Rio - A Favela Bateau Mouche, na Praça Seca, na Zona Oeste, viveu mais uma madrugada de horror. Durante horas, o intenso tiroteio entre quadrilhas de milicianos e traficantes de drogas impediu que moradores e estudantes saíssem atrasados para o trabalho e escola, respectivamente. E, quando um dos bandos deixou o local, para alívio de moradores, quem entrou em pânico foram motoristas que passavam pela Rua Cândido Benício em plena hora do rush.
Por volta das 7h desta segunda-feira, bandidos foram flagrados fortemente armados deixando a Bateau Mouche. O flagrante foi feito pelo helicóptero da TV Globo, para o Bom Dia Rio. Os criminosos, alguns com capuz e roupas camufladas, fugiram em pelo menos cinco carros para a Favela da Chacrinha, que fica do outro lado da Rua Cândido Benício.
Na travessia, alguns criminosos apontaram armas para motoristas que estavam na via e bloquearam o trânsito. Muito tempo depois, a Polícia Militar enviou o 18º BPM (Jacarepaguá) e o Batalhão de Operações Especiais (Bope) ao local. O clima tenso na região tem reflexo no comércio. Muitos lojistas não abriram suas portas nesta segunda-feira.
Uma moradora da comunidade, que pediu para não ser identificada, contou o drama que ela e vizinhos têm vivido nos últimos meses:
"A situação é desesperadora na Bateau Mouche. Há cerca de dois meses começou uma guerra entre traficantes e milicianos e, desde então, os tiroteios são praticamente diários. Foi assim durante o Carnaval também", disse ela.
A PM informou, às 12h13, que "foi acionada pela Central 190 e, na chegada das equipes, os criminosos fugiram para o interior das comunidades. Até o momento, não há notícias de confrontos. Três veículos (um Jeep Renegade vermelho, um Toyota Etios prata e um Honda HRV marrom), todos roubados e aparentemente utilizados pelos criminosos, foram recuperados na Estrada Comandante Luís Souto. Já na Rua Fernandes, também no interior da Bateau Mouche, os PMs encontraram uma granada, aparentemente de luz e som, em frente a uma igreja. O Esquadrão Antibombas da Polícia Civil foi acionado para a retirada do artefato, e os veículos recuperados, levados para o Pátio Legal".
O porta-voz da PM, major Ivan Blaz, se pronunciou:
"Há vários meses estamos lidando com essa situação na região, dessa guerra entre traficantes e milicianos. A ação dos criminosos não respeita a vida das pessoas, então é necessário a polícia intervir nesta questão", disse o oficial.
Guerra na Praça Seca
A disputa entre milicianos e traficantes é antiga na região. Na última semana o tráfico teria conseguido invadir a favela Bateau Mouche com a ajuda de homens da Cidade de Deus. Nesta madrugada uma nova etapa da guerra, que começou em junho de 2017, e que parece sem fim, voltou a ser desenhada, deixando moradores no meio do fogo cruzado.
Segundo a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), a prisão de Anderson Luiz dos Santos, o Dande, que seria o chefe da milícia, em dezembro do ano passado, acirrou a disputa. Dande e Hélio Albino Filho, o Lica, disputam o controle, com tiroteios entre o Bateau Mouche e a Chacrinha.
Lica é procurado da Justiça. O Disque-Denúncia (2253-1177) oferece R$ 2 mil de recompensa para quem der informações que levem à sua prisão. Entre as denúncias, está a de que desde a prisão de Dande o preço do gás aumentou na região.