Falta d'água no IML atrasou liberação do corpo de Davidson Farias - Lucas Cardoso/ Agência O DIA
Falta d'água no IML atrasou liberação do corpo de Davidson FariasLucas Cardoso/ Agência O DIA
Por Lucas Cardoso

Rio - A família de Davidson Farias, de 28 anos, vítima de bala perdida nesta quinta-feira, na Rocinha, Zona Sul, precisou aguardar por mais de 16 horas para conseguir a transferência do corpo do ajudante de pedreiro de Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na favela para o Instituto Médico-Legal (IML), em São Cristóvão, na Zona Norte.

"Ficamos a noite toda aguardando a transferência dele sem que os funcionários da UPA nos dessem uma justificativa para a demora. Aí, quando chegamos aqui no IML, está sendo mais uma jornada para a liberação do corpo", contou Cleyton Farias, de 37, primo da vítima. 

Davidson é a 12ª pessoa morta na comunidade de São Conrado nos últimos oito dias. Segundo parentes da vítima, o ajudante de pedreiro foi atingido quando estava na varanda de casa, enquanto segurava sua filha de seis meses no colo, por volta das 16h40 de quinta-feira. Ele morreu minutos depois nos braços de um irmão, segundo familiares. Na UPA, ele deu entrada por volta das 17h30. E só chegou ao IML às 10h desta sexta-feira. 

"Ele estava voltando com um amigo de uma pescaria. Tinham terminado de limpar todos os peixes para o almoço da Sexta-feira Santa quando a tragédia aconteceu", disse Ingrid Farias, prima de Davidson.

Inconformados com a morte de Davidson, os primos dele questionaram a conduta dos policiais militares.

"Eles atiraram sem ter motivos, não estava acontecendo nenhum confronto. Se eles tivessem pelo menos resgatado meu primo, talvez ele estivesse aqui conosco agora", diz Ingrid. Após o disparo, Davidson e sua filha caíram no chão. A criança chegou a ser atendida na UPA e foi liberada, logo em seguida, apenas com escoriações.

Durante a manhã desta sexta-feira, a exemplo dos parentes de Davidson, outras famílias aguardavam por horas pela liberação de seus familiares. A causa da demora, segundo testemunhas que aguardavam no local, era a falta d'água para a higienização dos mortos. O cadáver de Davidson foi liberado para o funeral no fim da tarde desta sexta-feira. O enterro acontecerá neste sábado no Cemitério São João Batista, em Botafogo. O horário ainda não foi definido.

Indagada pelo DIA sobre a demora na liberação do corpo da UPA para o IML, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que quem emite a guia de remoção do cadáver é a autoridade policial. E informou que a polícia foi comunicada da morte pela UPA na quinta-feira. Já a Polícia Civil limitou-se a dizer que não tinha essa informação para repassar à imprensa.

Irmão faz homenagem no Facebook

Um dos irmãos de Davidson, Diogo Farias, postou um vídeo no Facebook se despedindo e lamentando a morte do ajudante de pedreiro. No vídeo feito em homenagem à vítima, o parente utilizou a seguinte mensagem:

"Irmão, meu caçula, estamos desolados com o ocorrido. Não há palavras para descrever tamanha violência, tamanha maldade. O que fizeram com você não tem explicação. Te amamos muito". 

Em nota, a Polícia Militar afirmou que PMs do Batalhão de Choque (BPChq) patrulhavam a localidade conhecida como Vila Verde, na tarde desta quinta-feira, quando ouviram disparos. Ainda de acordo com a corporação, não houve revide por parte dos militares, que, só em seguida, tomaram conhecimento de que um homem teria sido baleado. Os policiais envolvidos fazem parte da Ação Continuada na Rocinha. 

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