Policiais militares do Batalhão de Choque fizeram operação na Vila Kennedy, em Bangu, ontem. Foram mapeados pelo menos 42 pontos de barricadas na favela e tiros assustaram moradores - Reprodução / Factual RJ
Policiais militares do Batalhão de Choque fizeram operação na Vila Kennedy, em Bangu, ontem. Foram mapeados pelo menos 42 pontos de barricadas na favela e tiros assustaram moradoresReprodução / Factual RJ
Por Bruna Fantti

Rio - A utilização de técnicas militares por criminosos é apontada em relatórios da Polícia Militar e das Forças Armadas como um dos agravantes em territórios conflagrados. De acordo com reportagem do jornal 'O Estado de S Paulo', instrutores com conhecimento militar, como ex-paraquedistas e ex-fuzileiros navais, recebem de R$ 3 mil a R$ 5 mil por hora de aula valor que pode chegar a R$ 50 mil em uma semana.

"A própria utilização de barricadas, reforçadas com cimento em tonéis, é uma prática militar. PMs das UPPs utilizam esses tipos de tonéis para proteger bases no Complexo do Alemão, por exemplo", afirmou um oficial do Comando de Polícia Pacificadora, que preferiu não se identificar.

Desde 2013, a Secretaria de Segurança Pública do Rio realiza relatórios que apontam tanto ex-militares das Forças Armadas quanto ex-policiais que passam a praticar crimes ou treinar traficantes para confrontos com policiais.

Nos documentos, figuram exemplos de chefes do tráfico que receberam treinamento militar. Entre eles, está Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, morto em 2015 e que aos 20 anos foi expulso da Aeronáutica após participar de um arrastão; Marcelo Santos das Dores, o Menor P, que foi paraquedista; além de Marcelo Cavalcanti, conhecido como Marcelo PQD, por ter integrado a Divisão de Paraquedistas.

Há cinco anos, campos de treinamentos móveis foram detectados nos morros da Mangueira, em São Cristóvão, Macacos, Vila Isabel, Jacarezinho, Méier, Rocinha, em São Conrado; além das comunidades do Alemão e da Penha.

Na invasão da Rocinha, em setembro, um relatório da PM que investiga a locomoção dos traficantes de São Carlos para a comunidade, aponta a gesticulação dos criminosos como "indício de treinamento militar".

Além disso, a apreensão de fardas de camuflagem na mata passou a ser mais frequente, após a implantação das UPPs. "A Polícia Militar frequentemente estoura acampamentos na mata utilizados por traficantes em São Gonçalo e na área da Floresta da Tijuca. A chamada segurança do bonde do Marreta e da Russa (traficantes) se locomove pela mata, da Covanca até Quintino e ficam dias na mata. Para se viver na mata é necessário um conhecimento diferenciado nessa área, um conhecimento técnico", afirmou o porta-voz da corporação, major Ivan Blaz. Segundo o oficial, não há campos de treinamentos fixos.

A Polícia Civil aponta táticas de guerrilhas por parte de traficantes. Um agente da Dcod afirmou, em agosto do ano passado, que coquetéis molotov são atirados nos blindados. "Não danifica a lataria e eles sabem disso. O objetivo é sufocar os policiais com a fumaça", afirmou.

Ao Estado, um oficial com larga experiência na missão de estabilização do Haiti afirmou que "não há gente de ponta entre esses marginais: os melhores quadros ficam na tropa, mesmo depois de cumprido seu termo de trabalho". Procurado, o Comando Militar do Leste não se manifestou.

Cariocas vão notar diferença
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O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, disse que os cariocas perceberão as ações da intervenção federal em breve. O general usou sua conta no Twitter para comentar a reunião que teve durante a manhã com o interventor federal na segurança pública do Rio, general Walter Braga Netto, e o secretário estadual de segurança pública nomeado após a intervenção, general Richard Nunes.
"Após reunião com o general Braga Netto, reforço a minha convicção de que o planejamento e as ações em andamento, breve serão percebidas pela sociedade carioca. Vamos nos unir, para que esta janela de oportunidade permita a recuperação da capacidade operacional da segurança pública do Rio de Janeiro", escreveu Villas Bôas.
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Barricadas de volta às ruas
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Moradores da Vila Kennedy, na Zona Oeste, relataram que as barricadas do tráfico de drogas retiradas pelas Forças Armadas, na operação que durou todo o sábado, já estavam de volta nas ruas cinco horas depois.
O DIA apurou que a Polícia Militar mapeou pelo menos 42 pontos de barricadas na favela, muitos colocados perto de igrejas e escolas. Segundo o CML, "novas operações continuarão a ser feitas para a remoção dessas barricadas que visam não somente a evitar o acesso da polícia, mas também a chegada dos serviços essenciais".
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No domingo, PMs da UPP fizeram operação no local e houve confronto. Na ação, um idoso morreu após ser baleado durante uma troca de tiros. Valdir Vieira da Silva, de 66 anos, foi atingido com um tiro na cabeça.
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