Rio - A polícia investiga se foi o traficante Carlos Henrique dos Santos Gravini, o Rato, preso em um presídio de segurança máxima em Mossoró, quem pediu ao ‘conselho’ do Comando Vermelho autorização para retomar a comunidade Cidade Alta na madrugada de ontem.
A informação consta de um relatório de inteligência feito pelo Grupo Integrado de Operações de Segurança Pública (Giosp), que foi disseminado dia 26 de abril. O documento alerta a inteligência das polícias Militar e Civil de que criminosos do Rio, sem data e horário definidos, pretendiam articular uma retomada dos pontos de venda de entorpecentes da Cidade Alta.
Além disso, a queima de ônibus e de carros estava autorizada como estratégia para ocupar a polícia e facilitar a fuga, caso reação policial ocorresse. O chamado ‘conselho do CV’ é chefiado por Márcio da Silva Nepomuceno, o Marcinho VP, que também está preso em presídio federal.
Junto com outros seis traficantes, eles são os responsáveis por autorizar ou não ações orquestradas. A suspeita é a de que a comunicação entre os traficantes teria ocorrido por advogados. Rato teria solicitado que todas as favelas do Comando Vermelho da capital cedessem homens e armamentos para o confronto com criminosos do Terceiro Comando Puro.
Em coletiva, o chefe da Polícia Civil, Carlos Leba, confirmou que homens de “todas as favelas de Duque de Caxias, além do Borel, da Formiga, da Penha, da Kelson, do Fallet, Vila Cruzeiro e Salgueiro (São Gonçalo) participaram do ato”. Ciente da articulação, a PM já tinha um plano para o cerco na favela, caso a ação se concretizasse. Segundo o chefe operacional da instituição, delegado Fernando Albuquerque, a polícia investiga se a Nova Holanda teria cedido armamentos, além de homens.
Como O DIA revelou em reportagem domingo, traficantes da Nova Holanda alugam fuzis a R$ 1 mil para outras comunidades da facção realizarem ações. A disputa pelo tráfico na Cidade Alta ocorre pela sua localização geográfica, de acordo com a polícia.
A favela possui fácil acesso pela Rodovia Washington Luiz e Avenida Brasil, o que facilita o recebimento de armas, drogas e roubos de cargas. Dos 45 presos até a noite de ontem, 36 confirmaram que são do Comando Vermelho.
A maioria foi presa após entrar na casa de moradores, que fizeram denúncias das invasões. O secretário de Segurança, Roberto Sá, considerou a ação exitosa. “Parabenizo a Polícia Militar pelo cerco e pela enorme apreensão de fuzis”, disse.
Conhecido por morte de PMs
Assassino de PMs, assaltante e traficante. A ficha de Carlos Gravini, o Rato, é extensa e fez com que a Secretaria de Segurança do Rio pedisse a sua transferência para presídio federal ano passado.
Ele é apontado por ter matado dois PMs em um ataque a um posto de gasolina de Cordovil em 2008. Segundo o levantamento feito pela polícia, na ocasião do crime, Rato interceptou a viatura da PM e disparou diversos tiros de fuzil contra os agentes, que morreram. Em maio de 2007, ele fez uma ação ousada: assaltou um bingo em Botafogo usando carros com logotipos da Polícia Federal.
Em 2009, quando ainda estava em Bangu, escutas telefônicas flagraram Rato discutindo com Fabiano Atanázio, após ele matar dois traficantes e ordenar, de dentro da prisão, a retomada de pontos de drogas da Vila Kennedy.
O seu controle sobre a Cidade Alta foi se perdendo no decorrer do ano passado, com sucessivos ataques da quadrilha Terceiro Comando Puro. Em dezembro, o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, do TCP, utilizou drones no reconhecimento do território, que foi invadido por seus comandados.
Na ocasião, Peixão deu a oportunidade de traficantes passarem para o seu lado, ou seja, mudar de quadrilha. Outros conseguiram fugir para a Nova Holanda. Os criminosos que mudaram de facção foram jurados de morte e, por isso, Rato teve facilidade em convencer o conselho do CV a apoiá-lo.
Especialista em segurança, Vinícius Cavalcante, diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança, avaliou ontem que, “apesar do caos”, a PM saiu vitoriosa ontem. Segundo ele, a tática adotada ontem pelos traficantes é típica de guerrilha. “A Polícia Militar marcou um pontaço. Apesar de o tráfico estar equipado com armas mais poderosas, os criminosos demonstram não ser páreo para os policiais do Rio”, justificou.
Colaborou Francisco Edson Alves