Desde o início da intervenção, militares reforçam patrulhamento no Rio - Estefan Radovicz / Agência O Dia
Desde o início da intervenção, militares reforçam patrulhamento no RioEstefan Radovicz / Agência O Dia
Por NADEDJA CALADO

Rio - Uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada ontem, apontou que um terço dos cariocas se viu em meio a um tiroteio e 8% foram vítimas ou tiveram um parente atingido por bala perdida no último ano. Juliana Cavalcante de Oliveira entrou para essa estatística na manhã de ontem, quando foi baleada no braço ao andar em uma rua no Lins de Vasconcelos, na Zona Norte.

O disparo, segundo a PM, foi feito por um homem que, abordado por dois policiais militares, tentou pegar o fuzil de um deles. A vítima foi socorrida ao Hospital Naval Marcílio Dias e seu estado de saúde não foi divulgado. O suspeito Aldrey Bittencourt, 19, também atingido, foi socorrido, medicado e levado para a Cidade da Polícia, no Jacaré.

Casos como o de Juliana fundamentam outro dado revelado pela pesquisa: 92% dos cariocas temem ser vítimas ou ter um parente vítima de bala perdida. No ano passado, a cada uma hora e quarenta minutos, uma pessoa foi baleada no estado, totalizando mais de 5 mil pessoas, considerando apenas dados das emergências federais e estaduais, e municipais da capital.

Para o diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança, Vinicius Cavalcante, uma das causas dessa letalidade é a banalização de armamentos pesados, como o fuzil de que partiu o disparo que atingiu Juliana. "O que costumava ser raro, hoje é comum, já se usa fuzil em assalto à loja da esquina", defendeu.

"Os números não mentem, não é só uma sensação. As notícias somem rápido porque são substituídas por outras tragédias, a morte de ontem é esquecida pela de hoje", afirmou o delegado da Polícia Federal, Antonio Rayol.

A pesquisa, feita entre os dias 20 e 22 de março, mostra ainda que 73% dos moradores gostariam de deixar a cidade por conta da violência.

O empresário Marcio Carvalho, 42, concordou com os resultados da pesquisa. Há cerca de dois meses, ele perdeu um amigo, Christiano Mendonça, também 42, baleado na clavícula em uma tentativa de assalto na Vila da Penha. "Antigamente se dizia que você acha que nunca vai acontecer com você, hoje é o contrário: vai acontecer com você, você só não sabe quando. Estamos empilhando corpos, empilhando dores. O pior é não ter nenhuma perspectiva de melhora da situação", desabafou.

Fuzileiros navais reforçam patrulhamento na orla
Publicidade
Militares da Marinha começaram ontem a patrulhar a orla da Zona Sul do Rio. O anúncio foi realizado pelo Comando Conjunto da intervenção federal no Rio que destinará mais agentes para o patrulhamento diário das ruas da capital fluminense. De acordo com o porta-voz do Comando Militar do Leste, coronel Carlos Cinelli, um total 165 militares e 100 guardas municipais vão atuar na orla desde o Aterro do Flamengo até o Leblon.
O patrulhamento com militares nas ruas começou há uma semana, e alterna pontos de patrulhamento fixos com policiamento em motos. Já na Zona Norte, ontem, a Polícia do Exército realizou patrulhamento na frente do Shopping Tijuca.
Publicidade
O DIA apurou que para a escolha das ruas que terão o reforço de militares, os militares utilizam o ISPGeo, uma ferramenta de análise criminal. O programa é atualizado duas vezes ao dia. Assim, as polícias podem saber o local da chamada mancha criminal diariamente, ou seja, onde os crimes possuem maior concentração.
Publicidade
Homicídios caem 9% em fevereiro
O número de mortes violentas no estado do Rio em fevereiro deste ano caiu 9,2% em relação ao mesmo mês do ano passado, mas o número ainda é alto: ao todo, foram 561 casos, ou seja, 19 homicídios por dia.
Publicidade
Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), ligado à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Seseg).
Deu um salto o número de mortes decorrentes de intervenção policial, os chamados autos de resistência: foram 100 em fevereiro último, contra 85 em 2017, um aumento de cerca de 17%.
Publicidade
Também em fevereiro, o estado registrou ainda sete roubos de carro por hora, ou 171 por dia - um aumento de 11,8% em relação a 2017. Somente na capital fluminense foram 2.364 crimes do tipo, ou seja, 342 a mais que no ano passado.
O relatório do ISP faz ressalva acerca dos registros de crimes contra o patrimônio, como roubo a transeuntes, no período de janeiro a abril de 2017, quando houve paralisação nas atividades de várias delegacias, e só eram registrados casos de crimes contra a vida ou de roubos de veículos.
Publicidade
Você pode gostar
Comentários