Rio - Um idoso de 63 anos morreu vítima de uma bala perdida na Favela do Mandela, em Manguinhos, na Zona Norte do Rio, na manhã desta sexta-feira. Segundo informações, Wilson Melo de Oliveira, que morava há 15 anos na comunidade, estava dentro de sua casa quando foi atingido pelo disparo. Policiais da UPP Arará/Mandela faziam operação na comunidade para checar uma denúncia de roubo de carga e houve confronto com traficantes.
Wilson é o segundo idoso morto em uma favela do Rio em 24 horas. No início de abril, um outro senhor de 71 anos morreu na porta de casa, enquanto lia jornal, na Favela Mandela 2, também em Manguinhos.
Abalado, o irmão Ubirajara Melo de Azevedo reclamou dos confrontos diáros. "Ele era uma pessoa de bem e não merecia o que aconteceu com ele. Isso tem que terminar, gente, como podem tratar uma comunidade desse jeito, com muita criança, com muita gente correndo perigo, isso nunca vai acabar? Cadê as autoridades que não dão um jeito nisso?", desabafou, em entrevista à ONG Rio de Paz. A organização esteve com a família e vai acompanhar o caso.
Ubirajara disse que a família está destruída e pediu que a morte "não seja em vão". "A família está arrasada, há pouco tempo perdi uma irmã, e agora ele. É difícil para gente, né? Eu espero que o estado resolva essa situação e descubra como foi a morte dele para que não seja mais uma morte em vão. Porque eu sou trabalhador, e ele era uma pessoa de bem", cobrou.
De acordo com o comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Arará/Mandela, os PMs checavam uma denúncia de um caminhão de carga roubado e os traficantes atiraram contra os policiais, por volta das 10h30, iniciando um confronto. Em seguida, segundo a UPP, os policiais foram informados de que o idoso teria sido atingido dentro de casa, na localidade conhecida como Pontilhão. O policiamento foi reforçado na região do incidente e a Divisão de Homicídios (DH-Capital) foi acionada para realizar a perícia. Ninguém havia sido preso o início da tarde desta sexta-feira.
Segundo idoso morto por bala perdida em favela em 24 horas
Wilson Melo é o segundo idoso morto vítima de bala perdida em uma favela do Rio nas últimas 24 horas. Na manhã desta quinta-feira, José Marques dos Santos, de 75 anos, foi baleado durante um confronto entre PMs e traficantes ocorrido na operação dos batalhões de Operações Especiais (Bope) e de Ações com Cães (BAC) no Jacarezinho. Outros três homens morreram na ação.
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Ele chegou a ser socorrido para o Hospital Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu e morreu no final da tarde. Questionada desde ontem sobre as mortes, a Polícia Civil só confirmou as quatro vítimas e que "a investigação está em andamento". A reportagem entrou em contato novamente nesta sexta-feira para saber sobre o caso e as circunstâncias da morte do idoso e dos outros, mas ainda não teve retorno. José Marques seria o quinto óbito resultado do confronto.
Já a Polícia Militar, em nota divulgada ainda na quinta-feira, disse apenas que houve confronto na operação e que cinco pessoas baleadas tinham sido socorridas e levadas para o Hospital Salgado Filho. Questionada, a corporação não informou se os baleados eram bandidos ou moradores vítimas de bala perdida na região.
Segundo a Polícia Militar, foram apreendidas quatro pistolas, sete carregadores de pistola, 61 munições de calibre 9mm, dois coldres, quatro porta carregadores, cinco carregadores de calibre .556, um tablete de maconha, 217 trouxinhas de maconha, 66 frascos de loló e 496 papelotes de cocaína. A operação ainda está em andamento.
'Mais uma morte de um pobre, morador de favela'
O presidente da ONG Rio de Paz, Antonio Carlos Costa, esteve com a família do idoso morto na Favela do Mandela nesta sexta-feira. Ele criticou mais uma morte por conta de tiroteio dentro de uma comunidade e disse que é necessário se buscar alternativas inteligentes para se diminuir a letalidade nas ações contra o crime.
"Nós lamentamos profundamente mais uma morte de um pobre, morador de favela, vítima de bala perdida, dentro de sua casa. É obvio que essa gente vive no mundo da invisibilidade, que eles não existem para o estado, são brasileiros cuja cidadania é ignorada. Estou aqui na rua, com policial, com morador, todo mundo perplexo, as pessoas vivendo sob o forte sentimento de medo", disse.