Rio - Em julho de 2017, após a imprensa revelar um atrito entre o então deputado Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o professor da rede estadual do Rio de Janeiro Pedro Mara, um dos acusados pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e do motorista Anderson Gomes, o sargento reformado da PM Ronnie Lessa realizou uma pesquisa para ter mais detalhes sobre o educador. Desde, então, a vida do educador mudou.
Após ter acesso às informações de que estava sendo vigiado pelo PM, Mara resolveu agir. E ele teve auxílio da Comissão de Educação e da Comissão de Direitos Humanos, ambas da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), para entrar em um protocolo de segurança. Agora, ele vai deixar o Rio de Janeiro para manter sua integridade física.
“Me sinto principalmente violentado. Amo o que eu faço, amo o meu trabalho. Foi uma luta para abrirmos turmas este ano. O sentimento é de tristeza e desesperança, as coincidências que estão acontecendo precisam ser explicadas para a sociedade. Temos uma crise política instaurada. E quanto mais se investiga, mas tem que ser explicado. Há uma nuvem de fumaça sobre a democracia”, diz o professor Pedro Mara, que é diretor Ciep 210, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
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Segundo o educador, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Sindicato dos Professores do Estado do Rio de Janeiro (Sepe) acompanham e dão suporte para que ele deixe o Rio de Janeiro temporariamente.
“Eu era o que menos tinha sentido de estar ali naquela lista. Sou sindicalista, diretor de escola eleito democraticamente. Apenas milito pela educação e nunca militei relativo a uma questão da milícia”, afirmou o professor, que prestou concurso para uma escola da Baixada Fluminense por querer mudar a realidade de jovens em idade escolar.
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“A cada dia disputamos alunos com a criminalidade. E esse exílio, ainda que temporário, e me frustra. Vivemos hoje a não garantia de ir e voltar do lugares em segurança. Sem que grupos criminosos estejam nos monitorando”, completou o professor, após ter conhecimento que seu nome consta no relatório de investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro por ter tido sua vida pesquisada e monitorada pelo sargento reformado da PM.
Pedro Mara disse que mesmo longe não vai deixar de pensar no melhor para o ensino fluminense. "Serei um preso sem grades daqui para a frente. Mas nunca vou deixar de lutar por um ensino de qualidade, uma escola pública melhor, nenhuma disciplina sem professor, e uma realidade escolar pautada pela liberdade e pluralidade”, finalizou o professor.
Procurado, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) informou que prefere não comentar o assunto.