A partir desta sexta-feira (05), bares e restaurantes terão suas atividades reduzidas e não poderão funcionar após às 17 horas, ficando permitido o atendimento de forma delivery. Quiosques, boates e vendedores ambulantes ficam proibidos de exercer suas atividades até 11 de março.
O gerente do restaurante Porto das Carnes, Fernando Martins, terá que adaptar o estabelecimento para reduzir o horário, que antes ficava aberto até 21h e agora realizará o atendimento até 17h.
“Se o poder público fiscalizar, eu acredito que vai conter bastante a transmissão do coronavírus. Agora, vai gerar um prejuízo para a gente. Por isso, a covid-19 precisa ser controlada para que tenhamos de imediato a nossa retomada das atividades. O sacrifício só vale a pena se as medidas tiverem êxito”, afirmou Fernando.
O que dizem os representantes dos Bares e Restaurantes
O Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio (SindRio) e a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) se manifestaram contrariamente à decisão da prefeitura. Ambas as entidades publicaram notas repudiando as medidas adotadas.
Para o presidente do SindRio, Fernando Blower, as medidas restritivas não vão surtir o efeito desejado apenas interferindo no funcionamento dos bares e restaurantes. Ele disse estar preocupado, mencionando que o setor está no limite de sua capacidade financeira.
“Se acreditássemos que isso faria diferença, seríamos os primeiros a apoiar integralmente. Mas sabemos que a única coisa que teremos é mais demissões, dívidas e quebra de empresas. Os bares e restaurantes estão abertos com as mesmas normas desde agosto do ano passado, nesse tempo a contaminação subiu, desceu e subiu novamente, sendo que as regras não mudaram. Isso mostra que não há correlação direta entre o funcionamento dos estabelecimentos e a oscilação da covid-19”, afirmou.
O presidente da Abrasel, Pedro Hermeto, publicou um vídeo declarando repúdio ao decreto de hoje restringindo o funcionamento de bares e restaurantes na cidade. Além disso, ele menciona que estuda a adoção de medidas judiciais para defender o setor e ações para responsabilizar o prefeito em caso de eventual prejuízo.
“O prefeito erra de uma maneira irresponsável ao nos eleger como vilões para a escalada dos indicadores da pandemia Brasil à fora. A notícia, sem aviso prévio, atinge o setor de maneira avassaladora”, afirmou Pedro.
Especialistas defendem a medida, mas afirmam que ela é insuficiente e apontam riscos
Especialistas procurados pelo DIA mencionam que a decisão de restringir as atividades é importante, mas o ideal é que as medidas fossem estendidas em até 14 dias. Além disso, elas reforçam que as ações são fundamentais para diminuir o número de óbitos e a taxa de ocupação dos leitos.
A pesquisadora Chrystina Barros, do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde, da UFRJ, defende que a ação é válida, mas que qualquer liberação antes de 14 dias é prematura. “As experiências no mundo mostram que o período mínimo ideal é de 14 dias. Porque existe um tempo entre a contaminação pelo vírus e a manifestação dos sintomas. As medidas mais restritivas não deixam de ser bem vindas, mas elas podem ser insuficientes”, afirmou.
Questionada pelo DIA sobre a diminuição recente do número de óbitos, ela ponderou que o Rio tem os piores indicadores do país e que essa redução não diminui a importância das medidas restritivas.
“É fato que o Rio de Janeiro tem em torno de 200 óbitos por cada 100 mil habitantes, enquanto São Paulo, que é o estado com o maior número de pessoas, tem em torno de 130 para cada 100 mil.O número acumulado mostra que o estado do Rio tem o pior indicador. Nós estamos dessincronizados do que está acontecendo no resto do país, mas infelizmente não há a certeza de que não tenhamos uma terceira onda ou uma sobreposição da segunda onda acontecendo por aqui”, concluiu.
Para a médica, geriatra e psiquiatra Roberta França, as medidas são necessárias. Ela alerta que a diminuição na média de óbitos não significa que o número de contaminados tenha diminuído, e menciona que o governo não está conseguindo controlar a pandemia.
“Por mais que as pessoas fiquem chateadas, essa é a nossa realidade. Se nós não tivermos medidas sérias neste momento, vamos voltar a pagar com cada vez mais vidas. É absolutamente necessária essas medidas até que efetivamente tenhamos uma vacinação em massa”, disse Roberta.
*Estagiário sob supervisão de Yuri Fernandes