Rio - Agentes da 16ª DP (Barra da Tijuca) tentam localizar a médica anestesista Haydee Marques da Silva, que recusou atendimento ao menino Breno, de um ano e meio, o que ocasionou a sua morte. Ela ainda não é foragida, já que não há pedido de prisão por se tratar de homicídio culposo. Segundo a delegada Isabelle Ponti, caso ao longo da investigação fique provada que ela assumiu o risco da morte da criança, crime pode passar para doloso (quando há a intenção de matar). No início da tarde, os agentes localizaram e entregaram uma intimação à médica. Ela tem até segunda-feira para se apresentar na 16ª DP e prestar depoimento.
"Ela ainda não tem status de foragida porque não existe mandado de prisão contra ela. Estamos tentando localizá-la para ela prestar esclarecimentos. Nós começamos a investigação tratando pela linha do homicídio culposo. A qualquer momento, com as novas provas produzidas, pode ficar caracterizado que a médica agiu com dolo, quando há a intenção de matar ou simplesmente quando ela previu o resultado e assumiu o risco na causação dela", disse, reforçando que caso isso aconteça e ela ainda não seja localizada, pode ser decretada a prisão temporária da médica.
Ponti falou sobre o processo que Haydee respondeu por agressão a uma paciente, em 2010, quando também recusou atendimento. O caso foi revelado com exclusividade pelo DIA nesta sexta-feira.
"Existe uma passagem dela pela polícia semelhante, em 2010, com uma recusa de atendimento a uma mulher que procurou fazer um exame de tomografia. Ela se recusou por algum motivo e houve um comportamento exaltado da vítima. A médica chegou a agredir, arranhar a vítima. O caso foi para o Ministério Público, que ofereceu a transação penal e ao final ela não cumpriu e, por passar muito tempo, acabou extinta a punição."
O DIA teve acesso ao registro de ocorrência feito na 26ª DP (Todos os Santos) e ao processo em que Haydee era ré. A denúncia, de lesão corporal leve, com pena de seis meses ,foi feita somente em fevereiro de 2013.
Em outubro de 2014, o Ministério Público propos à defesa de Haydee uma transação penal, que foi o pagamento de uma cesta básica no valor de R$ 500,40, que nunca chegou à associação que deveria ser destinada. Com isso, a punibilidade acabou extinta em junho do ano passado.
Motorista de ambulância narra recusa de médica
Abalado pelo fim trágico que teve a omissão de socorro da médica Haydee Marques da Silva a Breno Rodrigues Duarte da Silva, de um ano e meio, o motorista da ambulância narrou o episódio que antecedeu a morte do menino. Ele reforçou que a profissional se recusou a prestar o atendimento quando soube se tratar de uma criança. Robson de Almeida Oliveira prestou depoimento na 16ª DP (Barra) nesta sexta-feira. As técnicas de enfermagem — a que trabalha com a família e a que estava na ambulância — e o porteiro do condomínio são esperados na delegacia ainda hoje.
"A gente tinha ido buscar ela (a médica) na residência dela e já tínhamos uma ocorrência na Penha. Em seguida, foi abortada porque apareceu uma na Barra, essa da criança (Breno). Fomos até o local para atender e quando chegamos na portaria pedi para o porteiro anunciar a nossa chegada. Enquanto ele anunciava, a doutora pediu um informe da técnica sobre o nome do paciente. Quando soube da idade, ela começou a gritar comigo, botou o dedo na minha cara. 'Vamos embora, não vou atender a criança nenhuma. Eu vou embora agora, sai daqui agora!', gritando comigo. Eu achei um absurdo, uma médica que é estudada, formada e agir dessa forma. Para mim é errado", contou Robson.
Colaboraram Adriano Araújo e Francisco Edson Alves