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Ladrões de caixas eletrônicos substituem dinamite por lança térmica
Policiais de Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) investigam os casos e prenderam um dos especialistas em manusear o equipamento
Por Thuany Dossares
Uma nova ferramenta usada por assaltantes de instituições bancárias tem chamado atenção de investigadores da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF). Se antes as explosões a banco e caixas eletrônicos eram realizados com dinamite, agora também são cometidos com o uso de lança térmica, um objeto que custa cerca de R$ 5 mil e é usado em navios para cortar concreto e aço.
De acordo com o delegado titular da DRF, Gustavo Castro, para usar o equipamento, o criminoso precisa ter grande conhecimento de mecânica e explosivos, pois a lança pode alcançar 1000ºC de temperatura, aproximadamente. Um dos especialistas dessas quadrilhas de assalto a banco, que manuseava a ferramenta para abrir caixas, era André Marques Gullo, conhecido como Rosca ou Jiboia, preso na segunda-feira.
"Essas quadrilhas sempre buscam ter integrantes com mão de obra especializada, gente que mexa com mecânica, explosivos, com corte de materiais como metal e ferro. Manusear a lança térmica é uma habilidade que requer uma especialização metalúrgica. Ela parece uma lança mesmo, uma espada que acende e fica numa temperatura altíssima e derrete concreto, que nem manteiga, corta tudo", explicou o delegado.
Castro ainda conta que, atualmente, as organizações criminosas mais profissionais têm evitado usar os explosivos.
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"Explodir, hoje, chama muita atenção, faz muito barulho, danifica muito a loja e a maioria dos caixas eletrônicos já são mais reforçados para não abrir com explosão", disse.
Além de ter a habilidade para usar a lança térmica, Rosca também sabe montar explosivos e é mecânico e piloto de lancha, meio de transporte utilizado pelas quadrilhas para fuga, em algumas ocasiões.
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"Quem entende desse meandro de ataques a banco sabe que ele é um cara bem importante, bem relevante. Vai buscar explosivo, mexe com o explosivo, roscas de boia, são coisas que indicam que ele é um cara bem especializado. Ele é quem sabe a abrir um caixa eletrônico e exerce a principal função no roubo, além de pilotar e ser mecânico de lanchas", explicou o delegado.
Segundo a especializada, a média mensal de sinistros de caixas eletrônicos diminuiu no Estado do Rio. No ano passado, a especializada contabilizou 59 casos, incluindo tentativas frustradas, o que significa uma média de 4,91 crimes por mês. Já este ano, até o quinta-feira, foram registrados 11 sinistros, média mensal de 2,75.
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Conexões com São Paulo e ligação com o tráfico
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De acordo com a Polícia Civil, Rosca atuava de forma independente mas com grandes articulações no universo do crime. Para participar das duas explosões aos bancos Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, em Paraty, na Costa Verde, em março de 2018, por exemplo, Rosca fechou negócios até fora do estado.
Segundo as investigações, ele viajou até Aparecida do Norte, em São Paulo, para buscar os explosivos com um criminoso, identificado como Adenilson, que vinha de Santos, no litoral paulista.
Além disso, Rosca também tinha relação com lideranças do tráfico da região, ligadas ao Comando Vermelho (CV), como Willemsen Luiz da Silva, o Vidigal ou Serrinha, que está foragido, e Elmo Silva Lopes Junior, o Juninho Nazaré, que está preso. Os traficantes, inclusive, o ajudaram no ataque aos bancos de Paraty.
"Esse ataque de 2018 contou com a participação de vários integrantes do tráfico. Essa ligação era para prestar segurança, de tudo. Desde a chegada ao local, com olheiros vigiando se tem viatura chegando, se comunicando com rádios comunicadores, que é uma estrutura que o tráfico já tem, e também em armamentos, para caso haja confronto. E o lucro do roubo já é previamente acertado", esclareceu Gustavo Castro.
Segundo a DRF, Rosca também participou de cinco ataques a caixas eletrônicos, em Angra dos Reis, e dois contra cofres fortes do Banco do Brasil, em Paraty, em 2016. Na ocasião, a polícia o classificou como alguém que "possui conhecimento de maquinário e de explosivos. Auxiliou na colocação dos explosivos. Também foi o responsável por pilotar embarcação para levar os elementos ao lugar do crime, bem como dar fuga àqueles".
Rosca ainda é suspeito de participar de um roubo a banco em Angra dos Reis, em fevereiro, quando houve intenso confronto pelas ruas da cidade e parte dos bandidos fugiram a bordo de uma lancha.
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Média de ataques a caixas eletrônicos diminuiu
De acordo com um levantamento da DRF, a média mensal de sinistros de caixas eletrônicos diminuiu no Estado do Rio, de 2020 para 2021. No ano passado, a especializada contabilizou 59 casos, incluindo tentativas frustradas, o que significa uma média de 4,91 crimes por mês. Já este ano, até o quinta-feira, foram registrados 11 sinistros, o que significa 2,75 casos por mês.
Entre os responsáveis por esse tipo de atentado, estava Fellipe Azevedo de Figueiredo, o Iraque, que foi preso pela DRF, na terça-feira, um dia depois da prisão de Rosca. Ele é apontado como integrante de uma quadrilha ligada a criminosos do Estado de Santa Catarina, especializados em ataques a caixas eletrônicos.
O grupo dele foi identificado em diversos furtos desse tipo no Rio, dentre eles, episódios na Universidade Federal Fluminense (UFF), na Fiocruz, na Universidade Católica de Petrópolis, e em caixas eletrônicos de Cachoeira de Macacu.
"A quadrilha do Iraque era mais discreta que a do Rosca, escolhiam locais menos movimentados. Ele, especificamente, participava na parte logística, recebendo os comparsas dos outros estados e os ajudando aqui no Rio", finalizou Gustavo Castro.
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