Rio - Após uma semana, familiares da estudante Patrícia Mitie Koike, de 22 anos — morta após ser asfixiada pelo namorado, o estudante de medicina Altamiro Lopes dos Santos Neto, de 21, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense — quebraram o silêncio e falaram com exclusividade ao DIA. Do Japão, o irmão de Patrícia, Lauro Hideki Koike, 18, afirmou que a estudante já vinha sofrendo ameaças de Altamiro e que, no ano passado, ela chegou a "pedir ajuda em um grupo de mulheres agredidas pelos companheiros". Por estar na Ásia há mais de um ano, a família de Patrícia não conseguiu vir a tempo de seu enterro, que aconteceu na última quinta-feira, no Cemitério Memorial Park, em Sorocaba, no interior de São Paulo.
Namorando há seis anos — desde o ensino médio — Patrícia e Altamiro decidiram sair de São Paulo e se mudaram para a Baixada, no final de 2017. Naquela ocasião, os pais e o único irmão de Patrícia já estavam no Japão há quase um ano. "Eles foram para lá (Nova Iguaçu) porque o sonho dela era fazer medicina e ele já estava cursando", contou Lauro. Segundo o estudante, a irmã conversava com os pais através das redes sociais. "Ela falava com a gente, assim, por mensagens. Raramente ela ligava pro meu pai e mesmo assim era por áudio no WhatsApp", lembra.
Segundo Lauro, nos últimos meses Patrícia teria começado a revelar as agressões que estava sofrendo. No entanto, não teria dito muita coisa por medo de Altamiro. "Tudo sempre foi muito sutil, a ponto de nós nunca suspeitarmos de muita coisa daqui do Japão. Somente depois do ocorrido fiquei sabendo da gravidade da situação. No ano passado, ela já chegou a pedir ajuda em um grupo de mulheres agredidas pelos companheiros (na internet). Eu fico desolado em saber que ela tentou de tudo, mas acabou sendo morta", relata Lauro.
Como o DIA mostrou, o laudo do Instituto Médico Legal (IML) de Nova Iguaçu apontou que os machucados no corpo da vítima não foram causados recentemente. A jovem tinha ferimentos na cabeça, no pescoço, nos braços e nas pernas. "Ela já sofria (as agressões) há algum tempo e poucos dias antes ela estava conversando normalmente comigo, pedindo fotos de passeio, jamais suspeitaria de nada", lamentou o único irmão de Patrícia. "Queremos que esse monstro pague pelo que ele fez. Esse cara não pode ficar impune", completou.
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) já sabe que um dos motivos das agressões de Altamiro contra Patrícia era a vontade da jovem de ir para o Japão morar com os pais. "Saber que ela bateu de frente com ele dizendo que ela queria vir pra cá, mesmo com as ameaças constantes, é uma dor insuportável", afirma Lauro.
"Ela era a minha única irmã. Minha mãe não tem condições de ir (ao Brasil). Ela está inconsolável. Meu pai pretende ir em breve resolver tudo", revela o estudante. Segundo ele, a morte da irmã foi informada por um tio que está no Brasil.
Na semana passada, a DHBF tentou ouvir Altamiro, mas o rapaz não falou nada. O suspeito passou por uma audiência de custódia e está na cadeia, onde aguardará o julgamento.
Relembre o caso
Exames constataram que a estudante Patricia Mitie Koike foi morta por asfixia. Antes de ser enforcada, ela também foi agredida pelo assassino. Namorado da vítima, o estudante de Medicina Altamiro Lopes dos Santos Neto, foi preso na terça-feira, em Nova Iguaçu, e é o único suspeito do crime. A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) investiga o crime.
Segundo Fábio Salvadoretti, delegado-adjunto da DHBF, o documento mostrou que os machucados no corpo vítima eram antigos. A jovem tinha ferimentos na cabeça, no pescoço, nos braços e nas pernas. "Eram lesões comuns. O laudo do IML mostrou que ele agredia sempre a vítima. Tinham hematomas recentes e outros não", afirmou o delegado.
Assim como afirmaram os médicos do Hospital da Posse, o laudo do Instituto Médico Legal (IML) confirmou que Patricia já estava sem vida quando Altamiro foi detido.
Altamiro foi preso enquanto dirigia com a vítima no banco do carona, em Nova Iguaçu. À Polícia Civil, ele admitiu que espancou a namorada e disse que estava tentando socorrê-la para o hospital. O suspeito teria lavado o cadáver da vítima, que tinha vários ferimentos na cabeça e em outras partes do corpo. No Hospital Geral de Nova Iguaçu, para onde foi levada, de acordo com a especializada, foi constatado que a jovem já estava morta "há muito tempo". O estudante foi autuado em flagrante por homicídio e ocultação do cadáver.
Investigadores suspeitam que ela foi mantida em cárcere privado, pelo menos, nos sete dias anteriores ao crime. Nesse período, ela teria sido agredida e dopada. Altamiro, em depoimento, disse que agrediu a namorada em uma briga iniciada após ela avisar que queria ir morar com familiares no Japão. A suspeita que ela tenha sido dopada surgiu após o relato da mãe de Altamiro, que também é médica. Ela contou que conversou com Patrícia momentos antes dela ser morta e desconfiou que a vítima estivesse dopada, pois "não falava palavras que faziam sentido".
O casal se relacionava desde a época do Ensino Médio em Sorocoba, em São Paulo. Quando Altamiro passou no vestibular para uma faculdade particular no Rio, insistiu para que a namorada viesse morar com ele em Nova Iguaçu e prometeu à família "cuidar dela". No depoimento, ele teria confirmado que os dois mantinham um "relacionamento conturbado".
Em depoimento à DHBF, os pais do rapaz disseram que o relacionamento de Altamiro e Patrícia era conturbado. Segundo os depoimentos, ambos já haviam se agredido antes e, há algum tempo, Altamiro disse a Patricia que a mataria ou cometeria suicídio se ela decidisse terminar o namoro.
“Pode ter tido uma briga, e isso motivou a agressão. Como teria acontecido dentro da casa, não existem testemunhas, e a princípio acreditamos que ele agiu sozinho”, contou Salvadoretti. O delegado pediu ajuda de moradores ao lado da residência do casal. "Peço a vizinhos que por ventura tenham ouvido algo: procurem a DHBF para relatar isso, é importante", salientou.