Por thiago.antunes

Rio - Sentado a uma mesa no bar Genérico, acompanhado de uma cerveja, o diretor da Velha Guarda da Mangueira Luiz Eduardo Bahiana, de 67 anos, observava enquanto funcionários retiravam alimentos perecíveis do Petisco da Vila, do outro lado da rua.

Petisco da Vila fechou sem aviso prévio Alexandre Brum / Agência O Dia

O tradicional restaurante na esquina do Boulevard 28 de Setembro e da Rua Visconde de Abaeté fechou as portas ontem, sem aviso prévio. Especula-se que um prédio será construído no lugar.

Ali, no início dos anos 1970, Seu Eduardo trazia dos pagodes da Mangueira na Praça Onze nomes como Genaro da Bahia para rodas de samba que colocariam o Petisco na história. “Todo mundo saía da Mangueira para vir para cá. O grande atrativo sempre foi o chope bem tirado, um dos quatro lugares no Rio que tinha esse chope preto, delicioso”, relembra.

O Petisco da Vila foi inaugurado em 1969 como “o maior estabelecimento de comes e bebes do Boulevard 28 de Setembro” — ou pelo menos era o que pretendia seu criador, o português Manoel José Marques de Sousa. Pouco a pouco, o lugar foi conquistando clientes como o cartunista Jaguar e os sambistas Jamelão, Neguinho da Beija-Flor e Martinho da Vila. Este último é conhecido fã do restaurante, onde comemorou seu aniversário com uma feijoada há pouco mais de três semanas.

No embalo do Petisco, o bar Genérico (oficialmente, Bar e Lanches Star) também cresceu. Por isso, seu gerente, José Carlos de Souza, 50, lamentava o fechamento do vizinho. “Fechar o Petisco é como o Noel Rosa morrer de novo para nós. Tomara que não dure muito tempo”, declarou.

Luiz Eduardo%2C da Velha Guarda da Mangueira%2C bebeu no bar em frente e lamentou o fechamento do PetiscoAlexandre Brum / Agência O Dia

Quem passava pelo chamado ‘quadrilátero do alto’ — parte da 28 de Setembro onde as quatro esquinas tinham bares — se perguntava qual o destino do estabelecimento. Mas a direção do Petisco só deve se pronunciar hoje sobre o assunto.

A esteticista Graça Gonçalves, 68, fez questão de deixar seu protesto: para ela, um lugar tão importante não poderia se despedir sem uma homenagem. Ela conheceu o Petisco quando foi morar em Vila Isabel, na época em que o bonde ainda andava pelo bairro e a fábrica de tecidos ainda existia.

“Quando cheguei, isso aqui era um ‘pé sujo’. Lembro que tinha um garçom, Seu Manoel, que limpava com um paninho velho. Mas o Petisco foi virando um patrimônio da Vila. É mais uma história do bairro que se perde. Assim, só ficam as calçadas de Noel e a quadra da escola”, lamentou.

Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat

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