A Cadeia de Benfica é uma das unidades prisionais do Rio. Hoje, em todo o Brasil, há 726 mil presos - Foto de Maíra Coelho / Agência O Dia
A Cadeia de Benfica é uma das unidades prisionais do Rio. Hoje, em todo o Brasil, há 726 mil presosFoto de Maíra Coelho / Agência O Dia
Por ADRIANA CRUZ

Rio - Uma equipe da Corregedoria da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) fica de olho 24 horas no sistema de monitoramento em cinco cadeias e no Hospital Penitenciário. A fiscalização online foi implantada pelo novo corregedor, o delegado federal Fábio Marcelo Andrade, como mais uma cartada no combate à corrupção.

Os alvos do 'big brother' são as Cadeias Públicas José Frederico Marques, em Benfica, que ficou conhecida pelos escândalos de mordomias para presos da Lava Jato, e Petrolino Werling de Oliveira, Bangu 8, que hoje abriga o ex-governador Sérgio Cabral, além de Bangu 1 e Bangu 3, dividido entre as unidades Serrano Neves e Gabriel Ferreira Castilho, onde estão os chefões do Comando Vermelho (CV).

Em entrevista ao DIA, Andrade, de fala mansa, manda o seu recado. "Não há caça às bruxas. Agora, as normas precisam ser cumpridas por presos e agentes", afirmou. Para aumentar o poder de investigação do corregedor, o secretário David Anthony determinou que a Superintendência de Inteligência Penitenciária (Sispen) fique subordinada à Corregedoria. "Daqui do meu gabinete, na Central do Brasil, também tenho acesso às imagens. Vamos mudar uma cultura. Seremos pró-ativos, com capacidade de fiscalização em tempo real", declarou David Anthony.

Investigar é o verbo mais usado por Andrade. Para isso, ele pretende buscar parcerias ainda com o Ministério Público. "Hoje não há mais espaço para trabalho isolado. Estou motivado pelo desafio. Não vai ser fácil. Isso aqui não é parque de diversão", avaliou o delegado, que assumiu o cargo quinta-feira, um dia depois do retorno de Cabral, condenado em cinco processos a penas que somadas chegam a 100 anos.

"Todos são fiscalizados. A equipe da Corregedoria, que faz o monitoramento das câmeras, também faz relatórios para os diretores. Então quem quiser cometer crimes vamos trabalhar para que ele responda com o que há no Código Penal", disse Andrade, com a experiência de 15 anos na Polícia Federal, onde atuou no Grupo Especial de Investigações Sensíveis (Gise-RJ), considerado uma espécie de órgão de elite.

Uma das unidades que mais passou por um pente-fino foi Benfica, construída para atender presos da Lava Jato, como Cabral e o ex-secretário de Gestão dele, Wilson Carlos. Medidas para colocar a 'casa' em ordem foram tomadas, como avaliar as carteiras de visitantes e os processos para visita íntima. "Estamos aqui para mudar um modelo. Todos sabem o que é certo ou errado ponto", analisou Andrade.

Os últimos dois secretários da Seap estão encrencados com a Justiça: coronel PM César Rubens está preso, acusado de corrupção, e o coronel PM Erir Ribeiro responde por ação de improbidade administrativa.

Justiça ainda não decidiu transferência de Cabral
Ministério Público apreendeu alimentos importados em Benfica
Ministério Público apreendeu alimentos importados em BenficaTabata Teixeira Uchoa
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Os advogados de Sérgio Cabral, Rodrigo Roca e Renata de Azevedo, aguardam a decisão da Justiça sobre a transferência dele para a Cadeia de Benfica. Depois de quase três meses no presídio de Pinhais, em Curitiba, o ex-governador retornou ao Rio, na última quarta-feira, e foi direto para Bangu 8.
No dia seguinte, os advogados de Cabral oficializaram à Vara de Execuções Penais o pedido para mudança de presídio, sob o argumento de que Benfica é a sua cadeia de origem, preparada para receber presos da Operação Lava Jato. Eles disseram ainda que, ficando em Bangu 8, o ex-governador sofrerá retaliações de milicianos e ex-policiais que ajudou a punir.
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Mudança nas regras do que pode entrar no presídio
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'Sacudir' contratos com fornecedores e editar nova norma do que pode entrar ou não nas cadeias regra válida desde sexta-feira são metas cumpridas à risca para quebrar a imagem de falta de combate à corrupção no sistema penitenciário.
Nas unidades, estão vetados itens importados e iguarias, como camarão. No fim do ano passado, o Ministério Público flagrou diversos alimentos desta espécie nas celas de Cabral e de outros presos na cadeia de Benfica.
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Cada preso tem direito, por exemplo, a uma garrafa de refrigerante de 600 ml, pão na chapa com manteiga, biscoitos, bolo caseiro sem recheio, além de objetos de higiene, limpeza e produtos de uso pessoal.
Cabral e os mais de 50 mil presos estão autorizados a receber os produtos em sacolas de supermercado após a inspeção do material. "O tratamento tem que ser igual para todos os presos", justificou David Anthony.
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