DJ Mozai morava no Complexo da Penha, Zona Norte do RioArquivo pessoal

Por Beatriz Perez
Rio - Moisés Herculano da Silva Rocha, o DJ Mozai da Penha, foi absolvido nesta quarta-feira do processo em que era réu por associação e tráfico de drogas. A liberdade veio passado um ano e sete meses da tarde de domingo em que ele foi preso em um clube de Olaria, na Zona Norte do Rio, onde iria tocar. Contra o DJ, foram usadas fotos retiradas de seu Facebook, em que ele aparece com uma airsoft, arma de pressão usada em jogos.
A prisão de Moisés Herculano da Silva Rocha, 23, acontecia na semana em que o STF analisava o recurso de um pedido de Habeas Corpus de outro DJ da área, Rennan da Penha, que também estava preso.
Publicidade
Mozai era réu por associação e tráfico de drogas em um processo com mais de 20 pessoas do Complexo da Penha. Na audiência de julgamento desta quarta-feira, todos foram absolvidos. O juiz Rubens Casara considerou que havia fragilidade nas provas.  "Ouvidos em Juízo, os policias militares retrataram de forma superficial os fatos narrados na denúncia. Desse modo, a absolvição dos acusados é medida que se impõe", anotou o magistrado.
Publicidade
A absolvição foi atrasada em um ano. A audiência de ontem estava marcada para março do ano passado, quando eclodiou a pandemia da covid-19 no estado do Rio e a sessão precisou ser adiada.
No inquérito, as provas que apontavam que o DJ Mozai da Penha era associado ao tráfico e praticava tráfico de drogas eram baseadas em imagens recolhidas da conta do Facebook do DJ. São fotos em que Moisés posa com armas de airsoft, jogo desportivo em que participantes simulam operações policiais ou militares com armas de pressão.
Publicidade
Além das imagens, também servia como prova na denúncia a palavra de um policial militar, que relatou ter ouvido de um colega que Moisés já havia trocado tiros com ele em confronto, e que o jovem seria o responsável por abastecer 17 bocas de fumo da comunidade.
"Eles pegaram uma foto minha com uma arma de airsoft de 2014, dizendo que era de 2016, usando a foto como prova contra mim. Desfocaram a ponta da arma, que é abóbora e identifica que é um armamento elétrico de game, que é a famosa airsoft", conta o DJ. "O que mais me indignou foram o que falaram os policiais. Um falou que trocou tiro comigo, outro disse que eu abastecia 17 bocas de fumo do Complexo da Penha. Como eu fazia isso se nunca tinha ligação com o tráfico? Ganharam o que com isso?", questionou. 
Publicidade
Para Mozai sua prisão é fruto de uma perseguição ao Baile da Gaiola, que acontece no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio. "Eu acho que eu fui preso pela perseguição do Baile da Gaiola. Querem acabar com o baile na comunidade, vão lá e prendem o DJ. Quem bota o dinheiro no Baile da Gaiola, por exemplo, que eu comecei no carnaval de 2016, não é traficante nenhum. Eu mesmo tinha um som bom e comecei com barraqueiros, que vendiam a bebida. Eles querem botar tudo em cima do DJ em vez de ir atrás de quem é o culpado", critica.
O advogado de Moisés, Ednardo Mota, concorda que a prisão tenha sido motivada por perseguição ao funk. "Trata-se de uma perseguição política que busca criminalizar artistas populares. O funk principalmente. Os policiais deixaram claro na audiência que tinham a intenção de vincular o baile funk ao crime, que o evento não seria apenas para diversão", afirma.
Publicidade
Por ser do Complexo da Penha, o DJ ficou preso por nove meses na Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, conhecida como Bangu 3, para onde vão os chefes do Comando Vermelho. No dia 14 de maio do ano passado, Moisés conseguiu a liberdade provisória e agora foi absolvido do processo, que foi concluído. "Eu estou normal. Não aconteceu nada mais do que o certo, o merecido. Eu nunca deveria ter passado por isso. Estou mais aliviado porque estou livre de uma acusação falsa. Agora, não resta nada mais do que justo eu pedir indenização do estado. Passei por tudo isso e não provaram nada", afirma o DJ.
Moisés Herculano da Silva Rocha foi preso por policiais da UPP Fé Sereno no clube Olaria, na Zona Norte do Rio, no dia 25 de agosto de 2019. O DJ vinha sendo monitorado pelo serviço de inteligência da unidade. Ele chegou no evento para tocar e ao se apresentar para o suposto contratante do show, descobriu que tratava-se de um policial. "Me ligaram na sexta-feira me contratando para eu ir tocar no domingo, 12h. Quando cheguei lá não era festa nenhuma. Me apresentei pro suposto contratante e o cara apertou minha mão e me algemou. O outro já veio com a arma na minha cara. E perguntou 'cadê a droga", lembra o DJ.
Publicidade
Moisés foi levado para a 21ª DP (Bonsucesso), onde descobriu que tinha o mandado de prisão em aberto por tráfico e associação.
A PM disse que investigações não são responsabilidades da Polícia Militar e não se pronunciou. A reportagem procurou a Polícia Civil e aguarda retorno.