O coveiro Paulo Menezes pensou em desistir da profissão: era serralheiro. À dir, Roseli dos Santos acompanha enterro do marido
O coveiro Paulo Menezes pensou em desistir da profissão: era serralheiro. À dir, Roseli dos Santos acompanha enterro do maridoLuciano Belford/Agencia O Dia
Por Thuany Dossares
Trabalhando como coveiro há apenas 10 meses, Paulo Menezes, de 48 anos, achou na pandemia da Covid-19 a sua nova profissão, que por um instante ele chegou a pensar em desistir. Chegando a ver de perto uma média de 40 sepultamentos por dia, só de vítimas do coronavírus, no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio, onde trabalha, ele conta que é espantoso ver que o Brasil atingiu a marca de 300 mil pessoas mortas em decorrência do vírus.
“Comecei a trabalhar como coveiro no meio de uma pandemia mundial e não estava acostumado com isso, é uma vida completamente diferente da que eu fazia antes. Eu era serralheiro, trabalhava como autônomo, o trabalho foi ficando difícil e a porta que abriu foi aqui. Mas foi espantoso ver tanta gente morrendo da mesma doença, eu cheguei a conversar com a minha esposa que iria desistir. Cheguei aqui vendo cerca de 40 enterros de vítimas da Covid por dia, as vezes chegava a 45”, contou o coveiro.
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Lidando diariamente com os familiares das vítimas da Covid-19, Paulo diz que muitas vezes acaba sendo um ponto de desabafo de quem perdeu seus entes queridos por conta do vírus. Um dos casos que mais lhe chamou atenção foi um enterro que ele fez nesta quarta-feira, de uma mulher de apenas 37 anos.
“As pessoas procuram a gente para desabafar e contam quanto tempo o parente ficou internado, sem poder nem receber visitas. No início eu não tinha estruturas, agora já estou mais acostumado”, falou.
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Segundo o coveiro, o trabalho começou a diminuir no final de 2020, mas depois das festas de final de ano e do carnaval o número de enterros diários voltou a crescer. Ele critica as pessoas que não se protegem para tentar evitar o contágio do coronavírus.
“Tenho trabalhado muito. Depois das festas de final de ano, estamos de novo fazendo coisa de 15 a 20 enterros por dia de vítimas da Covid-19. Acho um absurdo alguém brincar com a situação, é brincar com a morte, com o sofrimento”, finalizou.
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“Meu marido está entre os 300 mil”
No dia em que o Brasil atingiu a triste marca de 300 mil pessoas mortas pelo coronavírus, a enfermeira Roseli dos Santos Delbões, de 66 anos, sepultou o seu marido, Gilson Rodrigues Delbões, de 67, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Norte do Rio.
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Ele não resistiu às complicações causadas pelo coronavírus e faleceu, na terça-feira, no Hospital Ronaldo Gazolla. Apenas ela e o sobrinho acompanharam o sepultamento.
“Ele estava internado desde o dia 12 e no dia 13 já foi entubado, quando foi ontem não resistiu. Éramos casados há 46 anos e enterrei o meu marido sem nem poder vê-lo. No hospital já não podia ver mais e agora tem que ser o caixão fechado. É uma despedida solitária. Estava falando com o meu sobrinho, antes quando íamos no enterro vinha um monte de gente para se despedir, agora nem isso pode”, desabafou.
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A enfermeira ainda conta que o vírus da Covid-19 entrou em sua casa. E em meio ao enterro do marido, ela se preocupa com a filha que está internada.
“As minhas duas filhas pegaram a Covid cuidando do pai, ajudando, levando ele para os lugares. E a que mais estava com ele agora está internada com covid. A COvid entrou na minha casa”, finalizou.