Fachada do Hospital Federal de Bonsucesso - Reprodução Internet/ Google Maps
Fachada do Hospital Federal de BonsucessoReprodução Internet/ Google Maps
Por Agência Brasil

Rio - A emergência do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), inaugurada no mês passado, será fechada a partir de sábado. A decisão foi motivada por falta de pessoal e foi tomada pelo corpo clínico da unidade, em reunião na segunda-feira, e anunciada em coletiva de imprensa nesta quinta na porta do hospital, na Zona Norte do Rio.

Segundo o presidente do corpo clínico do hospital, Baltazar Fernandes, o HFB nunca teve tradição de fazer atendimento emergencial de trauma. "Isso é cultural, você não muda o perfil do hospital assim, de uma hora para outra. A cirurgia de emergência aqui sempre esteve voltada para doenças inflamatórias, como úlcera perfurada, apendicite, colicistite. E a cirurgia geral também seria para doenças inflamatórias. O objetivo do hospital é atender a complexidade do entorno, das UPAs (unidades de Pronto Atendimento) do entorno, podia ser uma referência para esses tipos de patologia que estão dentro do perfil do hospital", disse.

Há 40 anos atuando nos quadros da unidade, ele diz que sempre houve carência de recursos humanos no HFB, mas logo era buscada uma solução. "Agora, essa demora na solução, que é basicamente questão de RH, isso é inédito para a gente. O (Hospital) Sírio-Libanês fez uma auditoria aqui no hospital, contratada pelo Ministério da Saúde, e constatou que tem um deficit de 700 médicos. Na emergência, hoje, deveria ter 120 profissionais. Tem plantão que não tem cirurgião, tem plantão que tem um clínico. Precisaria pelo menos de cinco anestesistas, quatro cirurgiões, cinco clínicos e quatro pediatras, nas especialidades básicas".

Em junho do ano passado, médicos do HFB denunciaram as más condições de funcionamento e atendimento da unidade em carta aberta à população.

O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Nelson Nahon, criticou o fato de o Ministério da Saúde abrir uma emergência com 3 mil metros quadrados e 60 leitos, sem profissionais suficientes para atender a demanda. “Anuncia que vai abrir uma emergência de primeiro mundo, maravilhosa, toda linda lá dentro, toda a aparelhada, piso bonito, leitos bonitos, tudo bonito. Sem médico, sem enfermeira, sem agente administrativo", disse

Segundo Nahon, a direção do hospital foi obrigada a abrir a emergência mas indicou na ocasião que faltavam 950 profissionais de saúde para o pleno funcionamento da unidade. “Estivemos aqui na quarta-feira passada com 67 pacientes internados, oito no corredor, quatro mulheres entubadas na enfermaria, dois pacientes improvisados numa sala vermelha faltando monitor e tinha um clínico de plantão”, relatou.

Esperando atendimento na manhã de hoje, ao lado do ato dos médicos, a dona de casa Maria Célia da Silva disse que foi atendida na UPA e encaminhada para “um hospital grande”, mas não conseguiu uma consulta no HFB.

“Estou esperando atendimento na urologia, estou há três dias passando mal, sem urinar direito. O último exame deu cálculo renal, cheguei aqui hoje no hospital mas mandaram procurar outro hospital. Fui na UPA, mas a UPA faz o procedimento dela e manda ir embora, procurar um hospital grande que tem as especialidades certas. Aí você procura e não tem. Aí não sei, vou continuar tentando, a gente não pode obrigar ninguém a fazer nada, infelizmente”.

Ministério da Saúde

Em nota, a direção do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), do Ministério da Saúde, informa que contratou de forma emergencial, nesta semana, quatro clínicos, três cirurgiões e um pediatra para o setor de urgências do Hospital Federal de Bonsucesso. “Além disso, já foram convocados para assinatura de contrato outros quatro clínicos, 12 enfermeiros, seis auxiliares de enfermagem, quatro fisioterapeutas e um técnico de patologia. São 35 novos profissionais para reforçar imediatamente o atendimento do setor”.

Segundo a nota, a direção do DGH também aguarda a “conclusão do processo para contratação de profissionais para atuarem nos seis hospitais federais do Rio de Janeiro, inclusive no setor de emergência do HFB. O pedido está em tramitação no Ministério do Planejamento e estima-se que as contratações sejam autorizadas ainda neste mês de março”.

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