Rio - A Polícia Federal prendeu, nesta quinta-feira, o ex-chefe da Casa Civil do governo de Sérgio Cabral, Régis Fichtner. Os agentes chegaram à casa do ex-secretário, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, por volta das 6h. Desdobramento da Lava Jato, a ação é mais uma fase da Operação Calicute, que prendeu o ex-governador em novembro do ano passado.
O empresário Georges Sadala também foi preso. Ainda nesta manhã, os agentes cumprem outros três mandados de prisão contra os engenheiros Maciste Granha de Mello Filho e Henrique Alberto Santos, e um de condução coercitiva contra o ex-dono da empreiteira Delta Engenharia, Fernando Cavendish, e 14 de busca e apreensão. O empresário Alexandre Accioly, dono da rede de academias BodyTech, também foi alvo de busca e apreensão em sua residência, em Ipanema, e foi intimado a depor. O Ministério Público Federal (MPF) ainda investiga a possível participação dele no esquema de propina que envolvia Cabral.
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A ação foi denominada de "C'est fini", que em francês significa "é o fim". O nome faz uma referência à Farra dos Guardanapos, uma foto em que aparecem ex-secretários e empresários em Paris com guardanapos na cabeça. Pelo menos 85 policiais federais participam da operação desta manhã.
Corrupção em uso de precatórios
Segundo a PF, Fichtner teria recebido uma propina no valor de R$ 1,6 milhão. Os procuradores investigam um esquema de corrupção no uso de precatórios por empresas que tinham dívidas, tributos e impostos com o governo estadual e também por aquelas que tinham interesse em fazer negócios com o estado. Essas empresas procuravam o escritório de advocacia de Fichtner.
O ex-chefe da Casa Civil foi citado no depoimento de um dos operadores financeiros do esquema, Luiz Carlos Bezerra. Ele disse aos procuradores que deu dinheiro a Fichtner. O ex-secretário era conhecido como 'Alemão' ou 'Gaúcho'.
Na ação desta quinta-feira, Cavendish foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento. Ele foi levado, por volta das 6h, de seu prédio na Avenida Delfim Moreira, no Leblon, Zona Sul do Rio.
Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, o empresário disse que pagou 5% de propina em dinheiro para Cabral para que a construtora participasse da reforma do Maracanã. Além disso, os agentes da PF e do Ministério Público investigam a participação de Cavendish para a escolha da empresa nas licitações de obras do Rio Tietê, em São Paulo, e da reforma do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio.
Já o empresário Georges Sadala era um dos sócios de empresas que administrava o serviço Rio Poupa Tempo e representante de um banco que fazia empréstimos consignados para servidores. De acordo com a PF, ele era "leal ao ex-governador". O empresário foi preso em um prédio luxuoso, na manhã desta quinta, na Avenida Vieira Souto, em Ipanema.
Farra dos Guardanapos
O caso ocorreu em setembro de 2009, em Paris, onde Cabral recebeu uma homenagem. Divulgada em 2012 pelo ex-governador Anthony Garotinho, a imagem mostra outros presos na Lava Jato: o ex-dono da empreiteira Delta Engenharia, Fernando Cavendish, que foi preso em julho de 2016 e cumpre prisão domiciliar desde agosto do ano passado; o empresário Sadala; os secretários de Saúde, Sérgio Côrtes, e de Governo, Wilson Carlos. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o episódio pode ter sido uma comemoração antecipada da escolha do Rio como sede da Olimpíada, "por quem mais lucrou com os Jogos".
Em nota, a assessoria de Alexandre Accioly informou que o empresário prestou esclarecimentos a respeito da venda de um imóvel, aquisição de um automóvel e operação de crédito, cujo empréstimo foi integralmente quitado, firmados com Georges Sadala.
De acordo com o texto, todas as transações se deram em real, amparadas por documentação comprobatória e as informações prestadas referem-se a relacionamento de caráter estritamente pessoal, e não se comunicam com as empresas nas quais Alexandre Accioly detém participação.
Já a assessoria do empresário Georges Sadala disse em nota, que ele foi preso preventivamente sem que lhe fosse dada oportunidade de esclarecer previamente os fatos que lhe são atribuídos, uma vez que jamais foi chamado a ser ouvido pelo Ministério Público Federal ou pela Polícia Federal em inquérito policial ou qualquer procedimento investigativo análogo.
"A prisão de Georges Sadala atende propósito meramente simbólico de alcançar último personagem do enredo dos guardanapos, o que se evidencia pelo próprio nome dado à operação policial: ''Cest fini'. Afinal, o empresário teve sua movimentação financeira e a de suas empresas completamente devassadas, não se encontrando qualquer indício concreto de repasses de recursos que lhe são atribuídos por delação isolada e jamais corroborada. O único fato concreto apurado e comprovado – e não negado pelo empresário – é sua amizade com o ex-governador Sérgio Cabral, o que, por si só, não remete à prática de crime, nem à necessidade da prisão cautelar, de modo que confia que essa medida extrema será revista pelo próprio Poder Judiciário", diz um trecho da nota.