Rio - "Eu sou pai do cabo Abraão, que faleceu aqui hoje. É só mais um Silva nesse estado em que a gente é governado por um fantoche. Interventores, cade vocês?", disse, aos prantos e muito abalado o pai do policial morto junto com a mulher, atingidos por um carro de bandidos em fuga em Caxias, na Baixada, na madrugada desta terça-feira. Sidnei Marcus, de 54 anos, fez duras críticas ao governo estadual e a falta de estrutura dada à PM. A sua nora estava grávida de dois meses.
"Governador, tire a bunda do sofá e pare de apreciar a tragédia alheia. Esse é mais um e vocês não vão fazer nada, porque amanhã terá mais um, e mais um (...) ele era um idealista, honesto e trabalhador, estava no dia de folga, curtindo. Trabalhava muito para levar o sustento para a família, fazia bico para conseguir algo mais. Sabe por que, governador? Porque você trata o policial como ninguém e os policiais vivem na miséria, governador", criticou o comerciante, que foi até a cena do crime.
"Vamos nos levantar, temos o poder e esse poder está sendo manipulado pelos políticos. Nossa Polícia Militar está sucateada, eles fazem o que podem para defender a gente. Hoje sou eu, mas amanhã pode ser qualquer um", defendeu.
O casal deixa uma filha de 9 anos e um menino de 3 anos, que era muito apegado ao pai. "Essa é mais uma desgraça que me atingiu, amanhã vai estar chegando em vocês (governador e interventor). Hoje chegou na minha família. Hoje terei que sepultar meu filho e minha nora. Vou ter que cuidar dos meus dois netos que ficaram órfãos. A minha maior dor aqui é que vou ter que ser frio para resolver essa situação. Tenho um neto de 3 anos para explicar o que aconteceu ao pai dele. O que vou dizer aos meus netos? Estou quebrado", falou.
O pai do cabo da PM, que mora em Rio das Ostras, disse que insistia ao filho para ele pedir a transferência para a cidade da Região dos Lagos. A mãe do policial está a base de remédios e a avó não sabe da morte do neto. "Ele era a paixão dela", disse.
Transtornado, ele disse que não sabe como será daqui para frente. "Hoje tenho que ir liberar o corpo e sepultá-lo junto com a minha nora. A minha vida acabou, meu primogênito morreu, meu grande amigo, meu grande filho. Minha vida hoje tomou outro sentido. Mesmo que o Brasil se torne um Éden, um paraíso, vou levar a dor de perder o filho até a sepultura", disse ele, que tem outro filho.
"Espero que as ONGs me procurem, estou aqui precisando ser abraçado por vocês que só defendem bandido. Mas não desejo isso para ninguém, nem para a mãe daquele bandido que está ali morto".
Além do casal, o motorista de um Kia Cerato e a mulher ficaram feridos, mas foram liberados do Hospital de Saracuruna. Eles estavam num carro atingido pelos criminosos. Um suspeito foi morto.