A companheira de Raphael, a dona de casa Marcele Rodrigues, disse que ele fazia queixas sobre as condições de trabalho diariamente e tinha medo de que algo perigoso pudesse lhe acontecer.
"Ele falava que era uma profissão de alto risco, porque ele trabalhava dentro de um buraco colocando manilha e tinha risco de desabamento, até por conta desses dias que teve chuva e o solo ficou molhado. De duas semanas para cá ficou frequente, parece que ele estava sentindo que algo ia acontecer com ele", relatou Marcele.
Juntos há dois anos, Raphael queria se casar com a dona de casa, porque tinha medo de se acidentar no trabalho e deixar Marcele e a enteada de 4 anos desamparadas.
"Ele já vinha falando que estava com medo de acontecer um falecimento na vida dele e ele deixar eu e minha filha desamparadas. A última vez que eu o vi, ele me pediu os documentos para ele casar comigo, porque ele tinha medo de acontecer alguma coisa com ele."
Raphael era como um pai para sua enteada e a menina ainda não sabe que não voltará a vê-lo.
"Ele era tudo para mim, significava tudo para mim, fazia tudo para mim e para minha filha. Ele era tudo que a gente tinha. Minha filha não sabe ainda, eu não sei como contar para ela. Agora, o sentimento que fica é de perda, nada do que falarem, do que fizerem, vai suprir e trazer ele de volta", desabafou a dona de casa.
Amigo de infância de Douglas e primo de sua esposa, o motorista de aplicativo Diogo Hélcio, disse que a vítima reclamava das condições de trabalho, devido à profundidade do buraco onde trabalhava. Diogo relembrou do choque ao ver o corpo do operário no chão da obra.
"Quando chegamos no local da obra, nos deparamos com a cena dos dois caídos no chão, já fora do buraco e foi aquele baque, porque além dele ser esposo da minha prima, nós crescemos juntos, tínhamos uma amizade. Ele era uma pessoa trabalhadora, só queria o bem para a família dele", lamentou Diogo, que contou que sua prima ainda não sabe como reagir.
"Ela está em choque, destruída, não sabe o que fazer, como vai dar a notícia para a filha, ela só tem oito anos. Infelizmente, a gente já não sabe se quando sair para trabalhar, vai voltar para casa."
Os corpos das vítimas foram reconhecidos por familiares nesta quinta-feira no Instituto Médico Legal de Campo Grande, também na Zona Oeste, e uma representante da empresa acompanhou todo o processo. Os dois serão enterrados nesta sexta-feira, às 16h e 16h30, no Cemitério de Campo Grande.
A Fundação Rio-Águas também destacou que já notificou o Consórcio DPG Santa Cruz, responsável pela obra, para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido e segue acompanhando o caso que, inclusive, foi registrado na 36ª DP (Santa Cruz).