Por clarissa.sardenberg
Rio - Procuradores da Operação Lava Jato no Rio falaram, na manhã desta quarta-feira, sobre as denúncias contra Sérgio Cabral e outras 11 pessoas na operação Calicute. A denúncia apresentada tem 21 crimes praticados pela organização criminosa, entre eles, lavagem de dinheiro, que era "altamente sofisticada". O ex-governador era quem chefiava um esquema de corrupção e recebimento de propinas envolvendo a empreiteira Andrade Gutierrez.
Sérgio Cabral e Adriana AncelmoPaulo Araújo

O procurador da República Lauro Coelho Júnior falou sobre solicitações de propina feitas por Cabral, juntamente com seu ex-secretário de governo Wilson Carlos. Segundo ele, as "mesadas" do ex-governador estão relatadas em uma planilha que mostra 5% de exigência para contratação de obras públicas. 

"A propina devida era de R$ 13 milhões. Acerto era pagamento de 5%, mas o que era devido era 5% sobre o que o governo do estado faturou em favor das empreiteiras. Chamo a atenção para uma planilha apresentada por um colaborador da Andrade Gutierrez, que tem toda aquela detalhada. Foi comprovado pericialmente que essa não sofreu nenhuma alteração depois de 2012", disse Coelho Júnior. Há uma estimativa, já conhecida, em relação às três principais obras — Pac Favelas, Maracanã, Arco Metropolitano, no valor de R$ 224 milhões. 

Entre 2007 e 2011 foram feitos 20 pagamentos mensais em espécie e uma doação de campanha em 2010, pelos serviços da Andrade Gutierrez ao governo do Rio. A propina ultrapassou o valor de R$ 7 milhões.

Segundo o procurador Eduardo Ribeiro Gomes El Hage, o esquema de lavagem de dinheiro comandado por Cabral era altamente sofisticado. As empresas Frangos Rica e resort Hotel Portobello celebraram contratos fictícios com empresas de Carlos Miranda, Carlos Bezerra e com escritório de Adriana Ancelmo, mesclando ativos lícitos com ilícitos, e assim lavando dinheiro. "Quando a empresa não tem sede é muito fácil de identificar a lavagem, mas desta forma há um alto nível de sofisticação, pois misturavam os ativos ilícitos com dinheiro lícito nas empresas", comentou ele.

Também é investigada uma propina de mais de R$ 1 milhão do escritório de Adriana ao grupo EBX Holding, de Eike Batista. No entanto, segundo o procurador El-Hage, por enquanto não há elementos que comprovem a participação do empresário no esquema.

Joias de Adriana Ancelmo

Nesta terça-feira, a mulher de Cabral, Adriana Ancelmo, foi presa. Segundo o delegado Tácio Muzzi, nesta quarta-feira, foram apreeendidos em sua casa R$ 53 mil em dinheiro, 100 peças que podem ser joias, além de três laptops e dois tablets. "Se percebia a transação muito alta com duas joalherias, H.Stern e Antonio Bernardo, sem a emissão de nota fiscal", disse o procurador Regional da República José Augusto Vagos.
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De acordo com a procuradoria, a ação das joalherias configura crime tributário, por conta da emissão tardia de notas fiscais, mas "se o sonegador pagar o tributo, ele fica impune." "O Brasil é um dos únicos países em que isso é possível", disse o procurador da República José Augusto Vagos. As joalherias serão investigadas por possível participação e conivência com crimes de lavagem de dinheiro. 
Deve haver outras joias escondidas, segundo procuradores; Joalherias vão ser investigadas por conivência com lavagem de dinheiroDivulgação/ Polícia Federal

De acordo com o procurador Rodrigo Timoteo da Costa, Carlos Bezerra fez mais de 19 entregas de dinheiro no escritório de Adriana, no valor de R$ 500 mil. Ele também fazia entregas ao ex-governador. Por ele foram identificados 45 atos de lavagem, num somatório de R$ 1.500 milhão.

O dinheiro circulou entre Carlos bezerra e Carlos Miranda e depois para Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo e para a ex-mulher de Cabral, Susana Neves. Foram 48 repasses em dinheiro, identificados através de uma contabilidade registrada em e-mail, que somam R$ 1 milhão. Uma ex-secretária de Adriana confirma uma entrega de dinheiro de Carlos Bezerra à chefe, de ao menos R$ 1.500 milhão em espécie.
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Após prisão de Cabral
Segundo a procuradoria, há indícios de que a lavagem de dinheiro ainda ocorre. De 80 a 90% das joias adquiridas, na forma de lavagem de dinheiro, foram durante o governo Cabral. Boa parte delas continuam escondidas e por isso as prisões preventivas são necessárias, de acordo com a procuradoria.
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"Escutas telefônicas no dia das prisões mostraram que há infiltrações no aparelho do Estado", disse o procurador José Augusto.
Hudson Braga e Carlos Miranda terão pedido de Habeas Corpus julgado na tarde desta quarta-feira.
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Taxa de oxigênio
A procuradoria negou, novamente, qualquer indício da participação atual governador Luiz Fernando Pezão no esquema. "O que ficou comprovado é que quem institui propina era Hudson. Não há nenhum elemento que aponte participação do atual governador.
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Lancha Manhattan
Sobre a lancha Manhattan, avaliada em R$ 5 milhões, foram ouvidos marinheiros, funcionários do condomínio, entre outros. Apenas para encher o tanque da lancha são necessários R$ 30 mil. "Você pode até emprestar uma lancha para um amigo, mas você empresta e ainda paga o combustível? Ou seja, há provas de que essa lancha era uma propriedade ocultada", disse Coelho Júnior. Existia quase um uso exclusivo da família Cabral.
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Outro indicativo de que Cabral é o dono da lancha é que a planilha da delação mostra um crédito referente ao período de uso praticamente exclusivo pela família do ex-governador, derrubando a teoria de que Paulo Fernando emprestava a lancha para Cabral.
Além disso havia a locação de um imóvel, no custo de cerca de 1 milhão no nome de Cabral e custeada por Magalhães Pinto. Atual secretária de Cabral, Luciana Rodrigues da Silva, recebia salário através da Nau Consultoria de Arte, do empresário.