Rio - Os criminosos que controlam o tráfico de drogas na comunidade do Jacarezinho e em favelas ao redor sabiam da megaoperação integrada das polícias com as Forças Armadas, que aconteceu na madrugada desta segunda-feira. A polícia monitorou os rádios dos traficantes e interceptou mensagens repassadas por redes sociais que informavam sobre a ação.
Em um dos alertas, os bandidos falaram que iam “dispersar às 3h”. Já em outro áudio, policias verificaram que um rapaz falava para o outro: “Ê, meu mano, tá pelo Jacaré? Aí, cuidado aí. Amigo PQD falou que a cia dele vai partir para o Jaca, Mandela ou Manguin hoje”. A mensagem foi repassada às 20h de domingo, horas antes da operação iniciar.
Às 18h10 de domingo, uma pessoa identificada apenas como PQDT também publicou em uma rede social a seguinte mensagem: “Pronto para mais uma operação... quebrar tudo no Jacaré”.
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A polícia também identificou que às 19h15 outra informação circulava pelas redes. Dessa vez a mensagem era: “Tão falando que o Exército vai entrar no Jacaré. Deus nos proteja”.
Em outra publicação, um homem avisa: “Alô, alô, minha gente, atenção por favor. Eu recebi uma notícia da minha prima agora. Não vou divulgar o nome dela. Ela mandou ficar ligado amanhã para sair para trabalhar porque o exército vai entrar no jacaré essa madrugada. Gente, cuidado aí, por favor. Ela é sargenta do exército. Cuidado aí gente essa madrugada”.
O porta-voz das Forças Armadas, Coronel Roberto Itamar, afirmou em coletiva realizada no início da tarde desta segunda que o vazamento precisa ser investigado. Segundo o coronel, é improvável que alguém da patente do investigado tivesse muitas informações sobre a operação.
Um militar do Exército Matheus Ferreira Lopes, de 19 anos, foi preso suspeito de repassar as informações sobre a megaoperação desta segunda-feira a traficantes nas redes sociais. O soldado foi detido por agentes da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) nesta manhã e levado para a Cidade da Polícia.
Operação convive com o risco de vazamento, diz Jungmann
O ministro da Defesa, Raul Jungmann afirmou durante uma coletiva de imprensa, na tarde desta segunda-feira, que uma operação que conta com sete mil homens convive com o risco de vazamento. Ele também ressaltou que um soldado não tem acesso às informações estratégicas e por isso, a exposição de dados não acarreta em prejuízo para as ações como a de hoje.
Ainda segundo o ministro, o militar estava sendo monitorado pelas Forças Armadas e polícia desde a última operação. No entanto, Jungmann não admitiu se houve vazamento.
Já o secretário Roberto Sá anunciou que houve redução nos crimes de letalidade violenta no mês de julho, comparado o mesmo período do ano passado. Sá ainda comemorou o resultado e lembrou que mesmo com a escassez de recursos a polícia está conseguindo cumprir o seu papel de preservar vidas.
Operação em seis favelas
As forças de segurança realizam, desde a madrugada desta segunda-feira, uma operação em seis favelas: Jacarezinho, Manguinhos, Mandela, Bandeira 2, Complexo do Alemão, Parque Arará. Os agentes também atuam no condomínio Morar Carioca, na Zona Norte. Até o momento, 40 pessoas foram detidas, entre os presos está o recruta do Exército Matheus Ferreira Lopes, de 19 anos.
Também foram apreendidas sete pistolas, duas granadas, 20 motos e sete carros. Além disso, foram encontrados drogas, munição e máquinas caça-níqueis, ainda não contabilizadas, nas comunidades. O efetivo mobilizado é de 5,5 mil homens e mulheres. Foram utilizados ainda 46 blindados e 532 veículos.
Mais de 22 mil alunos sem aulas
A megaoperação das forças de segurança em comunidades do Rio deixou 22.548 alunos sem aulas na manhã desta segunda-feira. O número é recorde neste ano. De acordo com informações da Secretaria Municipal de Educação, 31 escolas, 11 creches e 12 Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDI) não abriram na cidade.