Rio - Uma missa celebrada neste sábado na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no Centro do Rio, na data em que marca um mês do assassinato de Marielle Franco, reuniu amigos e parentes da vereadora do Psol. O pai de Marielle, seu Antônio Francisco da Silva, disse que tem sido difícil seguir adiante, mas as homenagens e o apoio de amigos têm ajudado a amenizar o sofrimento. "Calaram a voz da minha filha covardemente. Sempre vou dizer covardemente, porque não deram nenhuma chance de defesa para a minha filha. Então, eles foram muito covardes nesse ato", disse após a missa.
A mãe de Marielle, Marinete da Silva, falou sobre a angústia da espera pela elucidação do assassinato: “É duro. São 30 dias nessa espera, com a expectativa de que vai conseguir resolver de alguma maneira. Para mim, para a sociedade, para a família toda. A gente espera uma resposta porque não tem explicação para o que fizeram com a minha filha. Foi cruel. Acho que para todos que conheciam a história dela e para mim, como mãe, é muito difícil. Tem sido dias de muita dor e muito luto para a gente"
Para Marinete, o assassinato da filha além de ser cruel foi “macabro”. “Não se cogita em época nenhuma se enterrar filho e eu enterrei minha filha de uma maneira precoce, trágica e dolorosa demais pelo que fizeram”, disse.
As manifestações e homenagens que estão ocorrendo mundo a fora também são motivo de força para a família. "A gente tem se apegado muito a isso e é unir forças mesmo. Enquanto o mundo clamar, vamos esperar por uma resposta. A gente quer e precisa", disse Marinete ao ressaltar que confia no trabalho de investigação: "Eu confio muito no trabalho que está sendo feito e vou confiar sempre que eles vão resolver (o crime)".
Anielle Franco, irmã de Marielle, disse que as manifestações que tem ocorrido no Brasil e fora do país mostram que houve um reconhecimento do trabalho da irmã, embora infelizmente isso tenha ocorrido apenas após a morte dela. “A gente espera por justiça e a gente espera mais do que quem fez, mas quem mandou fazer. Queria muito saber, porque a pessoa arquitetou muito bem esse crime. Quem foi o autor intelectual desse crime e por quê? Ela dialogava tanto, porque não tentar o diálogo?”, questionou.
Anielle falou também sobre a falta que Marielle faz para a família. Ela contou que sua filha Mariah, de 2 anos, sempre pede para que ligue pelo celular para falar com a tia. “Ela era aquela que chegava, eu ficava realmente atrás dos panos e esperava ela decidir em alguns momentos. Vamos almoçar onde? A gente vai sair? Já marquei tudo, já reservei e a gente só ia na onda. Tem sido complicado. Ela, além de tudo, era uma amigona para quem eu ligava nos momentos desesperados da vida. A gente tem tentado juntar os cacos para tentar seguir a vida”, disse.
A irmã da vereadora disse que a família não pediu qualquer medida de proteção e nem tem intenção de sair da cidade ou do país, até mesmo porque não sabe a motivação do crime. “A gente não sabe de onde veio e não tem nem condição financeira de mudar a família toda. Eu tenho uma filha. A Luyara [filha de Marielle] passou agora para uma universidade pública. Como a gente pega e sai de um lugar, de uma cidade, de um país? Mas a gente não tem tido proteção nenhuma. Estamos mantendo a rotina normal, não sei se deveríamos, mas é o que estamos fazendo”.
A assessora que estava no carro com Marielle no momento do crime se mudou do país junto com a família.
Missa
A atriz Sophie Charlotte e o marido, o ator Daniel Oliveira, também acompanharam a missa e levaram o filho Otto. Para Sophie, a morte de Marielle não pode ficar esquecida. "Foi há um mês. Ainda não foi solucionado o caso. Os responsáveis ainda não foram encontrados e acho que nossa presença aqui também é uma maneira de mostrar que estamos atentos", disse.
A família de Anderson Gomes, que dirigia o carro em que a vereadora estava e morreu com três tiros nas costas não estava presente. Segundo Anielle os parentes do motorista estão em um retiro espiritual.