Batoré e Gil: negócios iam do tráfico à encomenda de assassinatos  - Arquivo Pessoal e Divulgação / Disque Denúncia
Batoré e Gil: negócios iam do tráfico à encomenda de assassinatos Arquivo Pessoal e Divulgação / Disque Denúncia
Por O Dia
Rio - Nos mais de 10 anos em que chefiou o tráfico de drogas do Morro do Dendê, Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, de 40 anos, conseguiu montar um verdadeiro "exército" com cerca de 100 homens na comunidade da Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. Guarabu e alguns de seus principais aliados foram mortos durante uma operação da PM, no fim da madrugada desta quinta-feira. 
O "exército" que a quadrilha montou na comunidade era abastecido com vários fuzis, pistolas e muita munição. Eles chegaram a contar também com uma metralhadora Madsen, que assustava pelo tamanho, e tem capacidade para disparar até 550 tiros por minuto. A arma foi apreendida em uma operação realizada para prendê-los. O armamento mais encontrado na região é o fuzil AK-47, que dispara 650 tiros por minuto.
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Guarabu era um dos traficantes mais procurados do estado e estava foragido da Justiça há 15 anos. O Disque Denúncia oferecia uma das recompensas mais altas para a captura dele, R$ 30 mil. O DIA revelou, com exclusividade em janeiro, que o bandido possuía uma extensa rede de proteção, que incluía até policiais militares do 17º BPM (Ilha do Governador).
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Para se manter por tanto tempo no comando da região, além da propina paga a PMs, Guarabu tinha olheiros espalhados pela Ilha, que tem apenas um ponto de entrada por terra: a Ponte do Galeão. Cauteloso, ele também colocava olheiros em lajes de residências em ruas ao redor do Dendê.
De acordo com investigações da polícia, Guarabu fazia melhorias na comunidade para não ser denunciado pelos moradores. A quadrilha do traficante expandiu seus domínios até a Baía de Guanabara.
Gil (à esquerda) e Guarabu (à direita) - Arquivo Pessoal
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BRAÇO DIREITO
O domínio no bairro da Zona Norte do Rio foi conquistado ao lado do amigo de infância e braço direito Gilberto Coelho de Oliveira. Ele era gerente do tráfico do Dendê e também era procurado pelo Disque Denúncia. A denúncia pela sua captura era de R$ 2 mil.
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Segundo a polícia, Gil comandava os pontos de drogas no Dendê com bastante agressividade. O esquema montado por ele e Guarabu para manter o controle na região envolvia taxas, multas, fiscalização e punições a motoristas infratores. Com isso, eles extorquiam motoristas de vans e kombis, que tinham que pegar uma espécie de pedágio para circular na Ilha do Governador.
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Com isso, foi criada uma espécie de secretária de transporte do crime. Os motoristas chegavam a pagar mais de R$ 300 de comissão aos traficantes.
Carro onde estava Guarabu - Reprodução
SUBSTITUTO
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O ex-PM Antônio Eugênio de Souza Freitas, o Batoré, era apontado como o sucessor de Guarabu. Ele foi delegado por Guarabu como o responsável pelo núcleo da quadrilha dedicado à extorsão. Contra o traficante, havia um mandado de prisão em aberto por tráfico de drogas. O Disque Denúncia oferecia uma recompensa de R$ 1 mil para quem desse informações que levassem à sua captura.
Com atuação de Batoré, a quadrilha de Grarabu teria arrecadado R$ 27 milhões com extorsões semanais de motoristas de vans e kombis das 13 linhas que circulam na Ilha do Governador.
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Batoré foi preso pela primeira vez, pela antiga Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) em 2004, em Bonsucesso, na Zona Norte. No ano seguinte, ele acabou expulso da PM. Na ocasião de sua prisão, em flagrante, ele se preparava para entregar armas que seriam vendidas Guarabu.
Entre 2014 a 2015, Batoré chegou a usar uma cooperativa de fachada, a Shalon Fiel, para justificar e lavar o dinheiro das cobranças dos valores extorquidos dos motoristas de vans da região. A empresa foi fechada após policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) cumprirem um mandado de busca e apreensão no local, em 2015.
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Investigações também apontam que Batoré foi o responsável pelo incêndio de uma Kombi em frente ao Shopping Ilha Plaza, no dia 18 de agosto de 2014, como forma de intimidação a um motorista que se recusou a pagar a propina para a quadrilha.
Um dos carros atingidos pelos tiros - Reprodução


Batoré foi preso novamente em abril de 2017, junto com a irmã Marilene de Freitas, após um operação da Polícia Civil e do Ministério Público estadual (MPRJ). Após sua prisão, ele foi levado para o Presídio José Frederico Marques (Benfica) e depois transferido para o Complexo de Gericinó (Bangu).
Por ser considerado perigoso, a Justiça chegou a determinar a ida de Guarabu para o presídio federal de Catanduvas, no Paraná. Mas, depois de pouco mais de um mês, ele foi solto com sua irmã, após uma decisão do plantão judiciário. Mas em junho do mesmo ano, a liminar concedendo sua soltura foi cassada, quando ele foi novamente considerado foragido da Justiça.