Ocorrências de roubo a carga no Estado do Rio são frequentes.
Ocorrências de roubo a carga no Estado do Rio são frequentes.Severino Silva/Agência O Dia
Por Lucas Cardoso
Um levantamento feito pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) revela que a pandemia do coronavírus não interferiu na queda de indicadores de violência no estado em 2020. Antecipado com exclusividade ao DIA, o estudo aponta que os números de homicídios dolosos, roubos de carga e roubos de veículo ficaram dentro de uma projeção de queda já esperada para o ano pelos pesquisadores. De acordo com o ISP, o resultado revela que não foi o distanciamento social que impactou nos indicadores, mas sim o emprego de políticas de segurança pública.

Com queda de 33% no ano passado, o roubo de cargas foi uma das modalidades que apresentou uma variação pouco significativa de redução nos meses subsequentes ao início do isolamento. O mesmo aconteceu com o índice de homicídios dolosos, que registrou queda de 12% em 2020, quando comparado com o ano anterior.

Segundo os analistas do ISP, a única modalidade que apresentou uma variação abaixo do projetado foi a de roubo de veículo. O resultado ocorreu nos dois primeiros meses após a decretação do estado de emergência, em março. Porém, em junho do ano passado, o número voltou a se encaixar com a tendência projetada.

A conclusão sobre os efeitos da pandemia nos índices foi obtida a partir de um modelo de comparação elaborado pelos pesquisadores. "Nós desenvolvemos um modelo comparativo que avaliou qual seria a tendência daquele delito de março a outubro de 2020, e qual foi o seu comportamento naquele ano. Tudo isso levando em consideração a série histórica do ISP. Para dar mais confiança, consideramos dois intervalos de 80% e 95%, o que deu margem de segurança para as variações. E, para acompanhar o nível de isolamento social, utilizamos o Google, que monitora o histórico de localização dos usuários", explicou a diretora-presidente do ISP, Marcela Ortiz.

Ainda segundo Ortiz, o levantamento também considera as curvas de redução que algumas modalidades já vinham apresentando nos últimos anos. Foi o caso do roubo de cargas, que já apresenta queda desde 2018.
Para o secretário secretário de Estado de Polícia Militar, Rogério Figueredo de Lacerda, os números refletem o foco da corporação na redução dos crimes e seguem dois eixos de trabalho.
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"O primeiro eixo, no caso específico da Corporação, foi a intensificação do policiamento preventivo e ostensivo planejado a partir da leitura da mancha criminal, priorizando vias expressas, corredores estruturais e rodovias. O segundo eixo é valorização cada vez mais intensa e estruturada com as demais forças de segurança do estado, como a Polícia Civil e a Secretaria de Administração Penitenciária, e também com órgãos federais", pontuou o secretário.

Menos crimes de oportunidade

Diferente das modalidades citadas, os crimes de oportunidade, que incluem roubo a transeuntes e de celular, foram impactados diretamente pela menor circulação de pessoas durante a pandemia. Segundo o estudo, de março a junho do ano passado, quando as medidas restritivas foram mais rígidas, a média semanal de casos que era de 1.803 casos antes da pandemia caiu para 810. O número de casos só voltou a subir quando as restrições foram afrouxadas pelas autoridade.
Em outros países

A queda dos crimes desse perfil durante a pandemia não foram exclusividade do Rio. Um estudo realizado por David Abrams, nos Estado Unidos, sobre as 25 maiores cidades do país, observou reduções de roubos além do previsto e não encontrou efeitos sobre os homicídios. Também foram feitos estudos parecidos na Austrália e Canadá.