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Um dos músicos mais reconhecidos na cidade é o flautista/saxofonista Luiz Felipe Oliveira. Desde a infância, o artista já tinha desenvoltura com o instrumento e a “onda” foi sua primeira casa de formação.
“A base da minha formação musical foi no Centro de Formação Artística onde tive ótimos professores que me preparam bem para o vestibular em música. O espaço tem um papel importante para a formação e profissionalização de artistas. Ser coordenador, hoje, da área musical da Escola me dá muito orgulho. Fui estudante básico e técnico, e professor entre 2014 e 2016. Agora, contribuo como diretor. Hoje sou mestre em Educação Musical pela UFRJ, formado em licenciatura em Música, pelo Conservatório Brasileiro de Música”, contou Luiz Felipe Oliveira.
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Quem também passou pelo Centro de Formação foi o guitarrista Paulinho Moreira, que começou sua carreira em Rio das Ostras e se despontou no cenário nacional com a banda Jamz. Hoje, o músico é um dos sócios da Like Produtora, que trabalha com a carreira de diversos artistas.
“A Onda foi e continua sendo muito importante para a formação artística da cidade. A escola abre portas para o aluno que deseja ter um aprendizado sólido para atuar no mercado profissional”, disse.
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JAZZ & BLUES - O “fervo” do interesse pela boa música lançou a cidade para o cenário internacional por meio do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, que em 2019, executou sua 17ª edição. De forma bem tímida, o evento nasceu da vontade de ampliar o Rio das Ostras Instrumental, projeto que trazia para a Cidade os melhores músicos instrumentais do País para shows mensais nas areias da praia de Costazul. O interesse do público cresceu tanto que ao longo do tempo o pequeno projeto virou o Festival e ganhou quatro palcos: Concha Acústica, no Centro, Anfiteatro da Lagoa do Iriry, pedra da Praia da Tartaruga, e na Área de Eventos de Costazul, onde há uma série de shows internacionais e brasileiros. Ainda neste espaço fica a Casa do Jazz, com apresentações de artistas da região com músicas de estilo autoral, instrumental e arranjos mais alternativos.
Artistas da Cidade têm a possibilidade de tocar no mesmo palco que os grandes nomes internacionais. Músicos se tornam expectadores e atrações ao mesmo tempo. Uma mistura perfeita em um Festival totalmente gratuito, feito para democratizar o estilo ainda tão elitizado no Brasil.
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Entre os nomes de peso já passaram Al Jarreau, Stanley Jordan, Celso Blues Boy, Vox Sambou e Pepeu Gomes. São, no mínimo, cinco dias de eventos, que traz na cenografia uma lembrança de New Orleans.
“Desde sua criação, em 2003, o Festival realizou mais de 550 shows, 100 palestras e workshops somando mais de um milhão de espectadores, mantendo-se fiel à sua proposta inicial, que é focada em formar público, alavancar o turismo, gerar renda, atrair negócios, ofertar cultura, democratizar o acesso ao bem cultural, por meio de sua total gratuidade. Além de fomentar a economia, por meio de sua continuidade, comprovado por estudos feitos pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Sebrae. Os dados mostram que o Festival já chegou a injetar cerca de R$ 9 milhões na economia local, em quatro dias de evento”, disse Stenio Mattos, responsável pelo casting do evento.
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Considerado o maior evento da baixa temporada, a última edição realizada do Festival de Jazz & Blues, em 2019, movimentou cerca de R$ 5 milhões nos setores que vivem de turismo, entre pousadas, hotéis, restaurantes, postos de gasolina, mercados, entre outros. Os números foram divulgados pelo Sebrae-RJ.
ROCK – Mas se tem um estilo que anda em alta em Rio das Ostras é o rock and roll. Várias bandas de garagem ensaiam toda semana para apresentações nos Motoclubes da Cidade e aguardam ansiosamente para a chegada do Ostrascycle – Encontro Internacional de Motociclistas, que acontece sempre no último final de semana de março. Motos estilizadas e uma grande feira de produtos do setor estimulam amantes das duas rodas e do som pesado do metal a ficarem uma semana na Cidade.
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Segundo dados da Prefeitura de Rio das Ostras, são mais de 70 horas de rock numa ampla estrutura que inclui bares, restaurantes, food trucks e lojas de artigos. “Certamente é o segundo maior evento da cidade, tanto em termos culturais por causa da música, que movimenta as bandas locais que tocam o ano todo no Município, quanto de economia”, disse Aurora Siqueira, secretária de Desenvolvimento Econômico e Turismo.
Para o guitarrista e cantor Luan Schuenckel, Rio das Ostras foi o lugar que ele se encontrou para desenvolver seu trabalho. “Eu vim da serra fluminense. Apesar de lá ter faculdade de música não tem essa abertura grande para o músico. Tanto aqueles que querem viver de shows, quanto para os que dão aula ou desenvolvem outras frentes. Foi aqui que me ‘joguei’. Hoje fiz meu nome e tenho meu grupo de alunos, uma agenda boa de shows, clipes e prêmios por meio de editais. Hoje em dia, vivo dignamente por causa da música. Mas eu fui atrás para me qualificar. Fiz faculdade e já estou na pós-graduação”, disse.
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CASAS – Por onde se anda em Rio das Ostras é possível encontrar alguém tocando, cantando. Trabalhando na profissão de músico. Seja nos quiosques, pizzarias, bares, ou pelos locais “lado B”.
É o caso da Taberna da Amendoeira e da Confraria do Jamelão. Feitos para abrir espaços para músicos chamados de “Lado B”, quem frequenta sabe que é garantia de apreciar música que foge ao padrão. No local é possível encontrar e curtir todo tipo de arte, poesias, leituras, rodas de conversa, cinema, quadros, troca e vendas de discos, entre outros.
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A Taberna da Amendoeira já participou do documentário ‘Joel Barcellos - Juventude Acumulada’, está no Mapa da Cultura do Rio de Janeiro e também sediou o projeto ‘Jazz não Jaz’, na última edição do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, em 2019.
“Vi muitos músicos surgirem aqui na Taberna. Nunca os podei. Sempre deixei eles muito à vontade para mostrar suas letras, arranjos e canções desconhecidas e também de artistas conhecidos. E foi assim que colaboramos para lançar muitos deles”, contou Regina Muniz, proprietária da Taberna.
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“A Taberna é nossa casa. Muitas vezes a gente sai de algum lugar que estávamos tocando para terminar a noite lá, com a Regina e Marcinho. Eles sempre nos deixam a vontade. Lá a gente pode apresentar todas as nossas autorais e ainda é possível ouvir músicas que saem do circuito da grande mídia. Blues, jazz, chorinho, instrumental. Tudo tem por lá”, relata a cantora Micha Devellard.
OUTROS – Durante todo o ano, músicos têm bons espaços de apresentação, como o Festival de Frutos do Mar, Sesc Verão, Festival Cover, Projeto Soul da Casa, que acontece no Teatro Popular, Festival de Marchinhas, Festival de Música Autoral, entre outros.