Rio - A Polícia Militar admitiu ontem a falha que permitiu que bandidos roubassem pelo menos 11 estabelecimentos comerciais na Rua Senador Pompeu, ao lado da Central do Brasil, na madrugada de segunda-feira. Apesar do reconhecimento, não foi anunciada a suspensão de nenhum policial enquanto a Corregedoria da corporação apura as responsabilidades.
“Houve um acionamento e uma viatura da PM foi para o local. Entrou em confronto com os marginais e depois eles foram embora buscar reforço. No entanto, esse retorno demorou demais. Por conta disso, o Comandante Geral da PM Wolney Dias entendeu como inadequada essa resposta operacional e determinou que a corregedoria atue diretamente para apurar os procedimentos daquela noite. A apuração do caso deverá ficar pronta em trinta dias”, afirmou o porta-voz da PM, major Ivan Blaz.
A decisão da investigação sobre o caso, no entanto, foi ordenada pelo secretário de Segurança do Estado, Roberto Sá, ainda na segunda-feira, como mostrou O DIA ontem.
O alarme de uma loja disparou às 2h e uma viatura só chegou por volta da 3h, sendo que o 5º Batalhão fica a menos de um quilômetro do local. Além disso, segundo a PM, os agentes foram recebidos a tiros e saíram para buscar reforço, que só chegou após os bandidos terminarem o roubo no local por volta das 5h30.
O delegado titular da 4ªDP (Praça da República), Rui Barboza, afirmou ontem que investiga as denúncias sobre as denúncias de que o assalto aos 11 estabelecimentos foram represália do tráfico do Morro da Providência à recusa de comerciantes em pagar uma “taxa de segurança” aos bandidos.
“Foi o Dão da Providência (Evanilson Marques da Silva, apontado com o chefe do tráfico na área) quem ordenou o ataque? Isso estamos apurando”, disse Barboza. Segundo ele, foi instaurado inquérito para apurar o furto qualificado a 11 lojas. Sete comerciantes prestaram queixa e relataram um prejuízo de R$ 245.500,00, em mercadorias levadas.
Pedágio do tráfico até para ambulante
A extorsão praticada por traficantes do Morro da Providência sobre os comerciantes da região da Central do Brasil atinge até ambulantes. Segundo lojistas, o valor semanal cobrado pelos bandidos varia de R$ 30, para ambulantes, por exemplo, a R$ 2 mil para grandes estabelecimentos.
Na manhã de ontem, as lojas da Senador Pompeu estavam abertas e viaturas da PM ficaram de plantão na rua. “Mesmo com a presença da polícia, estamos apreensivos”, disse uma comerciante. Segundo empresários, Dão da Providência não estaria satisfeito com o valor pago e, em fevereiro, determinou que a propina fosse maior. “Isso (do aumento do valor) aconteceu depois do carnaval. Ele afirmou que o dinheiro arrecadado era pouco”, disse um lojista.
Major da PM cobra trabalho social na região da Central
A área da Central onde fica a sede do comando da Segurança Pública é terra sem lei, segundo o próprio porta-voz da PM. “Existem moradores de rua, usuários de drogas, comércio informal. É uma área limítrofe entre favela e asfalto. Aquele lugar demanda esforços rotineiros, não só da PM”, afirmou o major Ivan Blaz. Ele pede um trabalho social no entorno.
Segundo comerciantes, o tráfico teria “proibido” até PMs do 5º BPM (Harmonia) de atravessar o Túnel João Ricardo, que liga a Central à Gamboa, após as 23h30, além de impedir o patrulhamento na Rua Barão de São Félix. Blaz afirmou que não sabia desta informação. “Tais ordens de criminosos, caso tenham vindo, são absurdas e afrontam o estado de direito. A PM não vai frear diante de tais bravatas”, afirmou o major.
Para quem precisa passar na região o medo é constante. “O que eles fizeram ontem (segunda), mostra que bandidos não têm respeito por ninguém”, disse a doméstica Elizangela Marinho, 37. “Conheço várias pessoas que já foram assaltadas aqui. É terra sem lei”, completou Alana Jorge, 35, segurança.
Reportagem do estagiário Rafael Nascimento com o repórter Wilson Aquino