Rio - A Secretaria Municipal de Educação vai pedir uma reunião com a Secretaria de Segurança e com o Comando-Geral da Polícia Militar para estabelecer um protocolo que discipline a ação policial em comunidades a fim de evitar que a polícia realize operações em comunidades nos horários de entrada e saída de alunos das escolas.
A informação foi divulgada pelo secretário da pasta, Cesar Benjamin, nesta quinta-feira, durante a cerimônia de reabertura da Escola Municipal Daniel Piza, em Acari. Na semana passada, a adolescente Maria Eduarda Alves Ferreira foi baleada e morta dentro do colégio enquanto fazia uma aula de Educação Física. A escola vai reabrir para aulas apenas na segunda-feira.
Benjamin explicou que o protocolo pede que não haja operações nas favelas no mesmo horário de entrada e saída das crianças nos colégios. "A ideia é que cada comandante receba uma delegação de escolas da região para discutir e validar o protocolo. Queremos que as escolas sejam um lugar de paz e também garantir a vida dos nossos alunos, professores e funcionários", afirmou.
O pai de Maria Eduarda reiterou o pedido do secretário. "Amanhã, quando eu for me reunir com o governador, vou pedir a ele para a polícia não realizar operações entre 6h30 e 18h. Essa não foi a primeira vez que um pai e uma mãe ficaram chorando a dor da morte da filha. Não queremos mais que isso aconteça. Não queremos vingança. Queremos Justiça para que minha filha possa descansar em paz", disse o pedreiro Antônio Alfredo da Conceição, de 63 anos.
Uma semana após a morte da adolescente Maria Eduarda, a escola reabriu nesta quinta. A secretaria preparou um culto ecumênico e outras atividades no local. Além disso, jogadores de basquete do Flamengo, time de coração da vítima, também participaram da cerimônia, como o técnico José Neto, o pivô JP Batista e o supervisor da equipe André Guimarães. Entretanto, as aulas retornam somente na segunda-feira, seguinto um plano elaborado especialmente para os alunos da Daniel Piza.
"Vai ser gradativa (a volta), sob o comando de uma equipe de psicólogos que está aqui trabalhando em tempo integral. As atividades serão retomadas inicialmente na parte lúdica, esportiva, e analisando a cada momento, dando assistência a cada estudante, para que gradativamente a escola recupere a sua grade normal de ensino", disse o secretário.
Mãe de Maria Eduarda, Rosilene Alves Ferreira, de 53 anos, também foi à escola homenagear a fiha. "Sinto muita saudade dela. Nunca tinha me separado da minha filha desde o seu nascimento. Dois dias antes da morte, nós fomos até uma loja e compramos um celular, que era o sonho dela. Ela tirou muitas fotos e postou nas redes sociais. Estava muito feliz. Ela morreu fazendo o que gostava: estudar e jogar vôlei", lamentou.
Em relação ao processo de blindagem das escolas, que foi anunciado pelo prefeito Marcelo Crivella na semana passada, o secretário de Educação contou que a prefeitura está trazendo uma amostra de uma argamassa especial dos Estados Unidos para fazer um teste.
"Não é uma solução milagrosa para ser aplicada em toda rede, até porque não existem soluções. Encontramos [as soluções] em cada comunidade, com cada grupo de professores, que nos orientam para as melhores medidas. O pedido de importação já foi feito e talvez leve dois meses para chegar", explicou Benjamin. A blindagem deve começar em 15 escolas no Complexo da Maré. "Não posso desconhecer essas demandas de pessoas que arricam suas vidas para cuidar das nossas crianças", completou.
O secretário elogiou a postura dos profissionais que trabalham na escola de Acari, que vão permanecer na unidade mesmo após a tragédia. "Apesar da tragédia, nenhum professor decidiu sair da escola e o diretor também decidiu permanecer. A nossa rede é muito forte, muito resiliente, nossos professores e professoras são pessoas que não se deixam dobrar. Aqui é uma demonstração disso. Vai continuar a mesma equipe de sempre."