Rio - Com marcas de hematomas nos olhos, pescoço e braços, Danila Areal denunciou uma agressão do seu ex-marido, na noite desta segunda-feira, em uma transmissão ao vivo no Facebook. "Eu estou com medo de morrer. Ele me espancou por mais de uma hora e ninguém fez nada. Não teve polícia e nenhum vizinho veio me socorrer", relata a mulher no vídeo, que tem duração de 12 minutos e já foi visto por mais de quatro milhões de internautas nas últimas 24 horas.
De acordo com a vendedora de 28 anos, a última agressão do homem aconteceu neste sábado — um mês após a separação — na casa dela, em Volta Redonda, no Sul Fluminense. "Eu fui agredida por ele durante oito anos, desde os primeiros meses de relacionamento, mas não tinha coragem de denunciar. Me sentia acuada e envergonhada", revelou ao DIA.
Danila conta que o ex-companheiro, de 39 anos, não entrou em contato após sua publicação nas redes sociais. "A última vez que eu o vi foi no sábado. No entanto, ele mandou dois amigos dele no hospital que eu estava. Acho que para ver o estrago que ele tinha feito". A autonôma conta que o homem soube dos seus planos de compartilhar a agressão e pediu para que uma amiga fosse até sua casa. "Ela foi me acovardar e disse que ele faria coisa pior caso a história vazasse."
Para a mulher, se expor na Internet foi uma saída para se manter viva. “Sempre fui muito vaidosa e me mostrar dessa forma foi o único jeito de pedir ajuda. Eu só queria que alguém pudesse me ajudar, tinha medo de morrer", diz. "No início, a minha sensação era de revolta e medo. Agora é de gratidão. O vídeo me ajudou muito", completa a jovem, que prestou depoimento nesta terça-feira, e conta com o apoio psicológico e jurídico da Casa da Mulher.
"Esse tipo de violência acontece todos os dias. O que aconteceu comigo, acontece com outras milhares. As mulheres morrem por isso e elas precisam denunciar. Quero ajudar outras mulheres", finaliza.
Uma amiga de Danila denunciou o caso para a secretária de Políticas Públicas para as Mulheres de Volta Redonda, Dayse Penna, que diz ter se chocado ao ver o relato da vítima. "Fiz o primeiro acolhimento, perguntei a Danila se ela conhecia os serviços da secretaria. Ela respondeu que não. Então ofereci a ajuda e me coloquei à disposição para qualquer emergência”, contou Dayse.
Ainda segundo a secretária, a atuação da Casa da Mulher nesses casos é importante para que as vítimas tenham um atendimento especializado e o acompanhamento do caso proporciona que os direitos das vítimas sejam respeitados.
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Repercussão nas redes sociais assusta agressor, diz advogado
O advogado Rafael Gonçalves, especialista em Direito de Família, diz que em casos de agressão, a mulher não deve deixar de denunciar e afirma que publicações como a de Danila podem assustar um potencial agressor. "É uma estratégia arriscada por causa da vítima, mas deixa o homem com medo diante da repercussão", afirma Gonçalves, que administra páginas, além de um grupo voltado para o direito das mulheres que conta com 70 mil internautas.
"Todas as integrantes do grupo se mobilizaram em compartilhar a história. As mulheres têm muita força juntas", diz o advogado, que também fez uma campanha de arrecadação para que Danila pudesse custear despesas jurídicas.
Rafael também conta que as mulheres vítimas de violência doméstica ainda precisam enfrentar o machismo em locais que deveriam ser de apoio. "O primeiro questionamento é 'o que você fez para ele bater em você?' Esse tipo de pensamento precisa mudar", alerta.
Reportagem da estagiária Luana Benedito, com supervisão de Thiago Antunes