O chefe do tráfico do Dendê se dizia 'evangélico' e chegou a tatuar 'Jesus Cristo' em seu braço direito - João Pina
O chefe do tráfico do Dendê se dizia 'evangélico' e chegou a tatuar 'Jesus Cristo' em seu braço direitoJoão Pina
Por RAFAEL NASCIMENTO e RAI AQUINO
Rio - O chefe do tráfico do Morro do Dendê, Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, de 40 anos, foi morto durante uma operação da PM, no fim da madrugada desta quinta-feira, na comunidade da Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. Guarabu era um dos traficantes mais procurados do estado e estava foragido da Justiça há 15 anos.
Além dele, um de seus principais aliados e amigo de infância Gilberto Coelho de Oliveira, o Gil, e o homem apontado como seu sucessor, o ex-PM Antônio Eugênio de Souza Freitas, o Batoré, também morreram.
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Outros dois integrantes da quadrilha foram mortos na ação: Paulo Cesar da Costa, o Piu; e Tiago Farias Costa, o Logan.
Gil (à esquerda) e Guarabu (à direita) - Arquivo Pessoal
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De acordo com a Polícia Militar, os traficantes estavam em dois carros (um Fiat Idea e um Nissan Sentra), quando atiraram contra agentes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq). Após os disparos, os cinco foram encontrados mortos. Um fuzil, quatro pistolas, granadas, radiotransmissores e drogas foram apreendidos.
Um sexto suspeito foi preso durante um confronto em outro ponto da comunidade. Com ele, que ainda não teve a identificação revelada, foi apreendida uma pistola.
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Além do BPChq, a ação também contOU com homens dos batalhões de Operações Policiais Especiais (Bope) e de Ação com Cães (BAC) e agentes do 17º BPM (Ilha do Governador).
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Os disparos na região foram ouvidos por volta das 5h30; confira um dos vídeos do momento!
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SUCESSÃO
Ao DIA, o secretário da Policia Militar, o coronel Rogério Figueiredo, disse que só foi possível chegar ao local onde os criminosos estavam após um trabalho de inteligência. De acordo com Figueiredo, a PM vai intensificar as investigações e a operação para evitar que uma nova liderança como Guarabu assuma a comunidade.
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Já o secretário da Polícia Civil, Marcus Vinícius Braga, informou que a secretaria tinha dezenas de mandados de prisão por crimes cometidos ao longo dos 15 anos que Guarabu chefiou com mãos de ferro o Dendê.
"Essa é o fim da impunidade do traficante mais procurado do Rio de Janeiro", destacou, ao DIA.
Antonio Eugenio de Souza Freitas, o Batoré - Arquivo Pessoal
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MAIS DE 10 MANDADOS DE PRISÃO
Da facção Terceiro Comando Puro (TCP), Guarabu tinha uma longa ficha criminal, com 13 mandados de prisão em aberto por vários crimes. Tráfico de drogas e homicídio qualificado eram apenas alguns deles. Ele já foi condenado quatro vezes por homicídio e tráfico e suas penas somadas passam de 100 anos.
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Em janeiro, o DIA revelou com exclusividade que Guarabu estava sendo investigado pelo assassinato de Rafael Carneiro da Silva Neto, em abril de 2013. Morador do Dendê, Rafael foi morto porque teria agredido e estuprado uma jovem com quem tinha um relacionamento na comunidade. Ele foi torturado e teve o corpo esquartejado e jogado na Baía de Guanabara.
Guarabu também é apontado como o mandante da morte do major Alan de Luna Freire, 40, em novembro do ano passado. O oficial era lotado no 17º BPM e foi assassinado a tiros de fuzil no Jardim Esplanada, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Carro onde estava Guarabu - Reprodução
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PROTEGIDO
Também em janeiro, o DIA revelou com exclusividade que Guarabu possuía uma extensa rede de proteção, que incluía militares do 17º BPM. Pelo menos 15 agentes da unidade repassavam informações ao traficante.
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Por isso, ele era considerado praticamente intocável pelas autoridades da Segurança Pública do Rio.
Operação acontece desde o fim desta madrugada - WhatsApp O DIA (21) 98762-8248

OLHEIROS
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Na Ilha do Governador, Guarabu também é conhecido como LG, Cebolinha, Lopes ou Jonhy Fernando. Ele passou a lucrar com a exploração da circulação de vans e kombis na região, que teriam que pagar mais de R$ 300 por motorista. O traficante também expandiu sua atuação com a venda de botijões de gás, TV a cabo clandestina e Internet.
De acordo com investigações da polícia, ele fazia melhorias na comunidade para não ser denunciado pelos moradores. A quadrilha expandiu seus domínios até a Baía de Guanabara.
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Para se manter no poder, além da propina paga a PMs, o traficante tinha olheiros espalhados pela Ilha, que tem apenas um ponto de entrada por terra: a Ponte do Galeão. Cauteloso, ele também colocava olheiros em lajes de residências em ruas ao redor do Dendê.
Material apreendido na ação - Divulgação / Polícia Militar
'EXÉRCITO'
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O traficante teria montado um "exército" e há, nos acessos à comunidade, bandidos que fazem a "contenção" de seus pontos de drogas.
O Disque Denúncia oferecia uma das maiores recompensas pagas pela entidade para localizá-lo: R$ 30 mil.
Recompensa para captura do traficante era de R$ 30 mil - Divulgação / Disque Denúncia