Rio - As manifestações de 2013 mostraram que as vozes das ruas ganharam eco nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Um recorte importante da história do país para entender as novas formas de mobilizações, os protestos que tiveram como principal ferramenta de aglutinação as redes sociais, são retratados com riquezas de detalhes e refinamento no livro 'Jornadas de Junho 5 anos depois', da jornalista Tiana Maciel Ellwanger. Leia Mais Mandantes da morte de Marielle seriam autoridades "A maior parte das pessoas nunca tinha ido às ruas para se manifestar. Então, foi um aprendizado democrático para a população. O direito a ter direitos", avalia a autora. Para garantir olhar apurado sobre o movimento, Tiana mergulhou em mais de três anos de pesquisa e mais de 600 fontes, entre livros, entrevistas e matérias de jornais. A jornalista também analisou mais de trinta horas de vídeos do canal da Mídia Ninja e 45 edições do Jornal Nacional, da Rede Globo. As manifestações, sem lideranças políticas, começaram a sacudir o país em junho de 2013. O aumento da tarifa do transporte foi a mola propulsora, mas a pauta de reivindicações cresceu com a violência policial, os altos investimentos em eventos esportivos, precariedade nos serviços públicos e a corrupção. Poderes ouvem o povo Durante o período em que as multidões erguiam bandeiras em praças, avenidas e ícones de poderes estatais, o Congresso, que funcionou até durante os jogos do Brasil na Copa das Confederações, aprovou a legislação que criou a delação premiada, esteio da Lava Jato. A Câmara dos Deputados instaurou o processo de cassação do deputado Natan Donadon (PMDB-RO), condenado por peculato e formação de quadrilha. Desde 1974, ele foi o primeiro parlamentar a ser preso por determinação do Supremo Tribunal Federal. "Lembro ainda do caso da menina Beatriz, de 12 anos, à época. Ela fez um abaixo-assinado virtual e conseguiu impedir que a Prefeitura do Rio demolisse a Escola Municipal Friedenreich, no Maracanã", assinala Tiana. Em 20 de junho de 2013, há a estimativa de que entre 1,5 milhão e 3 milhões de pessoas foram às ruas. No Rio, seriam trezentos mil. "Foi inédito e espontâneo. Ainda vamos descobrir outros legados", observa Tiana. O livro com 336 páginas é um convite para entender o impacto social do movimento envolvido na avalanche de notícias falsas que influenciam os rumos do Brasil e do mundo. Uma forma de refletir sobre o aqui e agora, as novas resistências, a comunicação e a democracia.