Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - A cabeleireira A.C.B., de 40 anos, imobilizou um homem após se sentir ameaçada por ele, na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca, Zona Norte do Rio, na manhã desta sexta-feira. As primeiras informações davam conta de que o homem estava armado com uma faca. No entanto, a mulher contou que ela foi abordada por um morador de rua no momento em que saía de uma agência do Itaú.

Assustada, ela teria deixado a bolsa cair e saiu correndo até o salão onde trabalha. Lá, pegou uma faca e voltou à agência onde o homem ainda estava. Ao chegar, ela o imobilizou e chamou a polícia. O caso foi levado para a Central de Garantias, na Cidade da Polícia, no Jacaré, onde o caso está sendo analisado pelo delegado Marcelo Carregosa.

"A história está confusa. Vou pedir câmeras para tentar entender o que aconteceu", explicou ele.

O local fica a 200 metros de onde Valdisa Mota de Souza, de 59 anos, foi morta numa tentativa de assalto há apenas três dias. Na última quinta-feira, 24 horas após o crime, na mesma rua, um homem foi baleado por bandidos em uma papelaria.

Segundo informações, a mulher reagiu quando o homem puxou a bolsa dela. Antes, porém, a vítima já havia dado R$ 5 a ele após ser ameaçada. Ela havia acabado de deixar a filha de 2 anos numa creche, na Avenida Maracanã. O marido dela, um motorista de 37 anos, contou que deixou as duas no local às 8h30. Apesar da Intervenção Federal, com Exército patrulhando as ruas da Tijuca, ele afirma que não se sente seguro.

"A Tijuca só piora. Quando vou levar minha filha fico morrendo de medo. Há dois anos, trabalhar nesse bairro é colocar nossa vida em risco. Todos sabem onde e quando acontecem os assaltos, mas ninguém faz nada", desabafou o motorista, que não aprovou a atitude da mulher. "Eu repreendo o que ela fez porque poderia ter acontecido o pior. Vou conversar com ela", disse.

Após prestar depoimento na Cidade da Polícia, no Jacaré, a vítima contou como tudo aconteceu.

“Eu entrei na parte dos caixas eletrônicos do Itaú, e ele (morador de rua) entrou também e começou a pedir dinheiro. Dei R$ 10, mas ele continuou pedindo mais, de forma agressiva. Quando fui dar mais, meu dinheiro caiu no chão, e o cara pegou e atravessou a rua”, disse a cabeleireira.

“Como trabalho perto, fui até lá, peguei uma faca e voltei, porque sabia onde ele estava. Uma pessoa que trabalha perto viu tudo e me ajudou a imobilizar o cara”, lembrou.

Durante o interrogatório na Central de Garantias, o marido da cabeleireira chegou a se irritar ao saber que o morador de rua seria liberado. “O Rio de Janeiro é uma cidades para o ladrão. Isso aqui não vai dar em nada. Somos contribuintes e não estamos conseguimos sobreviver”, criticou o motorista.

Em um determinado momento, ele chegou a pedir que a mulher deixasse o local e que não “perdesse tempo registando algo que não daria em nada”. “Daqui a pouco você vai ficar aí presa e o cara vai ser solto. Vamos embora. Quando ele esfaquear um, aí fica bonito”, disse ele para a mulher.

Há oito meses o casal saiu do Engenho Novo, onde tem um apartamento, por causa da violência, e mora no Andaraí pagando aluguel. Segundo o marido da vítima, bandidos disfarçados de técnicos em eletrodomésticos conseguiram entrar no prédio onde ele morava e levaram tudo do apartamento. "Nos mudamos por medo da violência e minha mulher é assaltada na Tijuca. Está difícil. Temos muito medo por nossa filha", contou.

Tijuca tem onda de assaltos mesmo com Exército patrulhando as ruas

Dois estabelecimentos comerciais tornaram-se alvos de criminosos em menos de 24 horas na Rua Conde de Bonfim, uma das principais da Tijuca.

Depois da tentativa de roubo à papelaria Kalunga, que terminou com uma mulher morta e um homem ferido na tarde de quarta-feira, uma unidade das Lojas Americanas foi assaltada por três bandidos por volta das 8h de ontem, um deles vestido com uniforme de gari. O trágico saldo de violência foi registrado mesmo com a atuação do Exército em patrulhamento no bairro há 17 dias.

Você pode gostar