Rio - O primeiro dia de atuação nas ruas dos 300 agentes da Força Nacional que chegaram ao Rio na semana passada foi marcado ontem pela realização de um cinturão de segurança no entorno de uma das áreas mais violentas do Rio, o complexo de favelas do Chapadão, na Zona Norte.
Com o reforço da tropa que veio de Brasília, a Polícia Militar informou que ocupou uma das comunidades da região, o Morro do Chapadão, sem que houvesse troca de tiros. O objetivo da operação conjunta é combater sobretudo o roubo de cargas e de veículos, além do tráfico de drogas.
Os PMs do 41° BPM (Irajá) iniciaram a incursão ainda nas primeiras horas da manhã de ontem. Os agentes da Força montaram cerca de 20 blitzes em pontos pré-determinados, todos nas imediações dos Complexos do Chapadão e da Pedreira, além das ruas que ligam os bairros da Zona Norte às rodovias federais, Dutra e Washington Luís, além das vias expressas. O porta-voz da PM, major Ivan Blaz, ressaltou a importância do apoio federal.
“A PM atua com escassez de homens, impossibilitando a atuação em todos esses pontos. Com o apoio da Força Nacional, conseguimos liberar os policiais para ocupar o Chapadão”, explicou Blaz. O oficial reconheceu, porém, que o policiamento nos demais bairros da cidade não será alterado, mesmo com o reforço federal.
Por conta do fácil acesso a vias como Avenida Brasil, Linha Vermelha, Via Light e rodovias Presidente Dutra e Washington Luís, o complexo de favelas do Chapadão concentra o maior índice de roubo de cargas e veículos da capital fluminense e é, consequentemente, o destino de grande parte dos produtos oriundos de roubos na cidade.
Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam que apenas no mês de março deste ano, a região registrou 120 roubos de carga e outros 403 de veículos, o que representa uma média de 13 carros roubados por dia. Segundo a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), entre 2011 e 2016 houve aumento de 220% nos roubos de cargas no estado, gerando perda de R$ 2,1 bilhões na economia.
Apesar de enxergar a operação como positiva, o gerente de estudos de infraestrutura da Firjan, Riley Rodrigues, cobra a implantação de plano permanente para a redução de roubos. “Esse reforço federal é muito bem vindo, mas é pontual e não soluciona o problema em longo prazo. Precisamos usar esse período para elaborarmos estratégias de segurança e buscarmos investimentos.”
O especialista em segurança pública e ex-capitão do Bope Paulo Storani elogiou a decisão de focar o patrulhamento naquela área. “Aquela região sofre com muito com o roubo de cargas e de veículos. Algo precisava ser feito. Mas é importante lembrar que quando a polícia reprime a criminalidade em uma determinada região, os marginais se deslocam e passam a atuar em outra localidade”, lembrou. O major Ivan Blaz respondeu que a PM está atenta a isso.
Mulher é baleada e moradores reclamam da insegurança
A ação Força Nacional no entorno do Complexo do Chapadão foi vista com bons olhos pela população, que, no entanto, reclama da falta de reforço em outras áreas. O porta-voz da PM, major Ivan Blaz, que reconheceu que a ajuda federal não aumentará o policiamento em outras regiões da cidade, disse que a Grande Tijuca tem sido outro foco de preocupação devido ao aumento da criminalidade.
Ontem, uma mulher foi atingida por bala perdida na Rua Engenheiro Adel, na Tijuca. De acordo com testemunhas, a mulher, que não teve a identidade revelada, foi ferida após um policial civil ter reagido a tentativa de assalto por dois homens que estavam em uma moto. Ela foi levada para o Hospital Souza Aguiar e não corria risco de vida. Não muito longe dali, na Rua Izidro de Figueiredo, no Maracanã, o neto do ex-técnico Zagallo, Paulo Roberto Rodrigues Zagallo, de 28 anos, foi baleado no domingo, também em tentativa de assalto.
Nas ruas da região, as reclamações de falta de segurança são constantes. A técnica de radioterapia, Eliane Mendonça, de 57 anos, reclamou da insegurança. “A população continua se sentindo insegura. O reforço da Força Nacional tinha que ser maior”, cobrou.
O reforço no patrulhamento das ruas também foi um dos pedidos do casal de aposentados, Arão de Souza e Marisa de Souza. Eles afirmam que o Méier, onde moram, sofre também com assaltos a pedestres e a veículos. “Queríamos que a Força Nacional atuasse no nosso bairro”, lamentaram.
A PM realizou ontem ações nos morros do Turano e do Salgueiro, na Tijuca. Quatro suspeitos foram presos e um carro roubado e armas apreendidos.