Bernardo Marins, 20 anos - Reprodução
Bernardo Marins, 20 anosReprodução
Por Beatriz Perez
Rio - O estudante de gastronomia Bernardo Marins, 20, se refere ao aniversário deste ano, na última terça-feira, como o pior da sua vida. O confeiteiro comprava os últimos ingredientes para seu próprio bolo comemorativo quando sofreu abordagens racistas ao ser perseguido e chamado de 'ladrãozinho' por um segurança do hipermercado Extra, em Alcântara, São Gonçalo, conforme denunciou em suas redes sociais.
Bernardo conta que se sentiu ainda mais humilhado depois que o gerente da unidade negou que a abordagem tenha sido motivada por racismo e defendeu o segurança, dizendo que o funcionário poderia ter "marcado a cara" do jovem, de outras passagens pelo mercado.
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Bernardo Marins, 20 anos Reprodução
Bernardo Marins recebe encomendas de bolos em página do Instagram Reprodução
Bernardo Marins relata racismo em dia que completou 20 anos Reprodução/ Facebook/ Estúdio Percepção
Bernardo Marins relata racismo em dia que completou 20 anos Reprodução/ Facebook
Bernardo Marins relata racismo em dia que completou 20 anos Reprodução/ Facebook
Bernardo Marins relata racismo em dia que completou 20 anos Reprodução/ Facebook
"Neste momento desabei. Pedi que me revistassem, mas não quiseram. Saí correndo e peguei um uber chorando muito. Parece que todo racismo que já vivi em minha vida caiu sobre mim naquele momento. A primeira coisa que fiz foi pintar o cabelo de preto. Pensei que o fato de eu estar loiro pudesse ter incrementado o racismo. O bolo ficou pronto quase na hora do parabéns. Não estava com ânimo de comemorar nada. Foi o pior aniversário da minha vida. Se não fosse o apoio da minha famíla, não sei como seria", desabafa.
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O jovem, que está amparado por advogados depois que o caso ganhou repercussão na internet, registrou o boletim de ocorrência na segunda-feira e tem depoimento marcado para a manhã de quarta-feira. De acordo com Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI), as investigações estão em andamento para apurar as circunstâncias do fato. Diligências são realizadas e testemunhas, chamadas para prestar depoimento.
Bernardo é formado em 'cake design' (decoração de bolos) e cursa a faculdade de gastronomia. O jovem está desempregado e, durante a pandemia, mantém uma página no Instagram na qual realiza encomendas de bolos. Morador do bairro de Galo Branco, em São Gonçalo, ele conta que não consegue cobrar o suficiente para obter margem de lucro. "Na minha região não tem como cobrar muito. Faço mais por gostar, por prazer, do que por sustento", explica. Bernardo pretende ainda cursar Nutrição e tem o sonho de compartilhar seu talento e ensinar outras pessoas a arte da decoração de bolos.
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Em sua denúncia, o jovem conta que o segurança o acompanhava pelo mercado, falando alto ao rádio, pedindo que a equipe conferisse se ele havia furtado algum produto. O homem ressaltava que o bolso dele estava cheio. "Minha tia estourou o cofrinho dela e me deu muita moeda. Como estou desempregado, não faria bolo. Meu bolso realmente estava muito cheio de moeda", conta.
O Extra informa que, tão logo tomou conhecimento sobre o ocorrido, no dia 19 de agosto, acionou imediatamente a loja de Alcântara, iniciando um processo interno de apuração. A empresa conseguiu contato com o cliente Bernardo no último dia 20 para se desculpar pela situação vivenciada por ele na loja e incluí-lo no processo de averiguação dos fatos.
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O supermercado diz que optou pelo afastamento temporário do funcionário citado pelo cliente. O Extra ressalta que não orienta os funcionários para qualquer tipo de atitude discriminatória ou desrespeitosa.
"Inclusive (a empresa) condena a mesma em seu Código de Ética e na política de diversidade e direitos humanos da rede. A empresa disponibiliza um canal para recebimento e apuração de denúncias que infrinjam o Código de Ética da Companhia e também participa da Coalização Empresarial pela Equidade Racial e de Gênero, que estimula a implementação de políticas e práticas empresariais no campo da diversidade. Desde 2017 tem uma agenda formativa sobre o tema. Em 2018 implantou um grupo interno de Afinidade de Equidade Racial, formado por colaboradores(as) negros(as) e não negros(as) comprometidos em construir com a empresa um ambiente de trabalho cada vez mais inclusivo e de promoção da equidade racial. Qualquer denúncia contrária a orientação e às políticas da cia sobre este tema, é rigorosamente apurada e, se comprovada a veracidade, são tomadas todas as providências necessárias", diz em nota.