Rio - O Complexo da Maré está de luto pelo assassinato da vereadora Marielle Franco. Nascida e criada no conjunto de favelas, a parlamentar decidiu começar a militar em direitos humanos após perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes na região onde ela começou a sua luta por igualdade. ONGs, coletivos e moradores lamentaram a sua morte.
"Marielle era uma importante representação política na cidade e no país. Ela carregava o sonho de muita gente. Na noite que passou, milhares não conseguiram dormir com o gosto amargo da decepção, abandono e impunidade. Nos unimos a esses e exigimos uma investigação imediata e correta do crime", postou o Observatório de Favelas, com sede na Maré, em sua página em rede social.
A entidade Redes da Maré também se manifestou sobre o episódio. "O assassinato brutal de Marielle é uma clara tentativa de intimidar e calar a voz daqueles que, como ela, acreditam que é possível construir uma sociedade que respeite as pessoas, respeite as diferenças, seja mais solidária, aberta e livre de preconceitos", escreveu em seu site.
O coletivo Maré Vive, página que relata principalmente as violações que ocorrem no Complexo de favelas, usa uma foto de perfil que remete à Marielle Franco, além da frase "Eu sou porque nós somos", usada por ela na campanha de sua candidatura à vereadora no Rio em 2016, na qual foi eleita como a quinta mais votada na cidade. A frase vem das línguas zulu e xhosa, faladas na África do Sul, onde significa ubuntu.
"Continuaremos a sua luta e vai ser maior a cada dia. É o que podemos dizer neste momento de muita dor. Pedimos orações e energias positivas para familiares e amigos", diz parte da postagem da página em rede social.
Moradores também lamentaram a morte de Marielle. "A Maré viverá para sempre nos sonhos da Marielle. Ela foi o exemplo político máximo de tudo o que a Maré - e as comunidades cariocas - significam: resistência. Que a sua voz nunca seja calada", diz um internauta.
"Nós moradores da Maré estamos chorando nesse momento sem acreditar nessa tamanha covardia, ela lutava bravamente com garra naquilo que ela acreditava, suas memórias ficaram guardadas pra sempre", escreveu uma moradora.
Quem foi Marielle
Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco, nasceu no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, era socióloga e foi eleita vereadora da Câmara do Rio com 46.502 votos, na última eleição. Se formou pela PUC-Rio em Ciências Sociais e fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com o tema "UPP: A redução da favela a três letras". Ela coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado do deputado Marcelo Freixo. A vereadora também trabalhou em organizações não-governamentais, como a Brazil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (CEASM).
Ela decidiu pela militância em direitos humanos após ingressar no pré-vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré.
No domingo, a vereadora denunciou, conforme mostrou O DIA, uma ação de PMs do 41º BPM (Irajá) na favela de Acari. Segundo ela, moradores reclamaram da truculência dos policiais durante uma abordagem na região. Ela compartilhou uma publicação em que comenta que rapazes foram jogados em um valão. De acordo com as denúncias, no último sábado, os PMs invadiram casas, fotografaram suas identidades e aterrorizaram populares no entorno.
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"Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando os moradores. Nessa semana, dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje, a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior", escreveu Marielle.