Rio - Policiais da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) fiscalizaram, nesta quarta-feira, o criadouro de jacarés Arurá, em Barra Mansa, no Sul Fluminense. Os agentes estiveram no local após receber denúncias anônimas de uma ONG, relatando que o ambiente estaria desativado e abandonado pelos seus proprietários.
A DPMA informou que 2 mil jacarés foram encontrados no local, que foi fechado pelos policiais. A polícia apura supostos crimes de maus tratos e poluição no criadouro. O veterinário Glenn Collard, um dos mais conceiutados do país, foi autuado pelo crime de maus tratos, mas seus advogados vão recorrer.
A empresária Nina Collard, que administra o criadouro Arurá com o marido, se diz indignada com as acusações. Ela rechaça veementemente que o estabelecimento, localizado na Fazenda Bonsucesso, em Barra Mansa, esteja abandonado e, muito menos, desativado.
“Se estivesse desativado, os animais tinham morrido. Lá estão 1,700 jacarés da espécie papo-amarelo. Houve realmente certo acúmulo de répteis porque há dois anos o único abatedouro de jacarés, que funcionava em Cachoeiras de Macacu, está fechado. Mas os tanques são amplos e ainda comportam a população atual”, defendeu-se Nina, ressaltando que os órgãos ambientais já liberam a volta do funcionamento do abatedouro, o que poderá ocorrer nas próximas semanas.
De acordo com Nina, dos 15 funcionários da propriedade, dois cuidam exclusivamente dos jacarés. “Eles têm o maior carinho e cuidados com os animais. A acusação, feita por duas mulheres de uma Ong que se diz defensora de animais, de possíveis maus tratos, é absurda e já estamos tomando as providências jurídicas cabíveis”, afirmou Nina.
Amigos do casal se disseram surpresos. “Só temos boas referências do criadouro, que inclusive sempre sai em reportagens especiais em diversos veículos de comunicação. Se os proprietários fossem desonestos, estariam abatendo os animais de forma clandestina, o que nunca ocorreu”, afirmou o dentista Luiz Pereira Alves.
Fazenda
O projeto Arurá foi desenvolvido para que os visitantes possam comprar carne e couro de jacaré sem risco de extinção, conhecer a fundo a espécie papo-amarelo e ainda levar artesanatos do tema. O Arurá é único criadouro em cativeiro do estado. Chamado Parque dos Jacarés, o espaço é mantido há 14 anos pela empresa Arurá e monitorado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). Graças a criadouros como este, esse tipo de réptil está se livrando da extinção, segundo especialistas.
“Cada fêmea coloca, em média, entre 25 e 30 ovos. Mas somente pouco mais da metade dos jacarezinhos recém-nascidos consegue sobreviver, por diversos fatores, principalmente climáticos”, ressalta o administrador do criadouro, Marcos Roberto da Silva Campos.
Podendo medir até três metros de comprimento e pesar até 200 quilos, os jacarés-do-papo-amarelo comem em média 150 quilos de carne de frango e boi por dia, e atraem anualmente pelo menos quatro mil alunos de escolas públicas e privadas, em excursões com agendas marcada. No inverno, jacarés não se alimentam.
Diariamente os funcionários fazem medições. “Há dois anos, quando ainda havia abatedouro no estado, só eram abatidos os animais acima de 1 ano e 2 meses de idade, com mais de 48 centímetros de diâmetro e provenientes de fêmeas com características genéticas fora dos padrões recomendados”, garante a empresária Nina Collard.
Para tratar dos jacarés na Fazenda Bonsucesso, todo o cuidado é pouco. A mordida de um animal adulto de grande porte pode atingir força equivalente ao impacto de uma tonelada. Do jacaré nada se joga fora. A carne, o couro, a gordura e os dentes são comercializados.
Estima-se que o Brasil tenha uma população de 20 milhões de jacarés, a maioria em criadouros localizados na região Centro-Oeste. Só o comércio de pele, a parte mais nobre, que se transforma em carteiras, sapatos e cintos, geralmente, supera os 200 milhões de dólares (R$ 748 milhões) por ano.
A legislação atual proíbe a captura do animal para fins comerciais, ao contrário da criação em cativeiros para abate e comercialização, como em Barra Mansa, onde a maior parte dos répteis é preservada.
Além dos animais, que ficam em 62 tanques, protegidos por estufas, numa temperatura entre 30 e 32 graus, há um museu, com um aquário de quatro metros quadrados onde jacarés encostam no vidro. Nessa época do ano, para “acalmar” as fêmeas, os bichos contam até com música clássica ambiente.
No local existe uma feira de artesanato com 30 itens com estampas do animal, entre ímãs, bonés, porta-lápis, porta-copos, porta-retratos, porta-toalhas, camisas, quebra-cabeças, almofadas, móbiles, paliteiros e canecas.
Curiosidades
Os jacarés e seus primos crocodilos e aligátores, surgiram na Terra há 200 milhões de anos. Contemporâneos dos grandes dinossauros, os répteis se destacam pelo cuidado com a prole. O macho forma um harém e após a cópula, a fêmea constrói o ninho próximo à água usando folhas secas, cobrindo-o com areia e lama. Ela se torna mais agressiva para evitar ataques de predadores, como lagartos teiús e quatis.
R$ 5
Valor mínimo de um imã
de geladeira na feira de artesanato. Mas produtos podem chegar a até R$ 100
R$ 10
Preço médio do ingresso cobrado por estudante que visita o Parque dos Jacarés. Escola pública tem desconto
80
Número de dentes que um jacaré tem. Na vida podem chegar a ter três mil, devido à sua rápida reposição