Por O Dia
Hérnia de disco, artrose e problemas na coluna já são dificuldades presentes no cotidiano das merendeiras da rede municipal do Rio. Agora, elas também temem o fantasma da contaminação por covid-19 nas escolas. A Justiça do Rio suspendeu, no sábado, liminar que proibia a reabertura de refeitórios nos colégios municipais, obtida pelo Sindicado Estadual de Profissionais da Educação (Sepe) em 16 de março. Entretanto, para as merendeiras da rede, a possibilidade de retorno assusta pela falta de estrutura.
"Dentro da cozinha, não tem como ter distanciamento entre as merendeiras. Geralmente, as cozinhas são apertadas e sem ventilação. Quando está tudo aceso, algumas cozinhas têm sensação térmica de 60 graus. Em todas as CREs (Coordenadoria Regional de Educação), tem muitas escolas com banheiros sem chuveiro e, normalmente, compartilhamos com as meninas da limpeza e até com entregadores de merenda", afirma uma merendeira da 2ª CRE (Lagoa).
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Para muitas, a rotina presencial começou com o retorno das equipes gestoras, em 10 de agosto, para realizarem a limpeza de refeitórios e cozinhas. A retomada de atividades nas cozinhas, todavia, pode ser inviável. De modo a atender das "regras de ouro" estabelecidas pela prefeitura, coordenadora da Regional 3 do Sepe, Cristiane Rodrigues, aponta que, mesmo com um terço do total de alunos, o trabalho das merendeiras seria praticamente dobrado, com direito a aumento dos turnos de refeições e redução de equipes devido a profissionais com comorbidades.
Diante da insegurança quanto à volta, fica o medo. "As merendeiras que retornaram estão psicologicamente abaladas porque acham que, de uma hora para outra, podem ter que voltar fazer a merenda sem condições sanitárias e de insumos. Elas não sabem se vão ter equipamento, e estão preocupadas com os alunos", lamenta a funcionária. Segundo ela, a Secretaria Municipal de Educação não apresentou de que forma será feito o rodízio e como será a carga horária de trabalho da categoria.
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Apesar da Justiça do Rio determinar que que refeitórios abram apenas na Fase 5 de reabertura, o Sepe se posicionou contrário à medida e deve recorrer da decisão ainda nesta semana. Para o sindicato, "essa decisão é insuficiente, pois, na esteira do que decidiu a assembleia on-line de profissionais de educação, considera qualquer retorno nesse momento precipitado, motivo pelo qual a categoria decidiu pela paralisação das atividades presenciais". A SME afirma que ainda não há data para o retorno das merendeiras que não há pressão sobre os funcionários para o retorno e que a retomada seria para garantir uma alimentação mais completa às crianças.

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Sofrimento nas cozinhas de escolas municipais precede a pandemia
O desgaste decorrente do trabalho interfere no bem estar de boa parte da categoria. Segundo Cristiane Rodrigues, coordenadora da Regional 3 do Sepe, cerca de 80% das merendeiras concursadas, ou seja, aproximadamente 1.600 pessoas, integram o grupo de risco ou tem alguma comorbidade. "É muito difícil encontrar uma merendeira que esteja em condições de trabalhar neste momento", comenta Cristiane.
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Nas redes sociais, diversas merendeiras desabafam sobre os 'calos', tendinite e outro problemas adquiridos no trabalho. "Eu vou fazer 20 anos de município, adquiri hérnias de disco, artrose e tendinite nos dois braços, três esporões, fibromialgia e por aí vai. Tudo adquirido na cozinha da escola, infelizmente", expõe uma funcionária. Outra afirma que foi readaptada há cinco anos por artrose e constantes dores na coluna, além de problemas no joelho. "Tenho 51 anos e entrei na rede em 1998, mas parece que sou uma velha, pois sempre vivo com dores", afirma.
Uma merendeira de 57 anos relata que entrou na rede em 2002 e foi readaptada em 2006 por ter desenvolvido hérnia de disco na cervical e na lombar pelo trabalho na cozinha. Ela também desenvolveu hipertensão e diabetes, em 2013. 
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