Rio - Visivelmente mais magro e abatido, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral afirmou em videoconferência feita nesta terça-feira que usou helicópteros do governo para deslocamentos particulares durante sua gestão. ‘No fim de semana posso ter me deslocado para compromissos particulares”, afirmou, em resposta à juíza Luciana Losada Albuquerque Lopes, da 8ª Vara de Fazenda Pública.
A justificativa para o uso das aeronaves seriam recomendações da Subsecretaria de Gabinete Militar, responsável por sua segurança na época. “Chegavam denúncias e ameaças a mim e a minha família”, contou. Nesta terça, Cabral tornou-se réu pela quinta vez.
O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, aceitou nova denúncia a respeito de lavagem de dinheiro. Nesse processo, os procuradores afirmam houve a lavagem de dinheiro em 148 oportunidades, através de contratos fictícios de consultoria, compra de veículos e de imóveis.
Cabral viajava com frequência aos finais de semana para sua casa de veraneio em Mangaratiba. Em 2013, a revista ‘Veja’ denunciou o uso constante de helicópteros fora de serviço oficial, o que originou a ação pública do procurador aposentado Cosmo Ferreira.
De acordo com o subsecretário subsecretário adjunto de Operações Aéreas, coronel Marcos Oliveira, que foi testemunha, o uso do helicóptero tinha um custo médio de R$ 3,5 mil para Mangaratiba. Já o de uma comitiva a carro sairia por cerca de R$ 6 mil. O deslocamento aéreo era mais econômico do que o terrestre.
A afirmação fez o autor da ação solicitar a tabela dos custos da época. “Não só é um absurdo como chega a ser grotesco o uso de aeronaves para fins particulares. Se temiam pela vida dele, que ficasse no Palácio Guanabara e não fosse para Mangaratiba”, afirmou.
Na audiência também foram ouvidos três pilotos que voavam com frequência para Cabral e sua família. Um deles, André Benvenuti, contou que já presenciou o uso de três aeronaves quase ao mesmo tempo. “Algumas vezes o governador tinha um horário; para levar os filhos era outro horário; para levar as babás era outro horário no mesmo dia”, afirmou.
O ex-governador também disse que convidados foram transportados no helicóptero oficial. “Pode ter havido casos excepcionais, mas não era rotina. Às vezes iam autoridades que iam despachar ou passar fim de semana comigo (em Mangaratiba)”, afirmou.
Cabral disse que a prática de viagens particulares era feita por governadores que o antecederam, como Leonel Brizola e Marcello Alencar. “Eu mesmo, quando era deputado, já fui ao encontro do Marcello Alencar em Petrópolis, que se deslocou de helicóptero”, contou. Após a denúncia da imprensa, Cabral regulamentou o uso das aeronaves, diminuindo o seu uso.