'Não foi bala perdida, foi execução', diz avô de jogador morto em Niterói
Cristóvão Brito diz que o neto foi vítima de "policiais despreparados", que segundo ele, deveriam ser desligados da corporação
Rio - O avô do jogador de futebol Dyogo Xavier Coutinho, de 16 anos, morto durante uma operação na comunidade da Grota, em São Francisco, em Niterói, na segunda-feira, diz que o neto foi atingido por uma bala de fuzil na cintura quando estava de costas. Cristóvão Brito diz que o neto foi vítima de policiais despreparados, que segundo ele, deveriam ser desligados da corporação.
"Ele estava descendo com a mochila nas costas. Em vez de chamarem ele, para ver o que tinha na bolsa, (o agente) atirou", diz Cristóvão. O motorista de ônibus conta que estava trabalhando e presenciou a morte do neto.
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"Vi o corpo e pensei: 'meu neto foi treinar agora, será que é meu neto?". Ao se aproximar de Dyogo, Cristóvão Brito conta que ouviu do policial que "seu filho era traficante". "Eu falei que meu filho não é traficante: 'abre a mochila dele que vai ver a chuteirinha dele e o dinheiro da passagem", lembra.
O tio do jogador, Mauro Fancisco, disse que no momento da morte, não havia traficantes nem confrontos na rua. "Todos (os traficantes) estavam escondidos. Só tinham moradores decentes na comunidade", conta. "Moradores testemunharam a execução feita por esses dois policiais covardes. Eles não podem estar dentro dessa corporação. Tinham que entregar a farda e pedir para serem presos", desabafa.
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O avô de Dyogo reclama de que o neto não foi revistado. "Meu filho não é traficante, é um garoto bonito, bem arrumado. Não custava nada o cara render, como um policial tem que fazer. Abria a bolsa e deixava o garoto ir embora", lamenta.
Agora, a família pede Justiça pela morte do jovem jogador. "Eu peço ao comandante do COE e ao governador: esses dois militares têm que ser expulsos, têm que entregar as fardas. Eles têm que pedir para serem presos. Estão fazendo covardia com nossos jovens", diz o tio da vítima, Mauro Francisco.
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Mauro Francisco acrescenta que não responsabiliza a corporação, mas critica operações sem planejamento. "Estamos sem chão por conta da incompetência desses militares. Não culpamos a corporação, mas tem soldados inexperientes e rudes que não sabem trabalhar com população humilde", critica.
Dyogo Xavier Coutinho é enterrado na tarde desta terça-feira no Cemitério São Francisco Xavier, em Charitas, também em Niterói.
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O América divulgou nota informando que recebeu com "imensa tristeza e perplexidade" a notícia da morte do jogador, que treinava no plantel de atletas da categoria sub-17 do clube. "Absolutamente entristecido, o América presta suas mais sinceras condolências aos familiares e amigos de Dyogo, mais uma vítima inocente de uma sociedade tão saturada de violência e agressividade", diz um trecho do texto divulgado na noite de segunda-feira.
A assessoria do governador Wilson Witzel disse na noite de segunda-feira que o governador não se pronunciaria sobre a morte.
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A Polícia Civil disse que a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) instaurou inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte de Dyogo Costa, na comunidade da Grota, em Niterói, na segunda-feira. O adolescente chegou a ser socorrido ao hospital, mas não resistiu. Familiares foram ouvidos e policiais militares também foram chamados para prestarem depoimento. "Diligências estão sendo realizadas e as investigações estão em andamento", diz a nota.
A Polícia Militar informou que após a operação, chegou ao conhecimento do COE que um segundo homem fora socorrido por moradores para uma unidade de saúde da região, vindo a óbito. A circunstância deste segundo caso de óbito será apurada pela Polícia Civil, como também no Inquérito Policial Militar instaurado pela Corporação.
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* Colaboraram Natasha Amaral e Adriano Araújo