Rio - Interrogado pelo juiz federal Sérgio Moro, nesta quinta-feira, o ex-secretário do Governo do Rio Wilson Carlos, braço direito do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), afirmou que preferia manter o dinheiro em casa do que deixar em bancos. Ele é réu, ao lado do ex-governador, em ação penal sobre propina de R$ 2,7 milhões da Andrade Gutierrez a Sérgio Cabral sobre obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj)
"Ao longo da minha vida sempre eu recorri a empréstimos para equilibrar meu orçamento doméstico, fosse em instituições bancárias ou mesmo em conhecidos, através de conhecidos", afirmou.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Wilson Carlos era um dos controladores da conta corrente de propina de Sérgio Cabral. A acusação da força-tarefa da Lava Jato afirma que entre 13 de novembro de 2008 e 30 de março de 2015, Wilson Carlos "realizou 3 compras e quitou 26 faturas de cartão de crédito efetuando 61 pagamentos em espécie de vultosas quantias - cujos valores variaram entre R$ 1.450,00 e R$ 35 mil e somaram R$ 455 144,38".
Moro questionou Wilson Carlos sobre a compra de uma embarcação Flexboat de R$ 264 mil por meio de depósitos bancários em espécie, sendo que 29 transações foram fracionadas em valores inferiores a R$ 10 mil.
"Eu solicitei a conhecidos que fizessem (...) Na verdade, eu adquiri esse empréstimo com conhecidos e paguei ao longo dos meses subsequentes, dos 24 meses subsequentes a esses conhecidos Eu solicitei que eles fizessem o depósito diretamente, o pagamento diretamente à Flexboat. Entendo que por serem pessoas atarefadas possam ter solicitado a portadores, boy para que fizessem o depósito, não sei exatamente", declarou.
O juiz da Lava Jato quis saber com quem Wilson Carlos pegou os empréstimos. "Excelência, eu vou me permitir preservar a identidade dessas pessoas, não queria expor, por mais que isso pudesse me prejudicar. Não gostaria de expor as pessoas que me estenderam a mão na hora que eu precisei", afirmou o braço direito de Sérgio Cabral. Wilson Carlos declarou não ter feito contrato de empréstimo. "Empréstimo entre amigos, entre conhecidos."
Moro questionou Carlos do porquê de o ex-secretário não ter convocado os amigos como testemunhas no processo. "Excelência, eu, na verdade, estabeleci com meus advogados que eu não quis trazer ninguém nem como testemunhas, não quero expor ninguém, não vou citar o nome de ninguém", afirmou.
O ex-secretário relatou que pagou os empréstimos "aos poucos". "Ia pagando em dinheiro. É importante deixar claro, Excelência, eu sempre preferi ter meus recursos ao invés de deixar no banco, eu me senti sempre mais seguro desses recursos comigo. Então, sempre que eu podia, eu sacava recursos do banco, dos meus proventos, e mantinha quando pagava minhas contas, eu mantinha esses recursos em minha posse", declarou.
"O sr tinha alguma coisa contra bancos?", perguntou Moro. "Eu preferia por uma questão pessoal manter recursos comigo do que deixar em banco", respondeu Wilson Carlos.