Por thiago.antunes

Rio - No mesmo dia em que autoridades discutem uma possível regulamentação para o turismo em favelas, a cantora Madonna passeou no Morro da Providência, somente com seguranças particulares. A Polícia Militar afirmou que só soube da presença da artista quando ela já estava no local. Ela andou em becos, posou para fotos com PMs e postou em redes sociais, provocando muitos comentários. Ontem, a Justiça Militar mandou soltar os dois policiais presos pela morte da turista espanhola na Rocinha.

Carro que levou turistas espanhóis à Rocinha foi atingido por disparo no para-brisaRafael Nascimento / Agência O Dia

Uma das propostas apresentadas por um comitê formado por autoridades da área de Turismo e de Segurança é adesivar carros com turistas para identificação. O comitê foi formado após a morte de Maria Esperanza, segunda-feira, que foi à Rocinha levada por uma agência, em carro alugado. A turista foi morta com um tiro de fuzil de um policial que teria desconfiado do carro, após supostamente o veículo furar bloqueio policial.

O primeiro encontro do grupo, que conta com representantes das polícias Civil e Militar, da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) e de órgãos municipais e estaduais de turismo, ocorreu ontem na sede da Riotur, na Cidade das Artes.

Reunião discute turismo mais seguro no RioReprodução Internet

O presidente da Riotur, Marcelo Alves, defendeu a obrigatoriedade de adesivos de identificação nos veículos com turistas. "A Riotur convocou os órgãos que fazem o turismo no Rio para debater esse episódio lamentável (na Rocinha) e os próximos caminhos para minimizar fatos que só mancham a imagem da nossa cidade", explicou. O especialista em Segurança Pública Vinícius Cavalcante não aprova a identificação dos carros de turismo: "Em ambiente dominado pela criminalidade, isso é preocupante, pois os criminosos podem usar isso como um salvo-conduto frente às Forças de Segurança".

Segundo o secretário estadual de Turismo, Nilo Sérgio Felix, as agências e os transportadores que prestam serviços serão fiscalizados a fim de retirar do mercado as empresas clandestinas. A ação, que contará com profissionais do ministério e da secretaria, está prevista para 6 de novembro. Segundo a secretaria, o Rio conta com 5 mil agências e 11 mil guias.

Madonna colocou fotos de visita na Providência em seu InstagramReprodução Internet

Os dois sócios da empresa Transport Rent Service Agency, que vendeu a viagem aos espanhóis, além da guia de turismo que estava no carro e o motorista serão indiciados pela Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat). Segundo a titular da especializada, Valéria Aragão, os envolvidos na venda do pacote e no transporte à Rocinha responderão criminalmente por fazer afirmação falsa ou omitir informação relevante sobre o serviço a ser prestado, previsto no artigo 66 do Código de Defesa do Consumidor. "Esse ato irresponsável não pode ficar impune. A Polícia Civil busca a responsabilização criminal esperando que o Poder Judiciário acate essa questão para que isso nunca mais aconteça", afirmou.

Valéria demonstrou apoio à uma futura regulamentação. Segundo ela, no encontro, a Riotur sinalizou com a possibilidade de emitir um comunicado diário para alertar as agências de turismo sobre a situação nas comunidades. A investigadora defendeu, ainda, que as empresas comuniquem aos agentes das UPPs sobre o transporte de turistas, informando a placa do veículo.

Padronização para visitas em favelas

A Associação de Moradores da Rocinha, segundo o presidente Carlos Eduardo da Silva, está desenvolvendo um projeto com a RioTur para fomentar iniciativas turísticas partindo de dentro da própria comunidade: "Queremos padronizar e moralizar as visitas aqui. As empresas turísticas de fora não têm vínculo com a favela, não se comunicam com a gente, isso é um problema". Ele também lamentou a morte da turista espanhola na comunidade. "Ficamos ainda mais sentidos porque não é comum isso acontecer, os turistas visitam muito a Rocinha, gostam, indicam para os amigos", explicou.

A tragédia também gerou preocupação no setor hoteleiro das favelas. Bianca Lima, sócia do Babilonia Rio Hostel, ressaltou a importância do segmento: "Apesar da tristeza com a tragédia, não dá para impedir o turismo nas favelas, fazemos parte da cidade, é um setor que sustenta diversas famílias". Segundo ela, os turistas são atraídos pela curiosidade e pelos preços acessíveis: "Tem vistas lindas, preços menores, além das pessoas realmente quererem conhecer a favela, sabendo que é um lugar rico em cultura, com histórias e pessoas legais, um lugar normal da cidade".

Justiça Militar solta PMs

A juíza Ana Paula Monte Figueiredo Pena Barros, da Justiça Militar, concedeu liberdade provisória ao tenente Davi dos Santos Ribeiro e ao soldado Luiz Eduardo Rangel, ambos da PM, envolvidos na ação que resultou na morte da turista espanhola Maria Esperanza Jimenez.

Em depoimento, Davi reconheceu ter disparado o tiro que atingiu a turista. Na decisão, a magistrada decretou que os acusados sejam afastados das atividades externas.

Com a colaboração da estagiária Nadedja Calado

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