Rio - A família do estudante de medicina Marcos Paulo Antunes Dias finalmente vai poder realizar o velório e sepultamento do filho, após mais de dois meses lutando para liberar o corpo na Argentina. Aos 21 anos, o jovem morreu no dia 4 de abril em Buenos Aires. Apenas nesta quarta-feira o corpo chegou ao Brasil. Além da implacável dor da perda, a família viveu 69 dias de um 'velório sem fim', nas palavras do pai de Marcos.
"A gente está num velório que parece que não acaba. Finalmente, vamos poder fechar um ciclo, entrar em luto. Até então não pudemos viver o luto, que vai começar a partir desta quinta-feira, com o velório", afirma Paulo Fernando, pai de Marcos.
Perseguindo o sonho de ser médico, Marcos Paulo saiu de São Gonçalo, onde morava. Ele vivia o seu primeiro dia na faculdade de medicina, em Buenos Aires, quando passou mal em sua residência, à noite, por causa de um problema no coração que ele desconhecia. Apesar de ter sido socorrido rapidamente, Marcos não resistiu e faleceu.
A Justiça argentina instaurou um processo por morte suspeita já que ele era jovem e aparentemente saudável, o que provocou a demora da liberação do corpo. A polícia investigou a hipótese da morte ter sido provocada por amigos que moravam com ele em uma república.
A família conta que o Itamaraty e a embaixada do Brasil em Buenos Aires mantiveram contato com a família, pedindo prioridade à Justiça argentina ao processo de Marcos Paulo.
O Itamaraty informou que o Consulado-geral do Brasil em Buenos Aires acompanhou diretamente o caso. "A repatriação consular manteve contato diário com a família do falecido, informando sobre o andamento do processo", afirmou. O Itamaraty acrescentou que as normativas legais argentinas para a repatriação de corpos nos casos de mortes como a de Marcos Paulo Antunes são bastante rígidas. "Foram feitos contatos em todas as instâncias das autoridades argentinas envolvidas, de modo a tornar o processo mais célere e logrou-se que o tema fosse tratado com prioridade", finalizou a nota.
O irmão de Marcos, Paulo Fernando Dias, conta que o apoio da embaixada foi intensificado, após a reportagem do DIA sobre o caso, em abril.
Apesar de a família elogiar a ajuda do Itamaraty, ela lamentou a ausência de ajuda financeira por parte do governo brasileiro. "É dolorido. Infelizmente, o governo brasileiro te dá um apoio na parte de documentação, mas a parte financeira fica toda por conta de família. Fomos pegos desprevenidos", lamenta o pai.
"Acabei de depositar na conta da funerária argentina R$ 19,6 mil pelo transporte do corpo", disse Paulo. Ele conta que os gastos totais são da ordem de 27 mil reais, incluindo custos com passagens para reconhecimento do corpo e com o jazigo. As despesas com o sepultamento serão cobertos por um seguro de vida. Para dar conta das despesas, a família precisou recorrer a um empréstimo bancário de 10 mil reais e da contribuição de amigos.
Sargento da Marinha, Paulo Fernando chegou a pedir ajuda da corporação. Enviou um comunicado com orçamento e documentações por meio da assistência social do Hospital Naval Marcílio Dias, onde trabalha. "Ninguém falou nada na Marinha, nem um 'sinto muito'. É como se estivessem se escondendo até que o problema fosse resolvido", criticou.
Impasse também com o INSS
A mãe de Marcos Paulo, Ana Maria dos Santos, precisou de tratamento psiquiátrico durante os mais de dois meses de processo de liberação do corpo por causa de uma depressão. A família luta no INSS para conseguir formalizar seu afastamento do trabalho. Funcionária do Hospital dos Servidores, ela já está há dois meses sem receber salário.
Paulo conta que o médico da perícia do instituto exigiu, além do atestado psiquiátrico, o atestado de óbito do rapaz, que só chegou nesta quarta-feira ao Brasil. O pedido de afastamento foi negado.
Após o pedido de posicionamento do instituto pela reportagem do DIA, Paulo Fernando informou que Ana Maria foi procurada pelo INSS e uma nova perícia já foi marcada para este mês.
O velório de Marcos Paulo será realizado nesta quinta-feira, a partir das 8 horas, no Memorial Parque Nicteroy, em São Gonçalo. O sepultamento está previsto para às 17 horas.
A reportagem entrou em contato com a Marinha e o INSS para um posicionamento e aguarda respostas.