Médicos estão preocupados com a falta de medicamentos para intubação
Médicos estão preocupados com a falta de medicamentos para intubaçãoDaniel Castelo Branco
Por Karen Rodrigues*
Rio - O estado do Rio de Janeiro passa por um momento crítico diante da pandemia da covid-19. A falta de sedativos e bloqueadores neuromusculares para manutenção dos pacientes em ventilação mecânica nas unidades de saúde, o chamado kit intubação, preocupa os médicos intensivistas. Segundo especialistas, caso o paciente não receba a quantidade exata de sedativo para manter a intubação, o quadro clínico pode agravar e até levar à morte.
"Está tudo em falta, não tem um medicamento em estoque, em todas as unidades, inclusive particulares. Para intubação, a gente consegue intubar o paciente com pouca medicação, mas praticamente todos os casos graves precisam totalmente de sedação e para deixar o paciente totalmente sedado precisa de mais medicação. Se o paciente fica mal sedado, isso piora o quadro do paciente, porque ele fica acordado e 'brigando' com o ventilador. Ele não oxigena o sangue da forma correta", explicou o médico generalista e diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Pedro Archer.
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O especialista em terapia intensiva e diretor da terapia intensiva da Rede Hospital Casa, Ricardo Eiras, disse ao DIA que as unidades de saúde estão tendo que improvisar e recorrer a um Plano C devido à falta de insumos.
"Os pacientes de covid-19 são de sedação difícil e usam doses maiores que as habituais. Temos várias opções para sedação, claro que tem opções melhores e piores, mas sempre há um Plano B. Mas temos hospitais realmente passando muita dificuldade nesse ponto. Muitos já usaram Plano C e realmente estão improvisando de forma muito inadequada e deixando o paciente em risco, até serem reabastecidos", disse.
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De acordo com Eiras, apesar da falta de medicamentos para a intubação, os pacientes não podem ser extubados pois dependem do respirador para sobreviverem.
"(Os hospitais) Estão usando sedação não adequada e os pacientes ficam contidos no leito muito desconfortáveis. É uma situação desastrosa. Felizmente na rede que atuo racionalizamos o uso e estamos conseguindo resolver muito bem, mas a rede pública está sofrendo com isso. O governo já deveria estar importando esses insumos, porque na primeira onda já houve falta. Têm hospitais privados já importando".
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A advogada e consultora jurídica, Cristiane Saredo, afirma que manter pacientes intubados sem sedativos apropriados viola o artigo 5º, incido III da Constituição Federal de 1988.
"O Estado tem obrigação de garantir o acesso adequado à saúde e claro, aos tratamentos pertinentes. A Constituição em seu artigo 6° garante os direitos sociais e um deles é o direito à saúde. Esta é uma obrigação de todos os entes da federação. Além disso, a Constituição, no artigo 5°, inciso III garante a todos o direito fundamental de não ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante", explicou a especialista.
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Pedro Archer entende a dificuldade que o estado está passando para conseguir medicamentos. "Cada secretaria tem uma logística diferente de compra de medicamento, mas está faltando no mercado nacional brasileiro e no mundial também. Tem a procura também, o mercado acaba aumentando o preço desses medicamentos. O medicamento que antes custava 10 reais, agora está custando R$ 100".
Entrega de medicamentos
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A Secretaria de Estado de Saúde (SES), por meio da Superintendência de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (SAFIE), realizou, na última quinta-feira (15), a entrega de medicamentos que compõe o 'kit intubação' a municípios e hospitais que atendem pacientes em tratamento de covid-19. Dessas, 36 receberam anestésicos e bloqueadores musculares para compor o estoque de medicamentos para o período estimado de sete dias de atendimento.
A SES aderiu a uma ata do Ministério da Saúde (MS) para aquisição dos medicamentos e realiza um processo de compra para suprir a necessidade do estado nos próximos três meses.
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A secretaria fez ainda um pedido de aditivo de 50% nesse contrato para receber mais medicamentos e já obteve duas respostas positivas. A medicação que foi distribuída, nesta quinta-feira (15), para 55 hospitais do estado foi comprada por meio dessa aquisição feita pela SES. Nesta quinta-feira, a SES recebeu mais um lote de medicamento, como parte da aquisição feita pela secretaria.
*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes