"Por mais que tenhamos nossa impressão pessoal do que vivemos, muitos desses momentos nos remetem a uma companhia especial. Portanto, por que não se manifestar se há alguma saudade batendo forte agora?"
"Por mais que tenhamos nossa impressão pessoal do que vivemos, muitos desses momentos nos remetem a uma companhia especial. Portanto, por que não se manifestar se há alguma saudade batendo forte agora?"Arte: Kiko
Por ANA CARLA GOMES
Por aqui, já estamos acostumados a apressar nossas contas com o Leão, aquele mesmo do Imposto de Renda, nesta época do ano. Temos uma data certa para listar nossos ganhos, despesas e pagamentos de tributos. Há, no entanto, outros valores muito essenciais que não precisam de nenhum prazo específico no calendário para serem declarados. Aliás, o melhor é que sejam revelados espontaneamente, a qualquer momento. A eles, damos o nome de saudades.
Existem aquelas mais arrebatadoras, que apertam o coração da gente. E outras mais fáceis de lidarmos. Perguntei recentemente a amigos e conhecidos quais são os nomes das suas saudades. Antes, declarei as minhas. Comecei a lista por roda de samba, em especial o caloroso 'Samba do Trabalhador', comandado pelo mestre Moacyr Luz, no Clube Renascença, no Andaraí. Segui com a Mureta da Urca, que me remete imediatamente à minha amiga Camilla e sua capacidade mágica de transformar o meu astral, numa tarde naquele lugar. E terminei com a palavra "show". O espetáculo carrega o encanto de unir pessoas desconhecidas, mas que descobrem uma sintonia ao entoarem o mesmo refrão.
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E assim, os nomes de tantas outras saudades foram surgindo através dos relatos que recebi. Algumas denunciavam as origens de seus donos, como o desejo do poeta paraibano Kermerson Dias de estar no São João de Campina Grande. Ou da baiana de comer caranguejo, do tijucano de estar no Maracanã e da mineira de voltar à sua Belo Horizonte.
Outras respostas me levaram ao passado de menina, como a amiga que me lembrou da nossa adolescência na Região dos Lagos. "Era uma época que podíamos aproveitar com mais segurança e simplicidade. Maquiagem para sair? Unhas pintadas na praia? Não me lembro disso. Top, short jeans e tênis eram as nossas marcas. Que alegria!", contou-me. Já a Débora, minha professora de pilates, retornou à época de menina para falar dos passeios com o pai na Quinta da Boa Vista.
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Muitos elegeram como saudade um dos gestos que mais nos têm feito falta: o abraço. Outros tantos falaram em viagens e também em cinema. Aliás, a sensação de ver um filme no telão é indescritível. Parece que embarcamos para valer na história com o cenário se agigantando à nossa frente. Barzinho ou almoço com amigos, bloco de Carnaval, praia... As saudades são infinitas e declará-las é um belo exercício. Por mais que tenhamos nossa impressão pessoal do que vivemos, muitos desses momentos nos remetem a uma companhia especial. Portanto, por que não se manifestar se há alguma saudade batendo forte agora?