Rio - Mototaxistas do Complexo da Penha protestam, no início da tarde desta terça-feira, na Rocinha, na Zona Sul do Rio. De acordo com as primeiras informações, eles teriam ido ao local após serem obrigados por traficantes da facção Comando Vermelho. Até por volta das 13h30, uma pista da Autoestrada Lagoa-Barra continuava fechada pelos manifestantes. Os motoristas enfrentam retenções.
Segundo a polícia, mais de 40 motoqueiros serão autuados no artigo 262 do Código Penal, que pune quem prejudica o funcionamento de transporte público. As motos também foram apreendida pela PM. O delegado Antônio Ricardo Nunes, da 11ª DP (Rocinha), enfatizou que, se constar que alguma moto é roubada, o suspeito será preso por receptação.
"Não vai passar em branco. Se eles vierem fazer manifestação a mando do tráfico, vão ter as motos apreendidas, serão fichados, vão pagar multa e ainda terão que pagar em insumos para a delegacia. É muita ousadia dos bandidos fazerem isso, mas aqui não terão vez", reforçou. Os detidos são da Maré, Alemão, Fazendinha, Chapadão, Vila Cruzeiro e Penha. O delegado destacou que a "ação seria para demostrar poder e dizer que o CV de fato fechou com o Rogério 157".
Desde a manhã, as 550 militares das Forças Armadas apoiam uma operação da PM em área de mata da Rocinha e do entorno da comunidade. A ação reúne também 550 policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) que já estavam na favela. Os policiais procuram armas, drogas, munições e traficantes. As tropas retornam à região após ocuparem o local por conta da invasão de bandidos de facções rivais há três semanas.
"A operação da PM continua para garantir a segurança da comunidade. Vamos ficar para reestabelecer a paz. Na parte da noite, os resultados operacionais são melhores. Muitas pessoas estão sendo presas e materiais apreendidos. Graças à atuação de inteligência que estamos fazendo foi possível prender o 'Mão' [traficante ligado a Rogério 157]. Vamos continuar", destacou o capitão Maicon Pereira, porta voz da PM.
?Escolas sem aulas
No início desta manhã, os moradores relataram troca de tiros no local. Por causa da operação, algumas escolas não abriram nesta terça-feira. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, 2.489 estudantes ficaram sem aulas em cinco colégios, duas creches e um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI).
Escolas particulares liberaram mais cedo os alunos e funcionários, como foi o caso do Colégio Educacional Santa Ignez, na Gávea. "Muitos funcionários moram na Rocinha e outros precisam passar pela Estrada da Gávea. Para vir foi muito complicado. A van que corta a Rocinha só veio até o meio do caminho e tivemos que descer a pé. O clima está muito tenso", contou uma professora, de 38 anos, que preferiu não se identificar.
Ela disse que, na última sexta-feira, estava dentro de um ônibus com uma amiga quando passou por um tiroteio na localidade 'Largo das Flores'. "Ontem [segunda-feira] durante o confronto as crianças perguntavam: 'Tia é tiro?'. Eu disse que era fogo. No meu caso, dou aulas para crianças de dois anos e elas não entendem muito e tentamos distraí-las. Na troca de tiros, as mães vieram passando mal pegar os filhos. É muito frustante ter que passar por isso", lamentou.
A merendeira da creche, de 43 anos, que também não quis se identificar, afirmou que esta é a primeira vez que a instituição precisa fechar por conta de operações. "Estou há cinco anos aqui. As crianças choram, ficam desesperadas e a gente tenta acalmá-las", completou.
Uma recreadora da creche, de 24 anos, lamentou a violência na região. "Estou grávida há cinco meses e achei que fosse perder meu filho na semana passada. Estava dentro de um ônibus quando o confronto começou. Não sabia o que fazer", acrescentou.
Apesar do confronto nesta manhã, duas empresas de turismo continuaram subindo a favela. "Na sexta-feira, no dia que estavam dando tiros no helicóptero, falamos com eles, mas o guia continuou subindo. Ele disse que iria passar rápido. Falamos com o motorista e ele disse que os turistas estavam pagando mais agora e subiu. Quando eles chegaram na Rua 2, houve o confronto. É uma irresponsabilidade, mas não podemos fazer nada, é o direito de ir e vir deles", destacou.
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