Por thiago.antunes

Rio - Nem mesmo a presença de 300 agentes da Força Nacional que estão reforçando o patrulhamento na região da Pavuna para combater o roubo de cargas desde segunda-feira foi suficiente para coibir os frequentes assaltos a caminhões no entorno dos complexos do Chapadão e da Pedreira.

Um motorista, que pediu para não ter a identidade revelada, chegou a ficar sete horas em poder dos criminosos, que, segundo ele, o trataram bem e ofereceram até sanduíche e refrigerante. A vítima registrou o caso na 39ª DP (Pavuna) ontem de manhã, acompanhada de uma representante da empresa.

Agentes da Força Nacional%2C em conjunto com policiais civis%2C realizam blitz na região do entorno dos complexos do Chapadão e da PedreiraSeverino Silva / Agência O Dia

O profissional, de 41 anos, transportava uma carga de frutas oriunda de Pernambuco para a Ceasa, quando foi abordado por bandidos armados, por volta das 20h de terça-feira, na Avenida Brasil, no trecho de Irajá, na pista sentido Zona Oeste.

Segundo a vítima, um dos assaltantes desembarcou de um veículo sedan e sentou ao seu lado no caminhão. “Ele (o assaltante) apontou a arma para a minha cabeça e exigiu que eu seguisse o carro usado pela quadrilha até o Morro da Pedreira. Ao chegar na comunidade, parecia uma feira livre. Os principais receptadores eram taxistas e motoristas de carros importados”, denunciou.

Ainda segundo o caminhoneiro, os bandidos tentaram lhe acalmar dizendo que a ordem do chefe do tráfico local era para não agredir os motoristas de transporte de carga. “Um assaltante chegou a me oferecer um sanduíche com queijo e refrigerante.”

Os bandidos obrigam um segurança do carro de escolta a carregar as caixas para o Fiat FiorinoReprodução

O motorista só foi liberado por volta das 3 horas da madrugada, após toda a mercadoria ter sido vendida pela quadrilha. Ele reclamou da ausência de viaturas da PM e da Força Nacional no trecho entre a Rodovia Washington Luís e a Avenida Brasil. A vítima afirmou que um colega da mesma empresa foi assaltado minutos antes, no mesmo trecho.

Caminhoneiro há 20 anos, ele afirmou, ainda, que alguns colegas do Nordeste recusam propostas para entregar mercadorias no Rio de Janeiro, por medo da violência. Outro caminhoneiro, que trabalha para a empresa Gravia, transportava uma carga de portas e janelas de Goiás quando foi vítima da mesma quadrilha no Rio.

Segundo o motorista, os assaltantes interceptaram o caminhão ontem, por volta das 5h40, na Avenida Brasil, no trecho de Jardim América e o obrigaram a dirigir e a descarregar as mercadorias no Morro da Pedreira. Muito abalada emocionalmente, a vítima, que também compareceu à 39ª DP, reclamou da falta de policiamento.

“A Força Nacional só começa a patrulhar às 8h da manhã. Não adianta nada, pois a bandidagem espera anoitecer para praticar os assaltos”, lamentou. Em ambos os casos, os caminhoneiros não eram do Rio e só conheciam as principais vias expressas da cidade.

Vídeo mostra roubo de caixas de cigarros em Ramos

Além dos roubos na área da 39ª DP, na Pavuna, um vídeo que circula na internet mostra bandidos roubando cargas de uma van na Rua Leopoldina Rego, em Ramos. O caso teria ocorrido na manhã de ontem. Pelo menos três assaltantes, em dois veículos, renderam o segurança que fazia a escolta em um carro, além do motorista da van, e levaram os produtos em um Fiat Fiorino. Segundo as testemunhas que gravam o vídeo, a carga seria de cigarros.

Nenhum suspeito foi preso. A Polícia Civil informou que as investigações estão em andamento na 21ª DP (Bonsucesso) para identificar e localizar os envolvidos no crime. De acordo com a polícia, as imagens da ação também estão sendo analisadas.

Alerj faz 14 propostas

Para tentar coibir o roubo de cargas no estado, membros da Comissão de Segurança Pública da Alerj e da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) se reuniram em Brasília, ontem de manhã, com o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, e apresentaram 14 propostas.

A presidente da comissão, deputada Martha Rocha (PDT), sugeriu que seja criado um cadastro de policiais civis e militares do Rio que possam atuar na Força Nacional. “A ideia é que a União pague o Regime Adicional de Serviço (RAS - o sistema de horas extras dos policiais) desses policiais, que conhecem melhor a realidade do Rio, e não gaste com diárias de agentes de outros estados, como acontece hoje”, afirmou a parlamentar.

O documento de 150 páginas foi elaborado após audiência pública da comissão realizada em abril. Os parlamentares defenderam ainda pena maior para o crime de receptação e exigiram aumento no efetivo da Polícia Rodoviária Federal para reforçar o patrulhamento nas fronteiras e novas fontes de recursos para as forças de segurança, além da criação da Divisão de Repressão a Roubos e Furtos de Cargas. Segundo a Alerj, o ministro afirmou que o governo federal vai analisar as sugestões e que o assunto é uma das prioridades da pasta.

Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam que apenas no mês de março, a 39ª DP (Pavuna) registrou 57 roubos de carga, cerca de dois por dia. O Ministério da Justiça e Cidadania, responsável pela Força Nacional, foi procurado, mas não informou em qual horário os agentes realizam o patrulhamento das vias.

A PM se limitou a dizer que as ações no entorno do Chapadão serão respondidas pelo governo federal. Procurada, a Polícia Civil não comentou os casos.

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