Por O Dia

Rio - Os Correios afirmam que não há registro de desvio de carga pertencente à Polícia Federal no passado recente. A estatal se posiciona um dia depois de o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmar que munição do mesmo lote da que matou a vereadora Marielle Franco foi roubada em uma agência dos Correios da Paraíba. A empresa diz que está apurando as informações.

Em nota, os Correios explicam que não aceitam postagem de remessas contendo armas ou munição, exceto quando autorizado por legislação específica. Neste caso, o tráfego, via Correios, submete-se a regulamento específico.

Por serem uma empresa pública, situações envolvendo armas, munições, drogas e outros itens proibidos no tráfego postal são encaminhadas à Polícia Federal, para investigação. A nota diz que um inquérito já foi instaurado pela PF no Rio de Janeiro.

Entenda o caso

O ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou ao jornal O Estado de S.Paulo nesta sexta-feira que os cartuchos encontrados no local onde a vereadora Marielle Franco (PSOL) foi assassinada pertenciam à Polícia Federal e que foram desviadas "há vários anos". Segundo o ministro, a PF abriu mais de 50 inquéritos para descobrir os responsáveis pelos desvios das munições.

Ainda de acordo com Jungmann, a PF já mapeou munição desse lote roubada em uma agência dos Correios da Paraíba e, também, desviada por um escrivão da Superintendência da Polícia Federal no Rio. No caso do escrivão, o ministro afirmou que o policial foi preso e exonerado.

A PF instaurou um inquérito nesta sexta-feira, 16, para apurar como a munição comprada pela corporação, em 2006, foi utilizada no assassinato da vereadora. A descoberta sobre a origem da munição foi feita pela Polícia Civil fluminense.

Segundo os investigadores, a munição faz parte do lote UZZ-18 comprado pela PF, em 2006, da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC). Cápsulas de munições do mesmo lote também foram encontradas no local da maior chacina do Estado de São Paulo, em agosto de 2015, quando 17 pessoas foram mortas em Osasco e Barueri. Sobre a munição encontrada nos crimes na Grande São Paulo, o ministro não soube informar se houve conclusão da investigação a respeito.

Marielle foi assassinada na noite de quarta-feira, 14, após reunião com grupo de mulheres negras na Lapa, no centro do Rio de Janeiro. Os assassinos alvejaram quatro vezes o rosto da parlamentar. Outras três balas mataram o motorista dela, Anderson Pedro Gomes.

"A PF está fazendo todo o rastreamento de dados e vai muito brevemente as conclusões a que chegou. A PF disponibilizou seu melhor especialista em impressão digital e DNA para colher material dessas cápsulas, porque a PF tem um banco de dados de material", disse Jungmann.

O Estado de São Paulo apurou que o lote de munições comprado em 2006 é visto internamente como "problemático" pela PF. O principal ponto seria o tamanho do lote. Embora a PF não revele informações, a reportagem descobriu que o lote foi um dos maiores já comprados pela corporação. A aquisição dessa munição foi uma das primeiras realizadas pela PF após a regulamentação da necessidade de identificação do lote prevista no Estatuto do Desarmamento.

Por causa do tamanho do lote, essa munição foi espalhada pela PF para todos suas superintendências nos 26 Estados e no Distrito Federal. Outra dificuldade que a PF enfrenta para descobrir quem desviou as munições para os bandidos é a falta de controle sobre o material recebido por cada policial. Com base no lote, a PF sabe apenas qual superintendência estadual recebeu, mas não consegue apontar quem é o policial responsável por ela.

*Com informações de Estadão Conteúdo

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