Rio - No dia seguinte à confirmação de dois casos — um deles com morte — da versão silvestre da febre amarela no interior do estado, o carioca acordou cedo para correr aos postos de saúde em busca de vacinas. Na Tijuca, moradores chegaram antes das 7h ao Centro de Saúde Heitor Beltrão.
Embora não haja registro de febre amarela na Cidade do Rio, a Superintendência de Vigilância em Saúde explicou que, por precaução, foi iniciado treinamento para profissionais da rede, para atendimento às pessoas com suspeita de febre amarela, com base na observação dos sintomas apresentados.
Isso significa que, ao chegar na unidade de saúde, o paciente seria incluído na linha de cuidados para arboviroses, já que os sintomas da febre amarela são semelhantes aos de outras doenças. A assistência será feita pela rede em conjunto.
“Se um paciente for à UPA ou hospital, poderá ser internado, se necessário, ou atendido e encaminhado à rede de Atenção Primária para acompanhamento ambulatorial.Foram elaborados protocolos de manejo clínico. Os diretores das unidades estão sendo treinados, assim como os profissionais envolvidos na vacinação”, explicou a secretaria, em nota.
A cidade receberá cerca de 1,5 milhão de doses extras até abril e ampliará sua rede de vacinação de 34 para 233 unidades. A secretaria informou que, em caso de dúvidas, os usuários consultem o site (http://www.rio.rj.gov.br/web/sms) ou se informem na unidade de referência de seu endereço.
O Centro de Saúde Píndaro de Carvalho Rodrigues, na Gávea, vacinou ontem 100 pessoas de manhã e 100 à tarde. O cantor Leo Jaime não conseguiu vacinar o filho Davi, de 9 anos. “Funcionários nos explicaram. Eram 100 doses. Mas há muitas pessoas apavoradas”, disse o artista.
Segundo o subsecretário de Vigilância Sanitária, Alexandre Chieppe, desde que começaram os casos de febre amarela em outros estados, a procura aumentou. “A vacina era aplicada em 6 mil pessoas por mês, em média, e já estamos vacinando mais de 100 mil pessoas por mês. Só no município do Rio, de 4 mil imunizações passou para 50 mil”, disse.
Segundo ele, não há risco de explosão de casos e, portanto, não há motivo para correria. “A doença se manifestou em regiões de mata, da mesma forma que acontece em outros estados”, explicou Chieppe.
A prioridade é para as pessoas que vão viajar para áreas de risco, mas não é exigida comprovação da viagem. O prefeito Marcelo Crivella afirmou que a população não precisa entrar em pânico e que, se necessário, pedirá o apoio das Forças Armadas.
“Temos planos A, B e C. Já fiz contato com as Forças Armadas, e assim como fizemos com a zika, chicungunha e dengue, estamos trabalhando com empenho na questão da febre amarela. A população não precisa ter pânico, todos serão vacinados e vamos criar um cinturão, antes que o vírus entre na capital”, afirmou.
Família de pedreiro morto em Casimiro está internada
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Os quatro enteados do pedreiro Watila Santos, de 38, que morreu no sábado, vítima de febre amarela, estão internados no Hospital Municipal Ângela Maria Simões Menezes, em Casimiro de Abreu, desde quarta-feira. São crianças com idades entre 6 e 13 anos, filhos de Mariana da Conceição, também internada.
“A equipe da Secretaria de Saúde achou prudente deixá-los em observação, porém, apenas uma das crianças se queixa de dor abdominal e dor no corpo. Eles fizeram um exame de sangue e, após 24 horas, repetiram o exame. Ambos deram negativo para dengue”, informou a prefeitura.
Amostras de apenas duas crianças foram enviadas ao Laboratório Central Noel Nutels, no Rio. O outro caso confirmado, também em Casimiro, é de Alessandro Valença Couto, 37, parente de Watila, que continua internado no Rio.
Divergência sobre mortes
A Secretaria de Estado de Saúde contesta os resultados dos exames das amostras encaminhadas ao Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará, em outubro de 2016, e que foram enviadas na semana passada, confirmando a morte por febre amarela de cinco primatas em diferentes pontos do município do Rio.
“São amostras que já tinham dado negativo pela Fiocruz num primeiro momento e estão sendo rechecadas”, disse o secretário Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior, que espera resultados conclusivos da Fiocruz para hoje.
Pedro Vasconcelos, diretor do IEC, sustenta que os estudos são seguros. “São resultados que não restam dúvidas porque são resultado de um exame muito específico e temos segurança nos resultados que as nossas patologistas fizeram. Portanto, não resta dúvida das lâminas examinadas”.
Pelo menos 32 primatas já foram encontrados mortos no Rio desde 2016, com suspeita de febre amarela. Ontem, um macaco bugio foi achado morto na reserva de Poço das Antas, em Silva Jardim, a 36 km de Casimiro de Abreu.
O local é um dos últimos redutos de mico-leão dourado da natureza. Equipes da Associação Mico-Leão Dourado monitoram o estado de saúde dos micos. Há 3.200 animais dessa espécie espalhados por reservas ambientais na região que inclui Silva Jardim e Casimiro. A suspeita de que um mico-leão havia adoecido não se confirmou.
Com informações da Agência Estadão Conteúdo