Áurea não recebe mais as encomendas em casa e ainda terá de pagar - Daniel Castelo Branco
Áurea não recebe mais as encomendas em casa e ainda terá de pagarDaniel Castelo Branco
Por FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - O Procon estadual repudiou ontem a cobrança extra de R$ 3 que os Correios passarão a fazer para entregas no Rio de Janeiro, a partir do dia 6 de março, sob alegação de "aumento da violência na cidade". "Além de tratar os consumidores cariocas de maneira diferente (de outros municípios) sem o devido amparo legal, a medida transfere para o consumidor uma responsabilidade que não é dele. O setor jurídico do Procon-RJ está estudando as medidas que serão adotadas para impedir essa cobrança", adiantou o órgão.

A medida, além de deixar os consumidores indignados, também movimentou a Defensoria Pública da União (DPU), que deu prazo de cinco dias para que os Correios apresentem justificativas, "fundamentadas em estudos e planilhas", sobre os motivos que levaram a empresa a anunciar a criação da taxa. O defensor público federal, Daniel Macedo, recomendou ainda, através de ofícios às direções nacional e regional, que a empresa "se abstenha de qualquer tipo de cobrança extra até que apresente justificativas satisfatórias".

"Se não houver resposta ou comprovações documentais para a taxa, que pode abrir precedentes junto a outras prestadoras de serviços, a DPU vai ingressar com ação coletiva nacional contra os Correios. Além disso, qualquer taxa tem que ter aprovação dos ministérios da Fazenda e das Telecomunicações", afirmou.

A empresa argumenta que a medida tem como base a violência que seus funcionários estão enfrentando. O reajuste anual da empresa no país ficou em 8%. A PF informou que os 2 mil roubos de cargas registrados no estado, ano passado, são 5% menores que em 2016.

Em nota, os Correios ponderaram que "a taxa extra, de caráter emergencial, poderá ser cancelada a qualquer momento, desde que a violência seja controlada". A empresa não respondeu aos questionamentos do DIA sobre que fonte usará para medir a redução da violência.

Uma das clientes que entoaram o coro contra a cobrança, a administradora Áurea Patrícia de Souza, de 33 anos, conta que desde novembro a empresa não entrega mais as compras que ela faz pela internet, em Santa Teresa. "Essa atitude deles é um absurdo", reclamou ela que tem de buscar as encomendas na central de distribuição da Cidade Nova. Já o funcionário público Pablo Pontes, 43, morador do Centro, não tem problemas com entregas, mas também é contra a taxa. "É uma falta de respeito com a gente."

Sem amparo na legislação
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O advogado Márcio dos Anjos considera a cobrança abusiva. "Sem concorrente, a empresa, que deve assumir o ônus de riscos e não o consumidor, não dá chance de escolha ao cliente. A legislação não fala em taxas pela violência".
Já para a advogada Giselle Farinhas, a taxa não é ilegal e nem imoral. "A intervenção federal já denúncia a gravidade da situação. É evidente a falência do estado na segurança, o que afetou esse serviço essencial", defendeu ela.
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"A cobrança é preconceituosa, passível de ação cível pública. A empresa não pode burlar o Código de Defesa do Consumidor, que só permite taxas por lei. Imagina se todas as concessionárias pleitearem a mesma coisa", opinou o presidente da Associação Nacional de Assistência ao Consumidor e ao Trabalhador (Anacont), José Roberto de Oliveira.
Carlos Eduardo Carvalho, advogado do Programa Reclamar Adianta, disse que a empresa não pode instituir taxa "baseada apenas em subjetividade". "Do contrário é discriminação".
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