Rio - A Divisão de Homicídios (DH) da Capital concluiu que um policial militar e traficantes que usavam a farda da corporação mataram a líder comunitária Glória dos Santos Mica, em dezembro do ano passado.
Um dos traficantes identificado é Álvaro Santa Rosa, o Peixão, do Terceiro Comando Puro (TCP) — facção que passou a controlar os pontos de vendas de drogas do Comando Vermelho, dias antes de Glória ser morta. Outro criminoso teve somente o apelido identificado: Tribolado. Já o PM, o cabo Carlos José Costa Júnior, foi preso essa manhã.
Glória foi morta horas após de discutir em uma reunião do conselho comunitário que possui representantes do 16ºBPM (Olaria). Ela não teria aceitado pagar propinas a policiais que davam apoio à nova facção que dominava a Cidade Alta, já que possuía participação no tráfico da quadrilha expulsa. Durante a reunião do conselho, Glória criticou os policias que nada faziam para prender os traficantes do TCP.
"Essa operação se chama Cilada justamente porque a Glória recebeu uma mensagem de telefone após a reunião, provavelmente um policial que ela conhecia. Ao se aproximar do carro, o cabo Costa Júnior, que o dirigia, abaixa o vidro e ela se aproxima. Dois dos quatro homens que estavam no carro eram da Cidade Alta e fizeram disparos contra ela", afirmou o delegado Fábio Cardoso, titular da DH.
Peixão, um dos líderes do TCP, passou a tomar conta dos pontos de venda de drogas após mapear a comunidade com o uso de drones. Há a suspeita de que ele tenha usado o blindado da Polícia Militar, após pagar propinas a policiais, para realizar a ação. Um áudio apontando a ação é alvo de investigação na Polícia Civil, na Polícia Militar e no Ministério Público.
Na época da guerra entre as facções, o então chefe, Rodnei de Menezes Andrade, o Baratão, trocou de quadrilha e passou a dividir o comando do tráfico local com Peixão. "A investigação aponta que toda morte na comunidade tem que ter aval de Baratão. Por conta disso, também pedimos a prisão dele", disse Cardoso.
No dia seis do mês passado, um novo episódio revelou a conivência entre alguns policiais militares com traficantes. Nove sargentos foram transferidos do batalhão após uma operação que resultou na prisão de 49 suspeitos e na apreensão de 33 fuzis e granadas.
Ao DIA, em relação à transferência, o comandante-geral da PM confirmou que ela ocorreu pois "havia suspeitas de possíveis facilidades ilícitas entre os agentes e traficantes".
Na operação desta terça-feira, dez policiais militares (um tenente e nove praças) foram levados para depor coercitivamente em relação à morte de Glória. Entre alguns deles, afirmou a DH, estão os que foram transferidos em maio.